Deborah Holz: “queremos publicar poetas jovens, livros «estranhos»”
Etiquetas: Associação de Editoras Mexicanas Independentes, Deborah Holz, Edições Trilce, Entrevista, México
___________________________________________________________________________________A diretora das Edições Trilce (México) e fundadora da Associação de Editoras Mexicanas Independentes, Deborah Holtz, visitou a Casa da América Latina, tendo reunido com a sua secretária-geral, Manuela Júdice, e vários representantes de editoras portuguesas, a propósito da participação portuguesa na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL) 2018.
Esta é a sua primeira visita a Portugal, sendo que o objetivo da mesma passa por tomar contacto com o meio editorial português. Que perceção tem tido do mesmo nas visitas que tem realizado desde o início da semana?
Não quero sair de Portugal. Estou deslumbrada com a beleza e a simpatia das pessoas. Vim em trabalho, pelo que não vou poder conhecer realmente Lisboa nem os arredores, mas estou muito agradecida à possibilidade de conhecer os editores, porque me estão a dar a possibilidade de partilhar com outros editores no México como podemos dar a conhecer a literatura portuguesa contemporânea e clássica durante a FIL, dedicada a Portugal em 2018.
É fundadora da Associação de Editoras Mexicanas Independentes. Na Casa da América Latina teve oportunidade de contactar com editores portugueses. Qual o balanço desta reunião?
Já conhecia outras editoras independentes de pequena dimensão que não estiveram aqui, que conheci em Frankfurt por exemplo, como é o caso do Orfeu Negro – a qual considero ser uma das melhores editoras infantis do mundo, conheço também a Pato Lógico, conheci a Planeta Tangerina. Através do que vi apercebi-me de uma tremenda força na ilustração, genial mesmo, que me interessa muito. Estou ainda em fase de conhecimento das editoras portuguesas, mas creio que este encontro vai servir para que os portugueses conheçam as editoras independentes mexicanas e vice-versa. É um contacto direto muito importante, que geralmente não sucede. É uma reunião chave, porque desta forma podemos ter um bom contacto. Acima de tudo, ter a possibilidade de ter fisicamente os editores a falar sobre os seus livros. Agora, vou regressar ao meu departamento para comunicar todas as orientações que estipulámos aqui.
Como jornalista e formada em Ciência Política, terá certamente uma opinião sobre como os governos podem incentivar a edição e a tradução. Qual a importância de eventos como a FIL 2018 para a proximidade entre países e culturas?
O primeiro a fazer seria uma rota aérea entre México e Lisboa. Não é possível que ainda não exista um voo para Portugal! Acredito que a Secretaria de Turismo de Portugal trabalhará com a Dra. Manuela Júdice, e que ela certamente os vai convencer a inaugurar esta rota. Seria importantíssimo para a feira de Guadalajara que isso acontecesse, porque tornaria a viagem muito mais fácil, sem necessidade de passar por Madrid. Esta poderia ser uma boa oportunidade para nos pôr em contacto, porque o que se sabe de Portugal no México é muito pouco. Conhecemos Pessoa e Saramago, como em todo o mundo, mas fora disso, existe pouco conhecimento da cultura portuguesa. E, mesmo a nível político, temos um acompanhamento muito superficial do que aqui se passa, sendo esta, sem dúvida uma grande oportunidade para estabelecer um laço que não existe ainda.
A Edições Trilce é uma das editoras mais vanguardistas do México e tem como foco a cultura. Quer resumir um pouco do que é o propósito da mesma?
Fazemos livros de poesia, entre os quais já publicamos autores como Nuno Júdice e Adília Lopes. De Nuno Júdice publicámos Teoria Geral do Sentimento, em 2001, e Adília Lopes publicámos em 1998 – há muitos anos portanto. Queremos publicar mais poetas portugueses. Esta reunião foi importante para saber que existem poetas contemporâneos que vale a pena publicar. Por outro lado, publicamos também livros de gastronomia – existe o interesse em publicar livros de gastronomia portuguesa, de uma forma muito jovem (não o típico livro de receitas). Fazemos também livros de arte, que planeamos desde o zero. Não publicamos narrativa (nem novela nem conto), mas publicamos coleções para crianças, coleções e artigos, um pouco de ensaio e livros gráficos.
É relevante referir que fazemos parte da Aliança de Editores Mexicanos Independentes, sendo esta a única plataforma que representa os interesses dos editores independentes, que creio serem mais de cem no México. Alguns deles fazem parte da Câmara Nacional da Indústria Editorial Mexicana, e são editores criativos, que têm edições muito particulares… Gostaríamos muito que fossemos estes editores a publicar os portugueses. Por serem pequenos, são também mais cuidadosos e tratam cada livro como parte da sua própria vida. Esta aliança pertence a uma rede internacional de editores independentes – é um movimento internacional muito importante, porque faz frente aos interesses dos grandes grupos. É cada vez mais difícil publicar coisas que não sejam ‘mainstream‘, mas nós queremos publicar poetas jovens, livros “estranhos”…
Quais as principais dificuldades que México e Portugal partilham no que toca à edição independente? Em que aspetos se podem ajudar?
A dificuldade é imensa porque temos poucos recursos, mas no próximo ano teremos uma maravilhosa oportunidade para que se publiquem livros portugueses no México. Oxalá depois exista a oportunidade para que se publiquem obras mexicanas em Portugal. Na Fil 2018 vamos poder selecionar obras, contando com apoios para a tradução e para a publicação – facto que vai facilitar muito a introdução da literatura portuguesa no México.