Armando Arruda: “Uma participação numa feira, perto do que pode gerar de negócio, quase que não é investimento”

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No âmbito da apresentação do calendário das principais Feiras de Negócios do Brasil para 2020, a Casa da América Latina conversou com Armando Arruda, Presidente Executivo da UBRAFE – União Brasileira dos Promotores de Feiras.

Que impacto têm as feiras de negócios na economia?

Só as feiras realizadas no Estado de São Paulo movimentam 300 bilhões por ano. Isso quer dizer alguma coisa como 4,6 do PIB brasileiro

E estas feiras de negócio estão segmentadas geograficamente e setorialmente ou são mais abrangentes?

Eu até fiz uma brincadeira na apresentação porque eu tinha de dizer uma coisa e desmenti-me. É assim: dos sócios da UBRAFE, nós tratamos muito de feiras B2B, que são as principais feiras, absolutamente segmentadas, universo marcado, visitas marcadas, negócios marcados, encomendas feitas. Agora tivemos a “Couromoda” em pleno calor brasileiro que está vendendo o quê? A bota, o sapato fechado. O que vai ser produzido agora para ser entregue em abril na loja para ser vendido em maio, quando começar o outono-inverno. Ao mesmo tempo, nas feiras do agronegócio, que são mais de 1200 no Brasil, são feiras multissetoriais, não são segmentadas, porque são horizontes novos de dinheiro, são estados novos, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Acre, Pará. Então são dinheiros novos que precisam receber muitas informações e existe espaço para que seja multisetorial. O executivo hoje, além de brincar que ele é um ser alado e que é por isso que as companhias aéreas gostam de nós, ele tem pouco tempo. O tempo dele é o bem mais precioso. Então as feiras têm de ser muito organizadas para que ele cumpra a agenda de visita dele no menor tempo possível e com a maior qualidade possível.

Para termos uma ideia do que estamos a falar, se este setor das feiras é tão importante para a economia nacional e também no Estado de São Paulo, são feiras que abrangem todas as áreas de negócio inclusive estas mais modernas que são as da tecnologia? Ou seja, tanto pode ser roupa, comida, tecnologia, hotelaria.

Vou dar-lhe uma resposta bem longa. Todas. [risos]

Todas as áreas de negócio.

Todas as áreas de negócio têm feira. Não existe mais feira nova. O que tem hoje são alguns eventos que misturam um público final com entretenimento, com tecnologia que não é só “business”. Então, tem uma ocupação de grandes áreas, de grandes pavilhões, para atender públicos de 130 mil pessoas numa feira de tecnologia para jovens, para jovens empreendedores, para inovadores. São os pontos fora das curvas que vão acontecendo pela dinâmica dos tempos.

Disse na sua apresentação que pode acontecer numa feira um promotor expositor de grande dimensão estar ao lado de um expositor muito pequeno. Porquê essa ideia de democratização da oferta?

Porque as cadeias produtivas têm de ser respeitadas. Na verdade, os países, as economias, são feitos de microempresas, de pequeno empreendedores, que vão se adaptando, vão crescendo ou não, viram médias ou grandes, por circunstâncias de tecnologia, de aumentos de mercado. Então, quando faz uma feira segmentada, o seguimento por completo apresenta-se do pequeno ao grande. Vou contar uma história. Eu gosto de gravatas “butterfly”, borboletas, só que saiu de moda e hoje em São Paulo têm gravatas borboletas italianas que custam 100 euros cada uma. Eu não posso pagar 100 euros por uma gravata borboleta. Onde fui arranjar uma gravata borboleta? Fui a um stand de 2 metros quadrados dum fabricante de uniformes para “garçon”, que faz a gravata borboleta. Comprei o tecido e fizeram as minhas gravatas borboleta por 15 reais.

Quais são as áreas e setores que contribuem mais para dinamizar a economia?

Grande pergunta de difícil resposta. Você tem setores da economia que são grandes, por exemplo, alumínio, que basta uma feira são 5 decisores do mundo. E você tem setores, como moda, que pela dinâmica das estações do ano precisam de muitos eventos. Então, não é bem nem o tamanho nem o volume, é um atendimento ao mercado, a promoção comercial retroalimenta-se para atender à cadeia de produção. Vou sintetizar de uma forma académica-feira – você reúne quem produz com canal de distribuição, quantas forem necessárias e do tamanho que for necessário.

Essa contribuição para economia e para os números que apresentou prende-se não só com os resultados obtidos dos negócios feitos dentro da feira. Imagino que essa contribuição para a economia abranja tudo o que está à volta, ou seja, o dinheiro que a pessoa que vai gasta no país.

Sim. Quando chegámos aos 300 bilhões por ano é de negócios. A movimentação só na cidade de São Paulo com os eventos dá 16 bilhões por ano. O hotel, a gastronomia, o transporte, a alocação do carro, muito ligado à área. Somos o principal indutor do turismo mas não fazemos turismo. Eu brinco muito que ninguém vai à feira porque quer, foi porque o chefe mandou. Porque ele vai lá para trabalhar, não é uma visita de lazer. A gastronomia é sempre um dado importante. E outra coisa que não foi citada é que muitas empresas usam as feiras setoriais para fazer as suas convenções. Aproveitam para reunir os seus principais membros, principalmente do corpo comercial, para que eles vejam os concorrentes. É muito importante a leitura de mercado. A feira é um raio x, é uma fotografia do momento. Então, quando dizemos que tivemos 3 anos muito difíceis na economia – sim tivemos. E as feiras sofreram? Sim, sofreram. E estamos vendo um horizonte de 2020 e 2021 maravilhoso.

O que pode dizer aos empresários portugueses que esteja relacionado com a oferta de feiras brasileiras?

Eu acho que falta uma leitura mais ativa dos empresários portugueses naquilo que eles produzem na área de alimentação, na área vinícola. Eu acho que deveriam mudar muitos processos comerciais que estão sendo realizados, porque a nossa relação comercial é histórica. Alguém é representante de alguma quinta aqui há 50, 60, 70 anos no Brasil. Será que não vale a pena ir a uma feira e ver se acontece alguma coisa diferente? Que o Brasil não é só Rio de Janeiro e São Paulo. Que se toma vinho do Oiapoque ao Chuí. Que o Brasil são 200 milhões de pessoas e 100 milhões de consumidores. Eu acho que, apesar do que foi dito, do custo, da distância longa para montar missões, está faltando uma leitura mais positiva do tamanho do mercado brasileiro.

Para investirem e entrarem no mercado para venderem?

Eu diria que uma visita a uma feira, uma participação numa feira, perto do que pode gerar de negócio, quase que não é investimento. É um valor pequeno, é a media mais económica. Vai fazer um anúncio na televisão, vai fazer um anúncio numa revista. Nós temos esta media presencial que é a melhor relação custo/beneficio. Agora o que eu acho, perguntou-me a leitura que eu tenho, eu já faço essa apresentação há dez anos. Eu acho que o empresariado português acomodou-se porque já vende, tem um representante… Será que não está a acontecer nada de novo no Brasil?

Será que nos pode resumir-nos alguns dos números relativos ao negócio das feiras? Por exemplo: além do número de feiras que há no Brasil anualmente, quantas pessoas movimentam? Qual é o volume de negócios que representa?

Do setor B2B, nós temos cerca de 800 feiras no Brasil, num total de cerca de 2000, porque nós temos muitas feiras do setor do agronegócios espalhadas pelo Brasil que são as tais multisetoriais. O valor de negócios dessas feiras ainda não conseguimos calcular porque muitas delas são feiras por associações de criadores de gado, associações de produtores de grão, cooperativas e tal, que não informam os números. Aquele número que eu falo de 300 bilhões, são só das feiras de São Paulo e é importante porque nós estamos ali mostrando que, brincamos muito que somos a capital do Mercosul das feiras, São Paulo, e realmente é. Tem um dado que é paralelo a isso que é você ter uma oferta de 350.000 metros quadrados por dia de pavilhão, é o nosso equipamento indutor, a minha matéria-prima é o pavilhão, eu preciso do pavilhão para a feira. Então, os números são muito positivos na medida em que eu tenho um destino agradável, como assistimos que São Paulo pode proporcionar coisas muito boas, e eu tenho todo o ambiente de negócios.

Tem 27 mil empresas exportadoras, 3 milhões e 600 mil visitantes…

Isso na UBRAFE. Quando vamos ao quadro final, vamos para 12 milhões de visitantes nas feiras do Brasil inteiro.

Se tivesse de dizer aos empresários portugueses que vão ler a nossa conversa, quais as feiras que vão existir este ano em São Paulo e no Brasil que destacava?

Eu acho que principalmente nas áreas que Portugal tem excelência. Portugal tem uma excelência nos produtos de alimentação, em arquitetura, em projetos na área da engenharia, hoje nós temos algumas feiras voltadas para esse setor que eu acho que os empresários portugueses também deveriam ver, e a área de serviços, que Portugal também é forte. Eu acho que com isso já teríamos uma fila única de empresários portugueses indo para as feiras brasileiras.

Para terminar, disse no início da sua apresentação que “as feiras de negócios são uma doença”. Então?

É gozado quem trabalha. Primeiro vemos muitas novidades, então passamos a ser uma pessoa simpática pela informação. E você tem um lado de poesia que é entrar num pavilhão vazio, sem vida, e depois vê esse pavilhão com vida. Isso é um pouco poético. Porque você vê que aquilo que planeou e demorou 1 ou 2 anos realiza-se e tem uma vida económica muito forte. E quem trabalha com isso é uma adrenalina muito fantástica.


Entrevista realizada por Raquel Marinho

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