Gerson Fogaça: da Casa da América Latina para Nova Iorque

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O artista brasileiro Gerson Fogaça nasceu na cidade de Goiás, em 1967, vivendo atualmente em Goiânia, ambiente que serve de inspiração à sua obra “Visões Simbólicas”, patente na Casa da América Latina (CAL) até 27 de julho, que se debruça sobre aspetos da vida urbana quotidiana. O pintor explica, em entrevista à CAL, que apesar de a sua obra ter um fundo dramático, existe também lugar para a ironia e para o erotismo.

Porquê Visões Simbólicas?

A minha obra representa signos e símbolos relativos a uma temática recorrente na minha obra, que é a cidade. Há mais de 30 anos que trabalho nesse sentido. E a cidade tem vindo a sofrer mudanças na minha obra – antes retratava uma paisagem muito densa e sombria, e ela foi-se transformando, diluindo.

E as cores têm um papel muito forte nessa transição…

Durante algum tempo a minha obra era bastante sombria, intensa, muito azul, cinza… À medida que a cidade se desenvolve, a minha obra também vai acompanhando.

E essa cidade é qualquer uma, ou é a sua cidade?

Eu vivo numa cidade de dois milhões de habitantes, que é frenética. Goiânia é uma cidade da região central do Brasil, mas pode ser comparada a qualquer cidade (São Paulo, Lisboa ou Nova Iorque), não existindo na minha obra essa referência de lugar. A minha cidade tem os mesmos problemas que qualquer metrópole.

Como transmite esses problemas para a obra?

Eles estão lá de forma simbólica e eu represento-os para mim mesmo. O que me interessa é o lugar antropológico, o não-lugar, o lugar de identidade e não-identidade. A cidade não é só o espaço físico, estático, é muito mais do que isso – as pessoas que o habitam, toda a estrutura…

Nesta cidade surgem algumas margens de animais (o “bixo-Homem” contemporâneo) e, por acaso, esta exposição tem três ou quatro obras bastante eróticas.

É um tema que está a desenvolver atualmente?

Essa tendência para o erotismo vem do trabalho que tenho vindo a realizar com Pedro Juan Gutierrez, escritor cubano que li há uns 10 anos atrás e que impactou muito a minha obra. Vamos encontrar-nos numa exposição que terá muito que ver com a narrativa deste escritor, no Museu de Arte Contemporânea de Goiânia.

Nos seus quadros encontramos uma desconstrução do “eu”, uma abertura em direção à própria cidade…

Acredito que a minha obra tem um fundo dramático, esquizofrénico, de muita tensão, mas, ao mesmo tempo, humor, ironia… É um passeio por este ambiente nevrálgico, mas através de uma outra forma de o representar.

Onde encontramos essa ironia de que fala?

Nas imagens. São cenas da realidade do quotidiano, acidentes de automóvel, motocicleta… Aqui ou ali aparece a figura de um animal… Eu fico entre a figuração e a distração. Vou e volto.

O que sente ao vir expor a Lisboa pela primeira vez?

Eu nasci na antiga capital do meu estado, Goiás, que é uma cidadezinha que podia ser um recorte de Lisboa. Quando visitei o Bairro Alto, lembrei-me da minha cidade. E eu sempre tive o sonho de expor em Lisboa, porque temos tanto em comum, a língua, a gastronomia…

E tem alguma influência europeia?

Eu sou auto-didata. Tenho 50 anos, 30 de pintura. Cheguei à capital nos anos 90, quando se falava muito do expressionismo europeu, sobretudo alemão. Desenvolvi a minha linguagem própria a partir daí.

Sei que já tem importantes exposições agendadas para este ano…

Esta exposição que apresento na Casa da América Latina é itinerante, veio da Bélgica. Vou expor também nos Estados Unidos (Nova Iorque), Brasil (São Paulo), e México.

Podemos dizer: da Casa da América Latina para Nova Iorque!

[risos] Verdade!

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