José Carlos Alvarez inaugura “Um Palco sobre o Atlântico”
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___________________________________________________________________________________A Casa da América Latina inaugurou no dia 21 de janeiro, pelas 19h00, a exposição “Um Palco sobre o Atlântico”. José Carlos Alvarez, curador da exposição e diretor do Museu Nacional do Teatro e da Dança (MNTD), apresentou aos visitantes a seleção fotográfica que estará patente na Casa da América Latina (CAL) até dia 1 de abril de 2016. As fotografias do evento podem ser consultadas no link abaixo.
O espólio do MNTD reunido na CAL é composto por “documentos que contam dezenas de histórias”, refere Alvarez. Esta, que é “uma história que muito poucos conhecem”, é feita de fotografias, recortes de jornais e outros materiais, que retratam a presença dos atores portugueses em palcos do Brasil, Argentina ou Uruguai no início do século XX.
“Durante quase um século, entre 1850 e 1950, praticamente todos os atores e as mais importantes companhias portuguesas de teatro atravessaram o Atlântico”. O facto, relatado por Alvarez, levou a que muitos dos protagonistas destas imagens passassem largas temporadas nos países da América do Sul, e mesmo nos grandes transatlânticos, onde prosseguiam as suas carreiras artísticas e vidas pessoais.
“Também a bordo havia uma distinção de classes. As companhias privilegiadas viajavam melhor”, afirma, socorrendo-se de uma das imagens, que exibe um jantar na primeira classe, ou de outras que registam festas à passagem pelo Equador. Alvarez explica que as grandes companhias procuravam países como o Brasil pelos seus equipamentos e instalações, avançadas para a época, mas também pelo encontro com um público mais recetivo e cosmopolita.
O diretor do MNTD lembra a importância do registo para a consolidação das memórias exibidas: “Havia uma prática de tirar fotografias e escrever memórias. Quase todos os atores escreviam, o que é uma parte importante para o registo da história do que está aqui exposto”. As fotografias, doadas pelos atores ou respetivas famílias, à exceção de uma parte menor adquirida em leilões, são “uma pequeníssima parte do que existe, a maioria tirada nos países de destino ou mesmo a bordo desses paquetes”, refere.
A “hipótese meramente teórica”, tal como expõe, de um destes navios se ter afundado, implicaria a morte de companhias inteiras. Esta intensidade das migrações temporárias reflete-se ainda na propagação de doenças tropicais, que acabavam por afetar muitos atores e às quais outros tantos pereciam.
Nas palavras de Alvarez, “a exposição pretende evocar este permanente vai e vem, que caracterizou a vida teatral portuguesa desse tempo e que consolidou, talvez como nunca antes, as relações culturais e artísticas entre estas duas nações” (Portugal e Brasil).
O diálogo com os presentes levou ainda a uma comparação com a realidade atual, na qual se pode identificar um fluxo contrário, com a ascensão de grandes atores brasileiros, muito aclamados em Portugal, em grande parte devido à influência das telenovelas. Alvarez lembra ainda Raul Solnado como o último grande ator no Brasil, lugar onde também este viveu e constituiu família.
As fotografias da inauguração podem ser vistas aqui.