Lançamento da coleção Amazônia da Vista Alegre
Etiquetas: Amazónia
___________________________________________________________________________________Amazônia é o nome da coleção em destaque na primeira apresentação mundial da Vista Alegre este ano. Uma coleção composta por peças produzidas em porcelana, vidro, faiança e grês, numa viagem no tempo que reúne três séculos de historia do pulmão do planeta e resgata o trabalho de um dos maiores naturalistas portugueses do século XVIII, Alexandre Rodrigues Ferreira.
Este projeto foi desenvolvido em parceria com a Ecoarts uma entidade brasileira sem fins lucrativos sediada no Mato Grosso que leva a cabo projetos de economia circular baseados na natureza.
A Casa da América Latina conversou Ana Martins da Ecoart e Nuno Barra da Vista Alegre.
Nuno Barra – Vista Alegre
Por que razão a Vista Alegre se associa a uma organização como a EcoArts?
Primeiro porque a Amazónia era um tema que nós já queríamos trabalhar há muito tempo, é um tema muito rico, tem muitas referências. E neste momento achamos que está na altura de a Vista Alegre se associar a algumas causas e a alguns temas importantes, mas associar-se de uma forma positiva. A questão da Amazónia é uma questão muito importante para a sobrevivência de muitas espécies e da humanidade também, e portanto, à medida que a marca se vai tornando mais global também, estes temas que são globais têm cada vez mais força e a Vista Alegre quer associar-se a eles.
E não se trata apenas de trabalhar o design. Tem uma intervenção directa. Qual é ela?
Uma parte da receita das vendas das verbas vai reverter a favor da reflorestação desta zona onde a EcoArts actua. Que é norte de Mato Grosso, aliás onde vivem estes índios Caiapó, e portanto a EcoArts trabalha muito com eles e tem muitos projectos de sustentabilidade social e cultural, e para nós fazia sentido.
Para quem ainda não viu o resultado deste projecto. As peças têm então inspiração no trabalho desses índios mas também há uma ligação ao passado português. Qual é exactamente a inspiração?
Essencialmente são duas, vêm de duas fontes. Uma, a Amazónia tal como ela é hoje, a fauna, a flora, a etnologia, que tem um manancial riquíssimo. E depois a outra referência foi a referência das viagens filosóficas do Alexandre Rodrigues Ferreira que desenhou a Amazónia durante muitos anos e andou a desbravar, e era ele que enviava para o reino porque na altura não havia fotografias, desenhos daquilo que ia vendo.
Então, o resultado que podemos encontrar nestas peças vai beber quer aos índios de hoje quer a esses desenhos. É uma mistura. Nas peças encontram-se algumas referências antigas, de mapas antigos, até à fauna e à flora.
Está satisfeito com este resultado?
Muito satisfeito.
Porquê?
Para já porque foi a concretização de um projecto que já tínhamos em mente há muito tempo. Depois todo o processo foi fabuloso porque à medida que o projecto se ia desenvolvendo nós íamos descobrindo novas frutas, novas sementes, coisas que nós não conhecíamos. E depois toda a pesquisa das viagens filosóficas. Tudo foi desenhado à mão. Tudo aquilo que nos era enviado ou que nos era mostrado de flora da Amazónia, foi tudo desenhado à mão na Vista Alegre, tudo redesenhado. Porque neste caso queria-se fazer uma reinterpretação.
E essa reinterpretação está bonita?
Eu acho que sim. (risos)
Márcia Martins – Ecoarts
O que é a EcoArts?
A EcoArts é uma entidade sem fins lucrativos que actua num caminho de preservação da floresta em pé, da floresta amazónica.
E que trabalho é esse, especificamente?
Nós colectamos resíduos florestais madeireiros, transformamos em objectos de alta decoração. Transformamos o ordinário em extraordinário. Resgatamos os mitos, aquilo que é visível e aquilo que é invisível da história da floresta: os saberes, os sabores. Cada peça que nós fazemos a partir dos resíduos florestais, como esse colar que eu estou usando aqui, conta a história de um povo, de um rio, porque a Amazónia é conhecida de longe, todo o mundo sabe onde é mas ninguém sabe como é. Então, a colecção Vista Alegre mostra a Amazónia vista de dentro por quem vive na floresta. Nós somos a terceira geração de mulheres, de uma família ligada à terra, ligada ao Mato Grosso, e todas nós trabalhamos num colectivo, onde também existem homens, é um eco-sistema de pessoas que luta pela viabilidade da floresta em pé. Nós fazemos o que se chama aqui em Portugal o que se chama de economia circular: você devolve para a terra o que é da terra.
Como é que surgiu esta ideia de colaborar com Portugal, com uma empresa como a Vista Alegre?
Surgiu de uma coincidência. Uma cliente da Ecoarts, uma americana, uma grande coleccionadora de arte, comprou as peças, ficou encantada e falou assim: eu preciso dizer uma coisa, eu vejo vocês na Vista Alegre. Out of the blue, americana. E aí nós entrámos no site da Vista Alegre e vimos que que havia uma residência artística, nos aplicámos, e em 5 horas a Vista Alegre falou: queremos vocês aqui. E aí o que era para ser um objecto virou a primeira colecção que todas as marcas do grupo em conjunto produzem um tema só que é o tema Amazónia.
https://youtu.be/GP1jZ4bnTqw