Poesia latino-americana no CCB
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___________________________________________________________________________________No dia mundial da poesia, 21 de Março, a Casa da América Latina levou até ao Centro Cultural de Belém (CCB) mais uma Festa da Poesia Latino-Americana. A iniciativa reuniu autores como Omar Ortiz, Andrés Ordoñez, Nuno Júdice, Lauren Mendinueta, o grupo de poesia do Liceu Camões, entre outros.
Manuela Júdice iniciou as celebrações do Dia Mundial da Poesia referindo que esta é “a quarta edição consecutiva da Festa no CCB e fruto de uma parceria que esperamos ver reforçada nos próximos anos”. Tolentino Mendonça subiu pouco depois ao palco para falar de Ernesto Cardenal, que este ano comemora 90 anos de vida. Apesar de “não trazer nenhum discurso preparado”, Tolentino Mendonça expôs ao público uma reflexão sobre a obra e vida do nicagaruense que foi padre, poeta e político, tendo desempenhado um papel central na Revolução Sandinista da Nicarágua.
À boleia do poeta Luís Filipe Castro Mendes, viajámos da Nicarágua para o Brasil, Chile e México, para conhecer a vida de Vinicius de Moraes, Pablo Neruda e Octavio Paz. Numa palestra intitulada “Poetas Diplomatas”, Luís Filipe Castro Mendes referiu a forma como as paixões destes homens se complementavam, apesar das dificuldades que por vezes enfrentaram para as conciliar, lembrando “a forma compulsória como Vinicius de Moraes foi despedido por carta quando se encontrava em Portugal a realizar um espectáculo com a cantora Nara Leão”.
“Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore / Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho. /No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de / sol, de céu e de lua mais do que na escola”. As palavras pertencem a ‘Árvore’, poema de Manoel de Barros que na tarde de sábado ganhou nova vida na voz do Grupo de Poesia do Liceu Camões. Este foi um dos mais de vinte poemas interpretados por alunos que “formam um clube de poesia há mais de um ano”, conforme haveriam de revelar no final da sessão. Curiosamente, Manoel de Barros foi o primeiro poeta brasileiro que interpretaram, o que inspirou “algum cuidado na forma como trabalhámos o ritmo, a pronúncia e a entoação destes poemas, que são muito próprios do português do Brasil”.
“Nada disto seria possível sem a estreita colaboração entre a CAL e o Liceu Camões, e o esforço da professora Cristina Duarte e dos seus alunos”, referiu Maria Xavier, coordenadora da programação científica e cultural da Casa da América Latina, que aproveitou também para lembrar que a presença do Liceu Camões resulta de um projecto pedagógico desenvolvido entre aquela escola e a Casa da América Latina.
A tarde reservava ainda uma conversa com os poetas convidados Andrés Ordoñez (México) e Omar Ortíz (Colômbia), moderada pela colombiana Lauren Mendinueta. Ao longo de cerca de uma hora, os poetas deram a conhecer a sua obra pela sua própria voz. Fernando Pessoa, a dor do fingimento ou as viagens foram alguns dos tópicos abordados pelos convidados, numa sessão que decorreu sob o olhar atento dos embaixadores do México e da Colômbia.
Lauren Mendinueta regressaria pouco depois ao palco, agora na qualidade de autora de “Uma Visita ao Museu de História Natural”, editado em Portugal pela Não Edições. A sessão contou com a presença do tradutor Ricardo Marques, do editor João Concha e do poeta Nuno Júdice, que na sua intervenção sublinhou que este “é um livro premiado ainda antes da sua edição”. Já a colombiana radicada em Lisboa – que no final foi muito procurada pelos espectadores presentes – sublinhou o facto de esta ser, como ela, uma edição bilíngue, ao alcance dos portugueses como dos colombianos.
Para o final, estava guardada a apresentação de “Troco a Minha Vida Por Candeeiros Velhos”, uma colecção de textos de Léon de Greiff traduzidos pela primeira vez para a língua portuguesa. Em poucas palavras, o embaixador da Colômbia, Germán Santamaria Barragán, felicitou a Abysmo pelo esforço feito na edição desta obra. Pouco depois, Jeronimo Pizarro considerava León de Greiff “um autor riquíssimo e um mestre da heteronímia, tal como Fernando Pessoa”. “Greiff inventava palavras quando sentia que as que ele conhecia eram insuficientes, pelo que o seu universo é ainda mais vasto do que pensamos”, acrescentou.
João Paulo Cotrim, editor da Abysmo, vai mais longe e diz mesmo que “este livro traz qualquer coisa nova à língua portuguesa. Para mim, a nossa língua está hoje mais rica”. Gastão Cruz, tradutor do livro, recordou “o estudo quase obsessivo necessário para traduzir obra de Greiff” e que também ele acabou por criar palavras para completar a sua tarefa, antes de se atirar à interpretação atenta de “Troco a Minha Vida Por Candeeiros Velhos”. A Festa de Poesia Latino-Americana regressa para o ano.