Brasil e Portugal, uma parceria com oportunidades únicas no mundo

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Artigo de opinião por Paulo Dalla Nora Macedo, Economista e especialista em relações governamentais e Co-fundador Cícero Bistrot (Campo de Ourique-Lisboa), sobre as oportunidades e os desafios que se colocam às empresas de um lado e do outro do Atlântico, Brasil e Portugal.

Ao completar um ano e meio residindo em Portugal, aproveito para refletir sobre as conversas que tive oportunidade de ter nas mesas do Cícero Bistrot com diversas personalidades portuguesas centrais na relação com o Brasil: como o ex-Primeiro Ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso; o Embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos; além de dezenas de artistas, jornalistas e líderes da sociedade civil.

Estimulados pela arte brasileira, o Brasil sempre foi um dos temas centrais das conversas. Em comum, todos demonstram uma profunda admiração pelo que reconhecem como a grande obra de Portugal: o Brasil.

É dessa forma que eles demonstram um afeto gostoso de se ver e sentir pela minha terra, por oposição ao que muitas vezes observo em alguns dos meus compatriotas, especialmente de uma estirpe que parecem ter vergonha do que nós somos: um País que – culturalmente diverso – tem na sua cultura a sua verdadeira alma. São os brasileiros com raiva do Brasil, muito bem identificados por Nelson Rodrigues como portadores do “complexo de vira-lata”.

Com tamanha reserva de afeto, ficou claro para mim que o Brasil faria bem em investir numa relação ainda mais próxima com Portugal: o seu acesso privilegiado ao mercado comum europeu é um ativo que o Brasil deveria olhar com muito mais carinho. E Portugal precisa saber colocar-se como essa plataforma europeia e assim aproveitar a sua relação única com uma das grandes potências económicas globais, líder em sustentabilidade.

A importância das relações comerciais entre países foi investigada pelo economista Ricardo Hausmann, diretor do Growth Lab pertencente ao Center for International Development da Universidade de Harvard, ao ajudar a sistematizar o estudo do impacto das exportações na complexidade económica, e, a partir dessa, no grau de desenvolvimento dos Países. Durante 2020, tive a oportunidade de fazer um programa aprofundado sobre o tema com o Professor Hausmann.

O Atlas da Complexidade Económica, que o departamento de Hausmann montou, indica que a complexidade económica está diretamente relacionada à capacidade de um país produzir bens e serviços mais complexos e de maior valor acrescentado.

Países com maior complexidade económica tendem a ter economias mais resilientes e sustentáveis, pois são capazes de se adaptar a mudanças no cenário económico global e de competir em setores de maior valor agregado. Na era de rápidas transformações em que vivemos, essas são características que vão cada vez mais ditar o sucesso dos países.

O estudo também indica que a diversificação das exportações é um dos principais impulsionadores da complexidade económica. Quando um país diversifica as suas exportações, está a expandir a sua base produtiva e adquire conhecimentos e habilidades em diferentes setores.

A diversificação das exportações e a complexidade económica são, portanto, conceitos interligados e que se reforçam mutuamente. Um desejado ciclo virtuoso, então, se instala.

A boa nova para o Brasil é que o atual governo tem feito um esforço louvável para nos reconcertar com o mundo e mostra-se sensível a uma estratégia de diversificação de parceiros. Brevemente o meu país estará a presidir simultaneamente o G-20, o BRICS, COP30 e Mercosul. Um fato inédito que materializa a expressividade geopolítica mundial que estamos a conquistar. 

O tabuleiro global de forças abriu uma janela de reorganização e o Brasil é um dos países do sul global com melhor capacidade de passar a sentar no restrito clube das potências.

Voltando ao comércio, o desafio brasileiro é considerável, pois a pauta de exportação do Brasil é bem distante dessa visão da estratégia ideal: temos grande concentração em commodities e também uma concentração de destinos, com a China a liderar isoladamente: sozinha, ela tem seis vezes mais peso do que toda a Europa “latina” – Portugal, Espanha, França e Itália – em exportações do Brasil. Essa concentração representa um risco estratégico.

Nesse contexto, olhar para a Europa como um mercado que precisa ser mais cuidado pelo Brasil é fundamental: é lá que a hipótese de aumento da nossa complexidade económica é maior, pela exposição a um mercado mais maduro, formado por consumidores sofisticados e legislação mais exigente relativamente ao meio ambiente, o nosso diferencial competitivo global.

A decisão do Brasil em abrir um escritório da APEXBRASIL em Lisboa certamente ajudará nesse processo de maior integração comercial. Da mesma forma, é positiva a iniciativa do BNDES (o maior banco de desenvolvimento do hemisfério sul) voltar a financiar empresas brasileiras no exterior.

É também importante Portugal ter uma disposição para aproveitar melhor as oportunidades que representam empresas brasileiras com desejo de investir no País: deve-se olhar como uma ponte para juntos explorarem a Europa e não como uma disputa pelo mercado português, o que não faz sentido económico para as grandes empresas do Brasil. Uma visão equivocada pode estimular o protecionismo.


Paulo Dalla Nora Macedo
Economista e especialista em relações governamentais
Co-fundador Cícero Bistrot (Campo de Ourique-Lisboa)

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