A PIPA Foundation, em parceria com as Galerias Municipais de Lisboa, inaugurou no passado dia 26 de fevereiro a sua primeira mostra internacional, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.
“O Brasil são muitos: um recorte da produção artística brasileira recente” reúne parte da coleção que o Instituto PIPA construiu nos últimos 15 anos, desde que criou o Prémio PIPA, dedicado a incentivar e valorizar a arte contemporânea brasileira.
A exposição, com a curadoria de Luiz Camillo Osorio, conta com obras de 19 artistas cujo percurso está ligado ao prémio PIPA. Recorrendo a diversas técnicas, as suas obras refletem as mudanças culturais e políticas vividas no Brasil na última década e meia, revelando novas linguagens visuais, afastadas dos cânones.
Ao entrarmos no Torreão Nascente da Cordoaria, somos confrontados de imediato com “Invasão Colonial, Meu corpo nosso território”, de Xadalu Tupā Jekuopé, um conjunto de fotografias em tamanho natural de membros da comunidade Guarani Mbyá, cuja história e cultura o artista, também indígena, procura preservar e divulgar.
Segue-se a pintura igualmente impactante de Arjan Martins, uma das várias obras que dedicou à questão da diáspora africana no Brasil colonial, numa mistura de caravelas, bússolas, globos e outros símbolos das viagens atlânticas. As temáticas do colonialismo, identidade e memória estão fortemente presentes ao longo de todo o percurso, nomeadamente nas obras de Denilson Baniwa e Uýra, dois outros artistas indígenas, e de Gê Viana, Alice Miceli e Hal Wildson, cuja “Marcha do Futuro” sobrepõe gravuras às páginas de vários livros sobre a Amazónia.
Outra obra que merece destaque é a instalação “A máscara, o gesto, e o papel” de Sofia Borges, uma série de retratos de membros do senado brasileiro tirados pela autora em 2017, após o impeachment à presidente Dilma Rouseff, que revelam, nos sorrisos cínicos e gestos ensaiados, um “teatro da política envergonhada de si mesma”.
Além da fotografia, pintura e gravura, métodos mais tradicionais, esta exposição tem ainda uma forte componente audiovisual. São exemplos os trabalhos de Daniel Beerstecher e Berna Reale, dois alemães radicados no Brasil, ou as instalações “Piano Surdo” de Tatiana Bless, “@ilusão” de Vitória Cribb e “Superficções” de Guerreiro do Divino Amor, obras que abordam temas como o absurdo, a alteridade ou a ficção científica.
Visitável até 15 de junho, “O Brasil são muitos: um recorte da coleção do Instituto PIPA”, revela-nos, assim, o que de mais moderno se tem feito no campo artístico brasileiro, revelando-nos um Brasil plural, inquieto e em transformação.
“O Brasil são muitos: um recorte da coleção do Instituto PIPA”
Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Av. da Índia 1300-598, Lisboa, Portugal
Terça a domingo, 10h – 13h e 14h – 18h
Entrada gratuita
A exposição pode ser visitada até 15 de junho de 2025.
Saiba mais sobre esta exposição e os seus artistas no site do Prémio PIPA
Galeria de imagens
Publicado: Março 2025