Vítor Aleixo: “O papel da memória é sobretudo em primeiro lugar um papel pedagógico”

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Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, no âmbito do ciclo dedicado a assinalar os 50 anos do golpe militar do Chile em Loulé

Enquanto cidadão, e também enquanto autarca, qual é a importância de receber este ciclo sobre os 50 anos do Golpe Militar do Chile e de escutar testemunhos que acabámos de ouvir?

É de facto um momento bastante profundo porque é impossível não sentirmos o peso de todos aqueles acontecimentos históricos depois de ter ouvido as duas partes desta manhã aqui. Para mim é muito importante acolher, como autarca e como membro da Casa da América Latina, porque se há coisas que eu acho que são importantes hoje nas sociedades em que vivemos é, de facto, cultivar a memória, cultivar a memória em toda a sua latitude, aqueles momentos em que a humanidade se confrontou com situações limite, situações dramáticas. E tudo aquilo que aqui ouvimos não pode deixar de impressionar-nos. E, portanto, como sei que estes momentos são hoje cada vez mais raros, eu sinto-me feliz por acolher este encontro aqui. Felizmente ainda há muita gente que sabe que é importante transmitir aos mais novos a sua experiência, as suas vivências, sejam elas mais afastadas, como foi a minha vivência em relação à experiência da democracia chilena e depois ao seu fim dramático com o golpe militar, sejam elas vividas na primeira pessoa como os testemunhos que ouvimos aqui. Portanto, tudo isso é muito importante e tudo isso nós devemos em todos os lados sempre que possível lembrar. Acho que o exercício da memória faz-nos muita, muita, muita falta hoje em dia, até para podermos olhar para o futuro com esperança.

Parece-lhe que este debate aprofundado sobre o que foi o passado do Chile há 50 anos, aquilo que aconteceu e que foi possível acontecer, é também importante no presente para precisamente, e foi um dos temas que se discutiu aqui, prevenir as autocracias, as ditaduras, e estes movimentos que apesar de tudo vão aparecendo?

Eu não sei se é suficiente, agora que é necessário, é. Cada vez mais é difícil antecipar o futuro. Vivemos num mundo tão volátil, tão surpreendente, nas coisas boas e nas coisas muito más que acontecem todos os dias.

É pessoalmente uma visão pessimista em relação ao futuro. Mas ali ouvimos palavras de otimismo, o que é extraordinário. Pessoas que viveram as experiências limite que viveram, enfim, coisas tão dolorosas, tão difíceis. Mas a verdade é que ouvimos testemunhos de esperança, o que é extraordinário.

Então qual seria o papel da memória? Qual é o papel da memória nos dias de hoje?

O papel da memória é sobretudo em primeiro lugar um papel pedagógico. Saber que em qualquer momento a vida pode surpreendermos com coisas boas ou com coisas muito negativas, terríveis. Agora, o que a mim me parece também, como pessoa que pertence a uma geração que viveu intensamente esses processos de democratização, processos revolucionários com muitas utopias, o que me parece hoje é que os meios de controlo da consciência das pessoas, das suas opiniões, dos seus valores estão tão refinados, tão sofisticados, que parece-me que vivemos numa prisão sem saída.

É mais pessimista do que os intervenientes destes painéis, não é?

É verdade, paradoxalmente sim, sou muito pessimista em relação ao futuro.


Entrevista realizada por Raquel Marinho

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