Preservação das Línguas Ameríndias da América Latina em debate na CAL
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___________________________________________________________________________________“No Uruguai cerca de 80% da população fala guarani, sendo esta uma das suas línguas oficiais. Se queremos falar de inclusão e abertura, temos de olhar primeiro para os nossos povos indígenas”, afirmou Ladislaa Silvero, Ministra Secretaria Executiva da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, na última sessão das VI Jornadas Internacionais de Linguística Hispânica, Variação e Identidade.
Associando-se à iniciativa do Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, teve lugar na Casa da América Latina uma conferência dedicada às línguas ameríndias da América Latina, que contou com a participação de Ladislaa Silvero, Ministra Secretaria Executiva da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, de Belén Villena Araya, estudante na Universidade Pompeu Fabra (Chile) e com a moderação da secretária-geral da Casa da América Latina, Manuela Júdice.
Ladislaa Alcaraz de Silvero explicou que, ao falar de línguas, é necessário ter em conta “não só o sistema linguístico e as regras, mas também a cultura e as pessoas”, relevando as influências culturais como grande razão pela qual cada país na América Latina tem uma variante única da língua.
Belén Villena Araya afirmou não ser possível conhecer a história dos países latino-americanos sem recurso ao estudo das línguas indígenas. “As palavras têm uma origem que não é somente latina e isso é impossível de ignorar”, acrescentou.
Questionadas pela secretária-geral da Casa da América Latina, Manuela Júdice, as oradoras abordaram o tema da literatura, especificamente o da poesia, a propósito da presença em Lisboa de vários poetas por ocasião do Encontro de Poesia Ibero-americana organizado por esta instituição.
“A poesia do Uruguai e do Paraguai está diretamente ligada ao guarani. Existem duas vertentes interessantes: por um lado, a poesia popular escrita em guarani que surge da oralidade, e, por outro, uma poesia a que se poderia chamar mais erudita e simbólica, menos associada à experiência”, explicou Ladislaa Silvero. No caso do Chile, Belén Araya chama atenção para o facto de não existir poesia propriamente dita no cerne da cultura mapuche, mas sim “cânticos”, e, de outro modo, poetas chilenos que “recorrem a certos vocábulos ou referências ao imaginário indígena, apesar de a escrita usar a língua castelhana”.
Foram abordadas as diferenças entre os países no que toca à institucionalização dos vários idiomas. No Chile, a constituição não denomina como “povos” as comunidades indígenas, mas sim como “etnias”, fator que “dificulta o reconhecimento da diversidade cultural que existe”, garantiu Belén Araya. As línguas indígenas são incluídas no plano de ensino caso haja solicitação por parte dos pais nesse sentido, havendo, no entanto, uma carência de professores. “A influência dos avós é a mais relevante no que toca o ensino da língua”, sublinhou.
Sendo a maior parte dos uruguaios bilingues, e o guarani uma língua oficial, existem alternativas quanto à educação: cada família pode optar por um sistema que ensina o castelhano, com base na aprendizagem prévia do guarani, ou vice-versa, ou ainda um sistema que assume o bilinguismo como base da alfabetização. “O guarani está em toda a parte. Nem sempre existe a capacidade para a expressão simultânea nas duas línguas, mas em termos de compreensão existe um grande à-vontade, e é por isso que o bilinguismo é natural”, salientou Ladislaa Silvero.