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Teatro baseado em poemas de Carlos Drummond de Andrade no palco da Casa da América.


Sandra Bonadeus trouxe a Portugal, ao auditório da Casa da América Latina uma peça de teatro inteiramente criada a partir de poemas de Carlos Drummond de Andrade. “Amar Se Aprende Amando” é um texto feito para Maria, uma das personagens do poema Quadrilha, um dos mais conhecidos de Drummond:

“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história”

A Casa da América
Latina esteve à conversa com a atriz.


Porquê um espetáculo
sobre poesia e o Carlos Drummond de Andrade?

Eu acho que a gente não escolhe o que vai fazer. Eu tenho
mesmo essa teoria, o trabalho é que escolhe a gente. Mas que faz todo o
sentido, disso eu tenho a certeza. Eu criei esse texto em 2002, tem 17 anos,
era ano do centenário do Drummond. Criei de uma forma totalmente intuitiva fiz
um texto para a Maria do personagem Quadrilha, daquele poema “João amava Teresa
que amava maria que amava Raimundo”. Então eu fiz esse texto para a Maria
juntando fragmentos de versos de Drummond de quase 150 poemas dele que eu
desmembrei e reorganizei numa prosa. O texto é uma conversa. É a Maria,
conversando com o público sobre amor. Então são poemas amorosos de Drummond.

A Sandra já fez duas
apresentações deste texto no Brasil, há vários anos, e agora vai apresentar de
novo o espetáculo quer em Portugal, quer no Brasil. Porquê agora?

Eu acho que é sempre tempo de falar de amor. O Drummond é um
poeta que você pode ler em diferentes fases da sua vida e você sempre vai ter
uma leitura revigorada. Talvez nesse momento eu estivesse precisando revigorar
o meu olhar sobre toda essa história amorosa.

Como disse, este
espetáculo reúne vários fragmentos de poemas de Drummond para criar um texto
único. Como é que resulta essa reunião?

Resulta numa coisa que só vendo. (risos) Quadrilha é um
poema que fala dessa ciranda, dessa dança do amor. Você ama uma pessoa, a
pessoa ama outra, a pessoa que te ama não é quem você ama, então há momentos de
alegria, há momentos de deceção. Então, eu procurei construir uma dramaturgia,
uma trajetória em que a personagem passe por esses diferentes momentos amorosos.
E o amor acaba sendo a redenção. O amor é o único caminho. 

Além deste espetáculo
de teatro, vai haver também a presença de uma professora universitária que
estuda e conhece a obra do Carlos Drummond de Andrade. Porquê juntar a academia
a uma apresentação de uma peça de teatro?

Ah, isso é muito legal. Primeiro porque o Drummond é um
poeta brasileiro estudado no mundo inteiro por quem estuda ou se interessa pela
literatura do Brasil, pela literatura de língua portuguesa, pela poesia de
língua portuguesa, e ele tem uma potência universal reconhecida no mundo
inteiro. Então, eu acho muito legal essa junção da academia com esse meu
trabalho que é intuitivo.

A sua ideia é que
esta professora universitária, depois do seu espetáculo, o comente?

A gente pensou numa conversa livre. Vai depender também do
que o público quiser saber. Fazer um contraponto, perceber como ela vê o
espetáculo. Eu gostaria que não ficasse uma conversa entre mim e ela, que as
pessoas participassem sobre esse processo de criação.

Acha importante
trazer o olhar da academia para esta apresentação porque a academia estuda
muito o Carlos Drummond de Andrade.

Com certeza.

Agora, Sandra
Bodaneus, este espetáculo é para quem gosta de poesia, para quem gosta de
Drummond, quem gosta de teatro. É para quem?

É para todo o mundo! É para quem gosta de amor. (risos) É
para quem se interessa para esse tema e também para quem também não gosta. Mas
Amar Se Aprende Amando. 

Para terminar: O que
é que o Carlos Drummond de Andrade pensaria desta peça?

Ai isso eu não. (risos) Que ótima pergunta, o que é que o Drummond acharia da peça. Olha, eu não sou especialista em Drummond, eu sou apaixonada pela obra dele. Eu não sei o que é que ele acharia dessa peça mas lá no Rio de Janeiro, em Copacabana, tem uma estátua dele. Eu fiz essas fotos de divulgação lá e eu de vez em quando paro ali, sento ali, e peço a bênção, entendeu? Então, eu não sei o que é que ele acharia, mas eu acho que ele libera! (risos)

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Entrevista realizada por: Raquel Marinho