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A Casa da América Latina recebeu no passado dia 31 de janeiro o colóquio internacional «Fronteiras ibéricas coloniais: a identidade em construção». A CAL conversou com Javier Luis Álvarez Santos, da comissão organizadora do evento.

– O colóquio pretendeu discutir as “fronteiras ibéricas coloniais: a identidade em construção”. Há vários conceitos de identidade. Quais são eles?

Os conceitos que pretendemos discutir abarcam conceitos
políticos mas também outros. Por exemplo, a identidade de pertença a um
território, a uma comunidade num território, a uma profissão, e até a própria
identidade sexual.

– E
estes conceitos de identidade mudam em função da geografia? Ou seja, por serem
territórios de fronteira os conceitos são diferentes?

Os territórios que ficavam mais longe da metrópole, que
era Portugal ou Espanha, tinham uma identidade própria. E esta identidade
também era singular.

– Singular
em que sentido?

Há comunidades muito diferentes. Desde a indígena ou a
europeia, por exemplo. Temos também a comunidade africana. Inclusivamente,
dentro dos próprios europeus há comunidades estrangeiras que não são nem
castelhanas nem portuguesas. Esta variedade faz com que o espaço fronteiriço
tenha a sua própria representação e conceção de identidade.

– Neste
colóquio analisaram o conceito de fronteira. Quer dizer que não é um conceito
estanque?

A fronteira tradicionalmente estava associada ao conceito geográfico e espacial, mas aqui queríamos analisar também a relação que há entre fronteira e identidade. Quero dizer, as relações particulares que existem entre as fronteiras e os conceitos políticos, sociais, económicos e culturais das pessoas que lá moram.

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– Ou
seja, estes conceitos sociais, políticos, económicos e culturais mudam nas
comunidades de fronteira?

São adaptados às circunstâncias particulares de cada
fronteira, e também às necessidades de cada sociedade de fronteira. Neste
sentido, existem fronteiras em que o componente político e geográfico
tradicional não tem sentido, e favorecem-se outros vínculos, por exemplo de
tipo económico ilegais, como o contrabando. 


Por que razão, em sua opinião, faz sentido hoje estudar as fronteiras ibéricas
e esta ideia de identidade em construção?

Em minha opinião vivemos atualmente num mundo globalizado
onde as fronteiras estão a ser repensadas, e onde os movimentos migratórios
estão a ultrapassar a legislação tradicional sobre os limites políticos e
geográficos das fronteiras. Então, estudar as fronteiras ibéricas ajuda-nos a
entender processos semelhantes na história. E, sobretudo, estes estudos
constituem uma ferramenta fundamental para compreender e abordar as
circunstâncias particulares que vivemos atualmente. Portanto, este encontro
teve a finalidade de tentar encontrar soluções para o problema das migrações e
também procurou promover a sobrevivência das identidades nas áreas de contacto
na era atual da globalização.

– E
encontraram soluções para o problema das migrações?

Encontrámos diferentes metodologias e perspetivas que
abordam os processos migratórios e de criação de sociedades na fronteira, no
espaço colonial ibérico, que podem ser aplicadas na atualidade. Precisamente,
as conclusões a que chegámos serão publicadas num livro.


Pode dar-nos uma ideia breve de uma das conclusões deste encontro?

Neste colóquio analisámos como foram vistos no passado certos recursos do espaço americano, por exemplo, algumas espécies animais. A partir destes estudos, sobre a relação do individuo com a sua fauna tradicional, podemos ajudar a salvaguardar e transmitir conhecimento sobre esta relação especial dos indivíduos com o seu ecossistema mais próximo.       


Entrevista realizada por Raquel Marinho