Poetas Ibero-americanos em conversa na FCSH
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___________________________________________________________________________________Os poetas convidados para o “Encontro Ibero-americano de Poesia”, organizado pela Casa da América Latina no âmbito da Capital Ibero-americana da Cultura debateram, no dia 24 de março, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH temas como a edição, a tradução e influências da e na poesia latino-americana.
O poeta e a política
Ramón Cote, falou sobre a sua poesia e a influência política, ou melhor a presença da política na sua poética. Lembrou a Colômbia como país “politicamente difícil” no que toca a essa influência – “a decisão de escrever algo que não seja político é, por si só, uma decisão política”, salientando, porém, que “um poeta é, antes de mais, um cidadão. Apenas mais consciente dos seus próprios defeitos [risos]”.
Sobre o mesmo tema, Carlos López Degregori, referiu que “existe sempre uma dimensão política ou social na poesia, que só pode enriquecer o ponto de vista que temos da realidade. Apesar de a poesia ocupar hoje um lugar marginal, será sempre fundamental e terá sempre um lugar relevante neste âmbito”.
João Luís Barreto Guimarães afirmou que o poder, não necessariamente num ponto de vista político, “condiciona a forma como a vida decorre, mesmo no seio da vida de um casal”.
O poeta e a tradução
Questionado pelo público sobre o que mais importa no que toca à tradução de poesia, se “a métrica ou o conteúdo”, Jaime Siles disse que, embora importantes, “o mais relevante na tradução de poesia (e de teatro) é o tom. Este elemento cria uma unidade climática. Quanto ao conteúdo, muitas vezes, se é literal, a tradução acaba por resultar num desastre”.
Já Olvido García-Valdés garantiu que o poema “carece de superstição numérica”, acrescentando que “a poesia é composta por muitíssimos talentos, mas a métrica não me parece um elemento decisivo”. Concordando com Jaime Siles em relação à importância do “tom”, disse que, no poema “existe uma sonoridade que não é necessariamente musical, mas tem de ter em si a língua de quem o escreve. Não nas palavras, mas no estilo, que transmite isso mesmo”.
Ramón Cote explorou a oposição entre escrita e tradução como trabalho criativo: “sente-se mais a poesia quando se traduz. Existe um maior custo. Quando alguém escreve está mais aberto”, referindo que o trabalho do tradutor passa também por “converter o normal no extraordinário”.
O poeta e a cidade
Isabel Oliveira Martins, que moderou o debate, lembrou que quase todos os poetas presentes têm na sua obra uma “dimensão urbana”, que se reflete na abordagem poética à cidade. Nesse sentido, João Luís Barreto Guimarães enumerou Cesário Verde e Bernardo Soares como influências, admitindo escrever, na maior parte dos casos, em cidades estrangeiras: “trata-se de ler camadas por baixo daquilo que os olhos percecionam”, explicou.
Rosa Alice Branco identificou Rilke como influência, “pelo que se lê nas entrelinhas daquilo que foi, e não necessariamente como poeta”, afirmou. A razão que se prende em escrever sobre a cidade, é o facto de se viver nela e “algo nos tocar por onde se passa”.
Fazendo ligação ao assunto iniciado por Jaime Siles na conferência que proferiu na Casa da América Latina, Blanca Luz Pulido adicionou à “identidade e linguagem”, elementos referidos pelo poeta como os temas essenciais da poesia, a “memória”, lendo seguidamente o seu poema que consta da antologia da Semana de Poesia Ibero-americana, Memória e Fuga.
“O poema é um lugar raro onde se guarda a vida. Cada um, à sua maneira, o guarda na vida. As pessoas que se dedicam à poesia são salvas pela pena, porque é isso que importa”, afirmou Olvido García-Valdés.
No dia seguinte a este encontro, no Centro Cultural de Belém, realizou-se uma sessão de leitura onde participaram escritores como Carlos López Degregori (Peru), Jaime Siles (Espanha), João Luís Barreto Guimarães (Portugal), Olvido Garcia Valdés (Espanha), Blanca Luz Pulido (México), Lauren Mendinueta (Colômbia), Rosa Alice Branco (Portugal), Nuno Júdice (Portugal), Luís Filipe Castro Mendes (Portugal), Cristina Norton (Argentina), Débora Merali (Colômbia), Ozias Filho (Brasil), Raquel Marinho (Portugal) e Ramón Peralta (México).