Claudia Sorbac: “As árvores são os organismos mais antigos que temos no nosso planeta, razão essa para preservar e para proteger”

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Claudia Sorbac, franco-colombiana, nasceu em Barranquilla em 1961, mudou-se para Paris em 1975 e até 1992 para continuar a estudar na universidade. Trabalhou na banca. Entre 1996 e 2009 viajou pela América do Sul, Cuba e América Central para fazer um documentário pessoal de fotografia e vídeo, e trabalha agora em Portugal. Estamos a conversar por causa desta exposição que vai trazer aqui à Casa da América Latina chamada “Entrelaçados”. Para quem não conhece o seu trabalho, o que é que diria que as pessoas podem esperar desta exposição?

Bom, o meu trabalho é essencialmente um trabalho a preto e branco, que eu faço desde 1994, e o que é importante saber é que é ainda um trabalho analógico, quer dizer que eu ainda estou a utilizar filme como se fazia na época, e imprimindo também com papel como se fazia na altura. Porquê? Porque eu acho que o preto e branco, o filme, e depois o papel que se utiliza, retém aqueles pigmentos de prata que o digital não vai ter. Além disso, há a profundidade da imagem, o grão da imagem que não se encontra no digital. Para mim a fotografia, sobretudo a preto e branco, sempre foi analógica.

E esta exposição a preto e branco que traz à Casa da América Latina trata-se de um trabalho de fotografia de árvores, florestas, certo?

Certo! Eu sou amante de botânica. Aliás, eu tenho um trabalho que fiz já há vários anos de flores a preto e branco, e sou amante de árvores. E com tudo o que está a acontecer no planeta, com os problemas climáticos, temos de tomar consciência que as árvores e as florestas são aquelas que nos permitem respirar e por conseguinte viver, e temos de as proteger. Então, uma vez que estou a viver aqui em Portugal, fiz todo um percurso, do norte até ao sul e mesmo até aos Açores, à procura daquelas florestas significativas aqui em Portugal e também daquelas árvores centenárias que ainda existem. No fundo, é um testemunho para mostrar às pessoas que temos estas maravilhas de árvores e florestas ao nosso redor, que nos fazem bem, que hoje em dia, mais que nunca, precisamos desse contacto com a natureza. Precisamos de não passar sem ver o que nos rodeia quando vamos a um jardim, quando vamos a uma floresta, porque somos seres vivos e isso é muito importante, ainda mais hoje em dia. Para mim é isso: é verdadeiramente um testemunho, e serve para as pessoas tomarem consciência que temos de proteger e preservar.

É uma chamada de atenção.

Sim. Eu comecei a fazer este trabalho em 2019 porque a minha ideia era conseguir mostrá-lo em 2020, que foi quando Lisboa foi votada capital verde europeia, mas com a pandemia isso não foi possível. Mas isso também me permitiu continuar com o meu trabalho sobre as árvores. Eu sempre adorei as árvores, mas eu li um livro de um autor alemão que também se ocupa de florestas na Alemanha, que se intitula “The hidden life of trees” (“A vida escondida das árvores”), onde ele explica a comunicação que as árvores têm entre elas, a comunicação pelas raízes, pelos fungos etc. Por isso também a ideia do nome “Entrelaçados”, porque se ajudam umas às outras, mas também a ideia da comunicação pela copa das árvores, que já está provada. Eu achei isso interessantíssimo. Aliás, ele intitulou isso “wood wide web”, que é todo um sistema de comunicação entre elas.

E a sua exposição pretende mostrar, através da fotografia, essas ligações, digamos, entrelaçadas, entre as raízes das árvores mas também as copas, é isso?

Sim.

Portanto, é como se elas comunicassem de facto, e a Claudia mostra essa comunicação.

Está provado que elas comunicam. As árvores comunicam entre elas através das raízes: quando existe algum predador, algum tipo de animal que as vai comer, elas largam produtos tóxicos para se defenderem. Então, existe mesmo uma comunicação entre elas. As árvores são os organismos mais antigos que temos no nosso planeta, razão essa para as preservarmos e para as protegermos.

E sente que há uma emergência climática que apela a essa proteção de que fala?

Sim, enorme. Quer dizer que, para cada árvore arrancada temos de plantar outra árvore, porque precisamos delas para viver.

Mas Claudia, eu tive oportunidade de visitar o seu website, e o seu trabalho não se prende só com a natureza…

Arquitetura também.

Arquitetura também. E é muito interessante porque viajou por muitos países da América do Sul, por Cuba, pela América Central, e encontramos no seu website fotografias relativas a essas viagens, que incluem também pessoas na rua, por exemplo, em Cuba. Depois tem perspetivas, que têm a ver precisamente com a perspetiva dos locais mas também flores, como já referiu, cores, o encarnado e o azul, demolições, um céu ácido e depois fotonovelas, que é uma coisa muito interessante. Ou seja, a Claudia vem trabalhando a fotografia numa perspetiva, digamos, também antropológica e sociológica, certo?

Sim. A sociológica é aquele conjunto das primeiras fotografias que eu tirei em Cuba sobre cenas de rua, crianças. Depois, um dos meus últimos trabalhos, que são as fotonovelas, foi utilizar aquelas imagens da época dos anos 70, que foram antes das telenovelas e das séries de hoje, como interpretação de colorir, porque todas essas fotonovelas eram com fotografias a preto e branco, e a minha ideia era dar-lhes um ar mais contemporâneo mas deixando o dialogo que eu queria que fosse em espanhol. Sobre a arquitetura, eu sempre adorei arquitetura. É por isso que também tenho muitas fotografias e mesmo séries das perspetivas de diferentes cidades. Aliás, comecei uma série de perspetivas aqui em Portugal que quero continuar. E também fiz um pouco de cor, mas com a ideia dos reflexos urbanos. Tudo isso em analógico; eu não tenho nenhum trabalho que não seja analógico, o único foi as fotonovelas que tive que scanear para poder depois imprimir.

Mas, Claudia, porquê a fotografia?

Eu sempre adorei a fotografia desde pequenina. Eu nasci na Colômbia e, quando tinha 12 anos, fui morar nos Estados Unidos numa “boarding school” na Florida, e aí comprei a minha primeira Instamatic, pequenina, para captar os momentos com as minhas amigas, os momentos vividos, porque para mim era importante poder captar esses momentos e ter esses testemunhos desses momentos. Quando tinha 15 anos, quando tive a minha primeira Canon, estava sempre a fotografar. Adoro viajar, viajei muito na minha vida, e viajo sempre carregada com os meus aparelhos de fotos, sempre, sempre, sempre, sempre!

Mas porquê?

Porque é a imagem que eu adoro, adoro captar, e a fotografia é um instante que pode passar, não é como um pintor que vai passar horas no mesmo quadro, na fotografia é o instante mesmo que conta, no momento seguinte ou a luz mudou ou a pessoa trocou de emoção. Então é isso, é a instantaneidade que para mim é muito interessante.

Para terminar, o que diria às pessoas se tivesse de as convidar a ver esta exposição “Entrelaçados”?

É tomar verdadeiramente consciência que temos a natureza que nos traz coisas maravilhosas, “pachamama” que é a terra mesmo, é por causa dela que podemos viver hoje em dia. É olhar, olhar em redor o que temos e aproveitar isso porque é o que a terra nos dá, e saber preservar. É isso, sobretudo isso, tomar consciência e que temos que preservar e proteger.


Entrevista realizada por Raquel Marinho

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