Economia do Mar – Aquicultura
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___________________________________________________________________________________(A Casa da América Latina publica hoje o último capítulo do ensaio “Economia do Mar”, escrito por Bartolomeu Lança (co-fundador MAR7 – Associação para o Desenvolvimento da Economia do Mar do Distrito de Setúbal)
Economia do Mar – Aquicultura, enquadramento técnico e global
A aquicultura pode ser definida como desenvolvimento, melhoramento, comércio ou criação de organismos (vegetais, animais e outros) em ambiente aquático controlado ou selecionado (água doce, águas salobras e águas salgadas) com fins industriais, de subsistência, finalidade pública ou privada, recreativa ou outra. Na aquicultura não está incluída a pesca de captura, o que implica a colheita de organismos aquáticos a partir de um ambiente em que não foi feita nenhuma tentativa de gerir ou influenciar os organismos de contenção, a alimentação e a aplicação de técnicas de manuseamento. O sector emprega uma ampla variedade de técnicas produtivas e comerciais, em harmonia com a natureza do uso da água, o ambiente em que a actividade tem lugar, a escala e intensidade, a espécie, o alojamento, instalações para maternidades, investigação científica, controlo e muito mais.
A aquicultura pode ainda ser classificada como intensiva ou extensiva, a este respeito aufere o nível de tecnologia empregue, despesas e formatos de capitalização, custos de operação, controlo sanitário, risco, volume por unidade de área. Associado, mas não necessariamente ligada a esta, é a escala de produção, que pode ser dividida em operações de pequena escala ou subsistência, empresas de médio porte, grandes empresas ou conglomerados industriais assentes na verticalização. Uma distinta gama de instalações nos métodos produtivos podem ser usadas, desde sistemas de cultura em tanque artificial, natural ou misto, cultura em linhas ou caixas e cultura em gaiola. Dentro de cada uma destas categorias várias subcategorias podem ser identificadas, das mais expeditas às flutuantes de base para os sistemas tecnologicamente avançados. A categorização por espécies não deve estar limitada por uma entidade reguladora só, senão pelo todo que compõe o tecido da Economia do Mar, muitas das espécies marinhas, em especial as filtradoras que não apresentam qualquer tipo de perigo para o eco-sistema são as indicadas nos geo-locais de maior sensibilidade e desequilíbrio, estas espécies actuam como ‘abelhas do mar’ porque não são invasoras, não são predadoras, excretam 100% oxigénio da água estimulando o crescimento de outras espécies endógenas, recuperam perto de 98% dos materiais nocivos à qualidade da água, criam uma proteína com alto teor nutritivo à alimentação humana e ainda uma parte de 95% de carbonato de cálcio útil para indústrias da construção de materiais para fazer estradas, polímeros, betão, fertilizantes 100% naturais e sem agressão aos solos, matérias indicadas para a captura de derrames e tratamentos de águas residuais com níveis de eficácia acima dos 97%, cosmética, saúde, alimento para aves e equídeos e fármacos naturais acessíveis a todo o tipo de organismos (humanos ou outros). A par dos benefícios dos filtradores estão as plantas aquáticas ou algas, que incrementam a possibilidade de produzir outra infinidade de artigos, sendo por esta razão também transversais em termos de indústria, chegando à geração de energia por métodos 100% limpos para o ambiente, apresentam ainda um impressionante recorde nas velocidades de crescimento, sendo as espécies com mais ciclos anuais de cultura (podem chegar a 300).
O desenvolvimento da aquicultura é impulsionado pela diversificação na base económica, na utilização sustentável dos recursos e numa missão para o alcançe de elevados níveis da segurança alimentar. Mas são também impulsionados por uma visão comum De 1980 a 2007 o aumento global da produção aquícola cresceu dos 9% para 44%. A aquicultura tem vindo a subir mais rapidamente do que qualquer outro sector na produção alimentar. A colheita global de recursos aquáticos naturais para alimento, proteína, óleo e outros materiais chegou em alguns casos aos limites e já causou um colapso nas populações de determinadas espécies, com perda de habitat e poluição difusa. Porém, a demanda por estes recursos continua aumentando e a produção aquícola reveste-se de características capazes de responder e atender a toda a procura. Isto é especialmente relevante quando temos em conta o desastre de Fukushima e seus efeitos colaterais na economia com o mais alto consumo de alimentos do mar per capita, o Japão só é ultrapassado pela China no volume total, em 3º lugar está Portugal, além do oriente os USA também foram fortemente afectados, em especial na costa oeste-norte, no estado de Washington, relembrando como nota final a devastação das águas nas ilhas Martinica e Guadalupe, e, de Chesapeake Bay na costa este dos USA, por uso abusivo e desenfreado de químicos agropecuários altamente nocivos.
Segundo os dados estatísticos, o mundo tem um défice de produção de moluscos (organismos filtradores) na ordem dos 90%; a Europa agrega 5,4 milhões de empregos nesta área que gera um valor de 500 mil milhões de euros, podendo crescer até mais 400% pois é deficitária em cerca de 65% neste sector. A aquicultura e a pesca, nos últimos anos, obtiveram os maiores índices de produtividade ao abastecer o mercado mundial com 160Mt, deste total a aquicultura já é responsável por aproximadamente 43%, enquanto nos anos 80 era apenas de 9% (FAO, 2007). Estima-se, para o ano de 2025, uma população de 8,5 bilhões de pessoas com um consumo de 200Mt e em que a aquicultura pode contribuir com 60 a 70%, e, que poderá haver um aumento de 600% (960Mt) nos próximos 50 anos.
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