Karina Pacheco: “Em Lisboa encontrei uma circunstância, uma imagem muito forte para criar o final do meu romance”

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Karina Pacheco é editora, escritora, antropóloga de Cusco, e uma das autoras peruanas mais prolíficas e destacadas da literatura contemporânea. Tem mais de 10 títulos publicados e acaba de publicar um livro que se chama “El año del viento”. De que trata este livro novo?

É sobre uma mulher que viveu em Madrid há muito tempo e decide voltar a escrever. Nesse regresso, no ano 2020, ela encontra num mercado uma pessoa que a faz lembrar de uma prima muito querida que desapareceu nos primeiros anos da violência politica no Peru. Então, ela questiona-se sobre coisas que jamais se questionou, do que se passará com ela. Toda a gente diz que ela foi para o Brasil, mas as circunstâncias dela, dessa personalidade, do tempo em que ela simplesmente desapareceu, dão para muitas dúvidas. Assim, depois de se questionar, decide voltar para o povo onde elas partilharam um tempo muito feliz da infância. Este romance decorre do presente para o passado. Não estava previsto, mas a pandemia apareceu e o romance tinha de ser escrito entre janeiro e abril de 2020, esse era o projeto. Assim, a pandemia, há um como uma conversa entre a calamidade presente e a calamidade dos primeiros anos de violência política no Peru. Estou de volta a Lisboa porque o ano passado estive em Madrid e, por causa da pandemia, não podia regressar ao Peru, e então decidi vir a Lisboa e a Portugal para terminar o romance. Tirei um tempo exclusivamente para acabar as últimas linhas do romance com a distância…

Fez isso o ano passado?

Sim, o ano passado. Um dia estava a caminhar por aqui, por Belém, e descobri uma estátua que me fez pensar em muitas coisas e assim encontrei o final do romance. Lisboa atravessa o final do romance. Então, é muito especial para mim voltar aqui. Terminei algumas linhas em Lisboa, outras no Porto, mas em Lisboa encontrei uma circunstância, uma imagem muito forte para criar o final do romance.

Este livro não está traduzido ainda em Portugal?

Foi apresentado há 2 semanas em espanhol.

Mas gostava que fosse publicado em Portugal?

Claro que sim.

Ainda mais, há esta ligação de ter sido terminado cá.

Sim, por isso seria muito bonito ser publicado aqui. Lisboa seria a cidade perfeita, ou Portugal no geral.

Porque é que está cá agora?

Porque estive a fazer uma investigação em Madrid durante uns meses. Estou a preparar uma antologia sobre a “oja de coca”, a folha de coca, que é uma homenagem a duas pessoas que trabalharam muito as utilidades médicas, terapêuticas, nutritivas e os valores culturais da folha de coca. Encontrei muitos livros antigos de onde selecionei textos para esta antologia, e então decidi ficar mais um mês e vir para Portugal, já vim duas vezes este ano. É um país muito belo e onde terminei o meu romance.

Tem outro significado, é isso?

Sim!

Conhece a literatura portuguesa?

Sim, conheço alguns dos poetas contemporâneos. José Luís Peixoto, Nuno Júdice. Saramago é uma referência para todos nós. Fernando Pessoa, “Sostiene Pereira”, que era italiano mas como se fosse português. A história de Portugal é muito interessante, e é interessante a diferença que encontramos com Espanha. São muito próximas mas as histórias com a América Latina são muito diferentes.

Com toda esta ligação, se calhar ainda vai voltar, não é?

Sim, espero que sim! É um país que amo muito. Tem muitas livrarias, as pessoas são muito amáveis. Acho que há muita paz aqui comparando com o meu país, é a minha perceção. Há uma certa paz para viver o dia-a-dia, e isso é muito importante.


Entrevista realizada por Raquel Marinho

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