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A Escola de Dança de Marco de Camillis e Anna Arizza d’Este, bailarinos, coreógrafos e professores de Tango Argentino, completa o rol de entrevistas realizadas pela Casa da América Latina no âmbito do Mercado da América Latina. Os italianos, vencedores de inúmeros prémios internacionais, são também autores, e directores do espetáculo teatral de tango Migrantango.

Começaram a dançar juntos quando estudavam em Bueno Aires, capital do Tango. A paixão por este género musical surgiu nessa altura?

Anna: A paixão pelo Tango surgiu antes, ainda em Itália, mas separadamente. Esta dança foi, precisamente, o que nos uniu. Em Buenos Aires iniciou-se o nosso percurso juntos.

Roma foi outra cidade que presenciou os vossos primeiros passos na dança. Como se deu a travessia do Atlântico, duma dança tão característica, num país tão distante da Argentina?

Marco: Em Itália já existia o Tango Argentino, ainda que a raiz deste fosse em Buenos Aires, na Argentina. Sinceramente, considero que a Itália é muito semelhante à Argentina, sobretudo a nível cultural. A fixação e evolução do Tango na Europa teve a ver com a afluência de argentinos que vieram do seu país, sobretudo, nos últimos 20 anos. É lindo pensar como uma cultura que está tão distante geograficamente faz parte de nós – não só italianos – mas também portugueses.

Anna: Esta comunicação entre as culturas é a essência do Tango, não fosse este ter nascido dum encontro cultural entre os italianos, alemães e vário povos europeus que foram para a Argentina. Os italianos que vão à Argentina sentem-se em casa e o mesmo acontece com os argentinos que visitam Itália.

Graciela Gonzales e Mário Morales: qual a influência destes dois nomes na vossa carreira?

Anna: Para nós são duas referências e temos de agradecer-lhes por todos os ensinamentos que nos passaram e que nos permitiram chegar a este nível. A Graciela encaminhou-nos para um Tango natural e verdadeiro. O Tango é uma comunicação de improvisação e o corpo tem de ser flexível, natural e os movimentos têm de ter alma.

Com o Mário trabalhámos também no sentido da essência, do movimento e inserindo a composição coreográfica, que nos permite viver a música. O movimento nasce desde a inspiração. Emociona-nos falar destas duas pessoas.

A participação, em dezembro de 2014, no ‘Tango Acropolis: Mediterranean and Eastern European Championship’  em Atenas, representou a vossa primeira grande vitória internacional e um ponto de viragem na vossa carreira?

Marco: Acima de tudo foi uma experiência fantástica: pela competição, pelo convívio com os outros pares participantes, por tudo. Foi um ponto de viragem porque, para além de termos conhecido muitas pessoas, deu-nos oportunidade de mudar o nosso trabalho, não só a nível coreográfico mas também a nível de estilo.

Anna: Queria acrescentar que a coreografia que apresentámos era de Mário Morales e foi muito bonito porque é um tango muito expressivo e, aliás, ganhámos por isto.

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Dois anos depois, atuaram no Teatro de Herode Atticus, também na Grécia. Este país tem sido sinónimo de sucesso para vocês? Como explicam o interesse de uma cultura tão diferente da argentina por esta dança?

Anna: A emoção de dançar naquele teatro, que está ao lado da Acrópole e que desde o palco se via o Partenon, é algo que inolvidável e inesquecível! No que concerne à relação entre a Grécia e o Tango, adoto o mesmo discurso de antes: todas as pessoas que dançam Tango acabam por identificar-se com a dança, independentemente do país onde o façam.

Marco: Quando pensamos na Grécia, pensamos em vários bons momentos que passámos, não só em competição mas também com amigos num ambiente muito agradável.

Migratango, peça teatral de tango, é um espectáculo dirigido e coreografado por ambos. Como surgiu esta ideia? Estas funções são algo que pode ter continuidade ou a dança continuará a ser a prioridade?

Marco: A ideia do Migratango foi nossa, mais especificamente da Anna e foi um espetáculo que fizemos há muitos anos, em Itália. Não sei responder se vamos continuar com o projeto tal como ele foi pensado inicialmente mas, a fazer algo, a ideia passa por cuidar mais do aspeto coreográfico: tudo o que faz parte do que chamamos Tango Teatro.

Anna: Para mim, o Tango Teatro, como o que fizemos no Migratango é o ponto máximo que um artista pode almejar, porque é um espetáculo que deixa à vista a tua alma. A nossa ideia passa por continuar nesta senda, a de criadores de peças de Teatro Tango, conciliando-a com a nossa escola e com a nossa carreira de bailarinos. Aproveito para falar do nosso mais recente projeto que é direcionado para os jovens e chama-se Projeto Tango. O projecto é bastante recente – iniciou-se em Março – e trata-se de formar jovens que têm paixão pelo Tango. Muitas vezes pensa-se que o Tango é direcionado para pessoas mais velhas e que a música é antiga mas há muitas formas de Tango e de dançá-lo e a ideia deste projeto é, precisamente, mostar este lado menos conhecido da dança.

Atuarão no Mercado da América Latina, à imagem do que já fizeram noutros eventos, tal como o Festival Norte Dance. Qual a importância que atribuem a esta iniciativa?

Anna: Este tipo de iniciativas, essencialmente, dão visibilidade a pessoas cujo trabalho ainda não atingiu o mediatismo necessário. No nosso caso, para além de permitir aos visitantes conhecer-nos enquanto escola, permite também conhecer o Tango e a cultura inerente a esta dança.

Esperam conseguir pôr os visitantes do mercado a dançar ao ritmo do tango?

Marco: É difícil [risos]. Sinceramente, os portugueses vivem com muita alma todas as artes e a dança não é exceção. O Tango é uma dança que exige muita alma e profundidade e, neste sentido, acho que os portugueses vão responder bem.