Clara Raposo: “E agora?”

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Testemunho de Clara Raposo, Reitora do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa)

A atual crise pandémica começou por apanhar meio mundo de surpresa. E, pouco depois, o mundo inteiro. As universidades, tal como tantos outros setores de atividade, não tinham planeado uma alteração profunda na sua forma de funcionamento em 2020. Desde março, tudo mudou.

Se é certo que o ensino remoto – até com aulas assíncronas e trabalho autónomo dos estudantes realizado numa plataforma tecnológica – tem vindo a ganhar terreno, esse ainda não é o formato principal ou preferencial da maior parte das universidades. Chegada a pandemia e a opção pelo confinamento, vimos universidades alterarem o seu método de ensino de 100% presencial para 100% à distância. 

Foi o caso do ISEG, a escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, que fechou as portas dos seus edifícios no dia 10 de março e retomou aulas online no dia 16 de março. Sem experiência na matéria – para além do comum uso do e-mail e da nossa plataforma digital para partilha de ficheiros e para algumas avaliações online – empreendemos nesse novo caminho digital para atingir o objetivo de manter ensino e aprendizagem a funcionar em pleno; é uma parte essencial da nossa missão e foi também uma forma de nos mantermos a todos ocupados com algo válido. Fizemos este caminho com rapidez e grande determinação. E estabelecemos comunicação simples, frequente, motivadora e próxima entre todos. 

Temos uma percentagem significativa de estudantes internacionais (assim como de portugueses de outras regiões) que viram ruir o sonho de uma experiência completa de vida no centro de Lisboa. Muitos destes estudantes regressaram aos seus países, com a garantia de conseguirem acompanhar aulas e avaliações à distância até ao final do semestre. 

A experiência, como um todo, correu muito bem. Em alguns casos, até se verificou que os estudantes estiveram mais atentos – possivelmente por falta de alternativas, estando confinados! Mas, com o passar das horas, dos dias, das semanas, cada vez mais se sente saudade de um ensino a 3D, presencial, com o contacto humano físico que também valoriza a experiência de formação – desde os mais novos até aos mais velhos. Creio que a grande lição desta crise, no que diz respeito ao ensino, é que conseguimos fazer melhor o presencial depois desta experiência, melhorando aquilo que fazíamos antes em sala de aula e conciliando esse formato com outras componentes, como aulas síncronas à distância, ou com registos pré-gravados, por exemplo.

No que diz respeito a candidaturas para o próximo ano letivo, tivemos um número recorde para mestrados e doutoramentos, inclusive de estudantes internacionais, o que controlou, até agora, risco de financiamento com receitas próprias. A maior incerteza reside na formação executiva, na qual empresas e profissionais hesitam em investir em momentos de crise. É incerto que todos os estudantes internacionais consigam juntar-se a nós em setembro, se seguirão algum tempo à distância ou se desistem de estudar em Lisboa. Mas tenho confiança: creio que virão; a vida tem de ser vivida e garantiremos o respeito de regras de saúde pública sem deixar de promover o regresso progressivo ao campus – teremos alunos em sala de aula, alunos em casa, teremos turnos, rotatividade, teremos muita variedade de métodos e abordagens. Ninguém vai perder a sua individualidade nem passará a ser apenas um avatar de si mesmo. Vai ser diferente e inovador. Faremos uma boa equipa, preparados para enfrentar o futuro.

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