Gustavo Guillemin: “A divulgação do conhecimento é essencial para o crescimento”
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___________________________________________________________________________________[Discurso proferido pelo mexicano Gustavo Guillemin na entrega do Prémio Mário Quartin Graça, em Lisboa]
No passado mês de Dezembro, tive o prazer de receber o Prémio Mario Quartin Graça pela minha tese de doutoramento sobre o desenvolvimento das capacidades tecnológicas de pequenas empresas de design eletrónico em Guadalajara, México.
Esta tese debruça-se sobre o desenvolvimento que a indústria eletrónica teve nesta cidade, desde que surgiu pela primeira vez na década de sessenta. A partir de finais dos anos oitenta, Guadalajara começou mesmo a ser chamada de Silicon Valley mexicana. E em 2011, gerou cerca de 90.000 postos de trabalho, exportando mais de 18 mil milhões de dólares (Suarez, 2011).
No entanto, o número pessoas a trabalhar em pequenas e médias empresas naquela região – e particularmente na área de design electrónico – manteve-se em cerca de 271 até 2008 (CADELEC, 2008). Um número que em comparação com a dimensão do sector peca por defeito e reflecte um sector em subdesenvolvimento.
Outra forma de medir esta diferença é através do baixo registo de patentes. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, 312 patentes foram concedidas a residentes mexicanos durante 2013. Em contraste, a República da Coreia do Sul obteve 95,667. Apenas para referência, em Portugal foram concedidas 144 patentes no mesmo ano.
Solow (1957, citado por Cohen, 2004, p. 31) estima que “87,5% do crescimento da riqueza entre 1909 e 1949 se deve ao desenvolvimento tecnológico” e Mansfield (1989), também referenciado por Cohen (2004, p . 32) diz que “a rapidez da evolução tecnológica é talvez o indicador mais importante no ritmo de crescimento económico de uma nação”. Tendo em conta essa perspectiva, o desenvolvimento tecnológico é um dos elementos com impacto directo sobre a criação de riqueza económica (Lundvall, 2002).
Na minha opinião, como sociedade enfrentamos três grandes desafios: a criação de riqueza, a sua distribuição de forma adequada e a sustentabilidade destes processos a longo prazo.
Se a criação de riqueza é uma das nossas principais responsabilidades como sociedade, e o desenvolvimento das nossas capacidades tecnológicas são a melhor maneira de atingir esse objetivo, devemos ser capazes de melhorar estes processos.
A divulgação do conhecimento é um dos veículos para acelerar essa capacidade, e é por isso que o trabalho de instituições como a Casa de América Latina têm feito na construção de redes de conhecimento que permitam um intercâmbio entre Portugal e os países da América Latina tem tanta importância. Devemos, portanto, continuar a enriquecer a construção de redes que nos permitam compartilhar o conhecimento entre países, de modo que as nossas sociedades possam acelerar a criação de riqueza para os que aí moram.