Testemunho de Luís Campos Ferreira – Secretário de Estado

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[Testemunho de Luís de Campos Ferreira, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação]

É com grande satisfação que partilho o meu testemunho enquanto Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação sobre as relações de Portugal com os países da América Latina e Caraíbas. Este relacionamento alcançou definitivamente uma dimensão estratégica, em maior consonância com a projeção que o continente da América Latina tem vindo a assumir na esfera internacional.

Desde que assumi funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros tenho efectuado múltiplas deslocações à América Latina e Caraíbas procurando lançar, cimentar ou reforçar as nossas relações políticas, culturais e económicas com os diferentes países da região. No exercício destas funções, em particular nalgumas missões empresariais realizadas, reforcei a convicção de quão imprescindível é uma boa diplomacia política para uma efetiva diplomacia económica. Sem a primeira não poderemos aspirar à segunda.

Mas a economia não é uma folha de Excel, e os negócios não se fazem só com gráficos. Refletem também estados de alma, confiança e outras percepções subjetivas. Portanto, temos presente que a qualidade das relações políticas, fruto da diplomacia política e cultural, gera empatias e afetos, abre portas e canais privilegiados, e potencia oportunidades de negócio e investimento.

Recordo, por exemplo, a minha deslocação ao México, em Outubro de 2014, no âmbito da celebração dos 150 anos de relações diplomáticas entre os nossos dois países, em que tive oportunidade de promover uma exposição fotográfica sobre Portugal no emblemático Paseo de La Reforma que muito contribui para dar a conhecer um pouco de Portugal ao público mexicano. Mais recentemente, na Guatemala, tive a oportunidade de organizar uma noite de fado no magnífico Centro Cultural Miguel Ángel Asturias que marcou profundamente os convidados guatemaltecos.

É justo reconhecer que a diplomacia portuguesa tem tido um papel relevante no apoio à internacionalização da nossa economia. Trata-se de um trabalho de diplomacia económica permanente e essencialmente discreto, como diariamente fazem num registo de excelência os nossos diplomatas que negoceiam, entre múltiplos outros instrumentos, as dezenas de Convenções para Evitar a Dupla Tributação que temos concluído com sucesso e que são determinantes para facilitar o acesso das nossas empresas e das nossas exportações a novos mercados.

Nas relações com os países da América Latina e Caraíbas, verificamos hoje uma confluência, sem precedentes, de interesses estratégicos e sectoriais, onde a oferta e a procura se encontram talvez como nunca até aqui. O know how de que Portugal hoje dispõe em sectores como o ambiente e a energia, os transportes e infraestruturas, a educação, ciência e tecnologia, no sector agroalimentar, na «economia do mar» ou no turismo, são centrais para a competitividade das nossas indústrias e essenciais para o aumento das exportações a que temos vindo a assistir.

E muitas empresas portuguesas já têm presença estabelecida na América Latina e Caraíbas, circunstância que evidencia não apenas a capacidade de internacionalização dos nossos empresários e das nossas empresas mas que destaca também o papel fundamental que as mesmas têm tido na recuperação da economia portuguesa.

Também no plano do investimento muito há a fazer para uma maior captação de IDE de parte a parte, mas é justo afirmar que nunca investir em Portugal foi tão atrativo para os nossos parceiros latino-americanos e nunca foi tão atrativo, para os investidores e para as empresas portuguesas, se orientarem para a América Latina e Caraíbas. Acredito que há ainda muito potencial para explorar nas nossas relações com benefícios mútuos para todos os lados.

Não nos faltam formas de estabelecer denominadores comuns criadores de boas vontades instrumentais à promoção dos nossos interesses económicos e não só, pois, sabemos bem, os negócios da diplomacia não se esgotam na diplomacia dos negócios. Acredito profundamente, que entre povos que partilham profundas relações históricas e valores, culturas e até mesmo línguas comuns, chegou o momento de termos mais América Latina em Portugal e mais Portugal na América Latina.

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