Conferência sobre acordo entre UE e Mercosul na Universidade Católica
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___________________________________________________________________________________“A questão que se coloca à União Europeia é se estamos ou não disponíveis para estabelecer entendimentos, que vão muito para além da questão económica e comercial, com as zonas do mundo que nos são mais próximas, ou se, pura e simplesmente, estamos participamos num mundo em que outros impõe o seu próprio modelo de regulação da globalização”. A afirmação é do presidente da delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul, Francisco Assis, durante a conferência sobre o Acordo União Europeia – Mercosul, organizada pela Universidade Católica de Lisboa e a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, a 10 de outubro, com o apoio da Casa da América Latina.
Francisco Assis lamentou que o “protecionismo” de alguns países esteja a levar à impossibilidade da concretização do acordo. Esta posição, acredita o mesmo, assenta numa “confusão muito grande entre o que resulta da globalização e o que resulta da revolução tecnológica em curso” que não pode ser revertida, pois assenta na globalização das próprias cadeias produtivas.
Sandra Galina, diretora e negociadora-chefe da União Europeia, acredita que “de ambos os lados (UE e Mercosul) existem razões para adotar medidas que reforcem as nossas economias”, explicando que é necessário “construir confiança através do diálogo”, nomeadamente junto dos empresários dos setores problemáticos.
Sendo este o primeiro acordo de livre comércio que o Mercosul assinaria, esta é, para Sandra Galina, um oportunidade única, que assegura a permanência privilegiada da UE neste território. Apesar de não existir um “deadline” para o fim das negociações, a negociadora-chefe da UE mostrou a intenção de acelerar ao máximo este processo: “gostaríamos de conseguir fazê-lo até ao final do ano”, respondeu à questão lançada pela plateia.
Oportunidade para as empresas portuguesas
A secretária de Estado dos Assuntos Europeus de Portugal, Margarida Marques, salientou a relevância da localização geográfica de Portugal, bem como a sua proximidade histórica e, no caso do Brasil, linguística, que fazem deste um “país-chave” nas relações socio-políticas da Europa com a América do Sul.
“Este acordo representa algo de significativo para as empresas portuguesas”, afirmou Paulo Caldas, representante da AIP, garantindo que, no sentido de se internacionalizar, estas necessitam ter em conta três aspetos fundamentais: “precisam de estar capacitadas, ter um quadro de estabilidade económica e fiscal que lhes permita ser competitivas, e estar bem informadas”.
O representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Carlos Cavalcantti, sublinhou que “duas boas notícias” imperam sobre as negociações deste acordo: a mudança de governo na Argentina e a consequente reorientação económica do país, que passa “de entrave a um dos grandes trunfos” da relação com o Mercosul; e as medidas que Michel Temer tem tomado, no Brasil, no sentido de reequilibrar as contas públicas, num sentido pragmático. “A união dos nossos blocos pode também ser um fator de recuperação da União Europeia. É preciso aproveitar este momento a despeito do ruído que uma minoria possa fazer”, defendeu.
Para o tango são precisos 27
O secretário de Estado de Comércio de Espanha, Jaime Garcia-Legaz, lembra que a vontade política para avançar com o acordo existe no Mercosul e resta agora esperar por uma decisão do lado europeu, fazendo uma separação entre os “amigos do Mercosul” e os “prisioneiros das suas ambições protecionistas”, que, segundo o mesmo, “não têm problemas de desemprego e estão a impedir os outros países de competir de forma aberta no exterior”. Para Jaime Garcia-Legaz esta é uma possibilidade, tanto para Espanha como para Portugal, de se tornarem em “agentes económicos prioritários na América Latina”.
Josef Adamec, embaixador da Eslováquia em Portugal, destacou a importância da realização de eventos similares, sendo Portugal um “palco privilegiado” para que se faça esta reflexão, pela sua localização geográfica. E como “para o tango são precisos dois”, como afirmou, também o embaixador garantiu concentrar os seus esforços na concretização deste acordo que terá de envolver todos os 27 países membros.
A conferência terminou com a apresentação de um espetáculo de tango, organizado pela Casa da América latina e pela Embaixada da Argentina em Portugal.