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No âmbito das VIII Jornadas de Linguística Hispânica, a Casa da América Latina recebeu a conferência “Fronteiras e Literatura”, que teve como uma das oradoras, a mexicana Cristina Rivera Garza.

A Casa da América Latina conversou
com a escritora.

Esta conversa é sobre literatura e fronteiras.
A Cristina Rivera Garza nasceu no México e vive nos Estados Unidos há muitos
anos. Qual é na verdade a sua identidade literária?

Muda. Creio
que oscila. Eu nasci no México, mas os meus avós tinham crescido nos Estados
Unidos, no início do século XX, então a minha chegada aos Estados Unidos é como
um regresso, e creio que não me entenderia a mim mesma sem ambos. Sem os anos
de aprendizagem no México e sem os muitos anos nos Estados Unidos, com a língua
inglesa.

Continua a regressar ao México muitas
vezes?

Sim, por
sorte não é longe. Tenho muitos amigos e família no México, e também há uma
tradição literária que me interessa muito, tento manter-me sempre em contacto com
os livros que vão sendo escritos em espanhol. Além disso, faço workshops, dou
aulas, estou constantemente a regressar ao país. 

Acredita que há uma identidade
latino-americana de literatura?

Creio que há
uma muito ampla, que vai mudando e é muito flexível. Disse há dias numa
conferência que dei na embaixada (do México) que me parece que uma boa parte da
literatura latino-americana ou hispano-americana se escreve agora a partir dos
Estados Unidos, às vezes em espanhol mas também em inglês. Além disso, há uns
60 milhões de falantes de espanhol nos Estados Unidos, 11 milhões desses
falantes são bilingues, e somos o segundo maior país de falantes de espanhol no
mundo. Então, claro que que há um foco de produção e é uma produção importante,
distinta, e também marcada por muitas outras particularidades do idioma, e por
muitas outras forças económicas e sociais, mas parece-me que há uma matriz
importante de produção de falantes de espanhol.

E essa matriz caracteriza-se por algo
específico?

Não, creio
que é muito diversa. É tão diversa como as outras que se dão em países que
falam sobretudo espanhol. No que ao meu caso diz respeito, há sempre uma
constante de estar a investigar as relações políticas da língua que utilizo, há
sempre esta questão de estar a viver entre duas línguas, e creio que isso nos
obriga a ter uma visão crítica, por estar a considerar opostos, e por estar a
considerar interrupções. Acho também que é muito benéfico porque estamos a
trabalhar com idiomas vivos.

Escreve em inglês ou espanhol?

Grande parte
do meu trabalho literário é em espanhol, quase todo o meu trabalho académico é
em inglês. Já escrevi coisas literárias diretamente em inglês, que não publico
mas que existem.

E porquê a diferença, o académico em
inglês e o literário em espanhol?

Porque, bem,
quase toda a minha carreira académica é nos Estados Unidos.

Não tem qualquer relação com a
criatividade? A sua criatividade ser mais produtiva em espanhol, nada a ver com
isso?

Também o faço em inglês. A única diferença é que não procurei publicar a ficção que escrevo em inglês de forma muito ativa. Recentemente, publicaram-se traduções de dois dos meus romances nos Estados Unidos e creio que se abriu a oportunidade de ter um diálogo mais dinâmico com tradições literárias nos Estados Unidos que também me interessam. Então, estou aberta ao que possa acontecer.

Entrevista realizada por: Raquel Marinho