Vilma Arbaje de Contreras: “A maioria das empresas, micro e pequenas, que mais lutam para contribuir para a economia são lideradas por mulheres”
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___________________________________________________________________________________No âmbito do V Fórum Ibero-americano das PMEs, a Casa da América Latina conversou com Vilma Arbaje de Contreras, Vice-Ministra do Comércio Exterior no Ministério de Indústria e Comércio MPME’s da República Dominicana
Com o que podem contribuir as PME’s da República Dominicana para este encontro?
Em primeiro lugar, a República Dominicana é atualmente a Secretaria Pro Tempore da Secretaria Geral Ibero-americana. Por outro lado, as nossas PME’s estão a ser apoiadas pelo governo com uma série de programas que mencionámos aqui. Em particular, quis referir aqui hoje o tema do apoio às PME’s de propriedade de mulheres. Temos estado a trabalhar para as identificar e formalizar, fazer um levantamento. Dessa forma, elas têm um benefício de uma lei que já existe, e que dando uma participação nas compras do Estado a PME’s, dentro dessa percentagem, há 20% que deve ir para PME’s lideradas por mulheres.
E porquê essa ajuda específica a PME’s de mulheres?
Não é uma ajuda, é uma oportunidade, para apresentarem ofertas ao Estado dominicano. Mencionei isso neste evento porque reparei que não se estava a abordar as diferenças de género e os grandes vazios que há em relação ao apoio às empresas lideradas por mulheres. Se a República Dominicana se converte numa mostra da América, acredito que todos estão nas mesmas condições. A maioria das empresas, micro e pequenas, que mais lutam para contribuir para a economia são lideradas por mulheres que são chefes de família, e na maioria dos nossos países as chefes de família são mulheres. Assim sendo, também abordamos o “capital semente” para esse tipo de empresas, não importa onde estejam. Falámos também da descentralização das medidas de apoio. Muitas vezes, essas medidas ficam só nos núcleos maiores de desenvolvimentos do países, como é o caso dos programas de assistência e cooperação internacional com a União Europeia, por exemplo. Trabalhámos com empresas em toda a zona fronteiriça com o Haiti e em zonas carenciadas, de leste e norte da República Dominicana e, dentro delas, criámos a possibilidade de financiar com “capital semente”, empresas de mulheres especificamente.
Quais são as áreas das PME’s do seu país?
Temos várias. Há uma muito importante que já chega ao mercado internacional e que é a fabricação de produtos para cabelo: champôs, loções, tratamentos, etc. É tão importante que agora já tem os seus produtos à venda na Amazon; começaram por criar micro-empresas de subsistência e já deram o salto. Nesse setor trabalha-se muito, mas também existem empresas na área de alimentos e bebidas, particularmente de alimentos – geram produtos que depois vendem a outros espaços, como mercados. E também há empresas muito interessantes no setor da tecnologia. Há mulheres que chegaram aos níveis universitários e criaram empresas como engenheiras de sistemas, por exemplo, e muitas criaram empresas que deram o tal salto. Por exemplo, este ano, a empresa de serviços premiada pelas suas exportações é dirigida por uma mulher, chama-se Intelisis. Está no interior do país e emprega uma grande quantidade de jovens que se licenciam em programação, em engenharia de sistemas, engenharia telemática, etc., e vão criando um espaço novo. Outro dos setores é a manufatura de artesanato, mas de alta qualidade, o tema da moda. E há ainda muitas que estão a entrar agora no setor dos serviços modernos, como animação, jogos de vídeo, etc. Aí predomina mais o homem. É um pouco este o retrato atual, a ideia é ir avançando.
Qual a importância das PME’s para a economia da República Dominicana?
A percentagem de PME’s no país supera os 70%. Para começar, movem a economia interna porque empregam muita mão-de-obra em setores não tradicionais e em setores que ficaram vazios da grande indústria. E por outro lado, nos últimos 6 anos, formalizaram-se mais de 10 mil empresas, e isso também gerou receitas para o Estado. Mas ainda temos muita informalidade.
Estamos a falar de quantas PME’s no seu país, mais ou menos?
Em menos de 4 ou 5 anos formalizaram-se cerca de 12 mil e 300 empresas.
Acredita que encontros como este, onde um dos temas falados, por exemplo, foi o comércio inter-regional, podem trazer novas oportunidades de negócio para as PME’s com outros países?
Para o nosso país, com dois acordos de livre comércio, um com os Estados Unidos e a América Central e outro com a Europa, as oportunidades estão abertas. E ainda temos acordo com a Caricom, a sigla do Caribe inglês; isso permite que a nossa pequena e média indústria possa exportar para esses mercados. A questão de ir aos mercados internacionais tem dois grandes desafios: um é a parte do financiamento para produção em grande ou média escala, e o outro é o cumprimento das normativas, sobretudo das europeias, vinculadas às normas sanitárias e de segurança alimentar. Estes são dois desafios demasiado grandes para as médias e pequenas empresas dominicanas.
Quais são as suas expetativas para este encontro? O que acha que pode ajudar as PME’s do seu país?
Eu acho que é a agenda. Uma agenda que finalmente apresente à Cimeira de Presidentes políticas a desenvolver, a partir dos governos, para as pequenas e médias empresas. É o valor mais importante para mim. Que essa agenda reflita as necessidades que, no final do dia, são as mesmas em todos os países.
Entrevista realizada por Raquel Marinho