Cooperação Médica Internacional debatida na Casa da América Latina

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“Nascer pequeno e morrer grande” – a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, citou Padre António Vieira a fim de caracterizar Portugal no âmbito da cooperação médica internacional, durante o encontro que decorreu na Casa da América Latina (CAL), a 13 de março, que serviu para avaliar os resultados da ligação entre Portugal e o Uruguai e traçar novas perspetivas da parceria com os países latino-americanos na área da saúde.

A secretária-geral da CAL, Manuela Júdice, e a Embaixadora da República do Uruguai em Portugal, Brigida Scaffo abriram os trabalhos do evento integrado na programação da Semana do Uruguai em Portugal.

“A razão que nos leva a realizar este evento e a fazer protocolos com instituições como o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) é o facto de existir tanto conhecimento a ser exportado. Continuam a existir falhas em muitas áreas, e não se vê abertura suficiente para que estas sejam supridas sem uma enorme carga administrativa”, salientou a secretária-geral da CAL. A embaixadora Brigida Scaffo comprometeu-se desde logo a “promover uma revitalização” do acordo de cooperação médica entre Portugal e Uruguai firmado em 2008, com a ajuda dos protagonistas desta primeira empreitada.

O primeiro painel do evento, composto por Solange Gerona, Manuel Pizarro, Eduardo Barroso, Maria João Aguiar, Rui Leal e André Villarreal-Taliuli, descreveu a experiência pessoal na promoção da cooperação médica entre Portugal e o Uruguai: “um caso de sucesso” que teve origem no estabelecimento de um convénio, em 2008 – período em que a moderadora Luísa Bastos de Almeida assegurava a diplomacia na Embaixada de Portugal neste país da América Latina.

Luísa Bastos de Almeida falou dos antecedentes da cooperação entre os dois países e dos pressupostos deste convénio, que previa, por um lado, a capacitação de profissionais em emergência médica em Portugal, a partir do envio de 14 profissionais uruguaios, e, por outro, a aposta no desenvolvimento de transplantes hepáticos no Uruguai.

Lamentando que um programa marcado pela cooperação internacional na área da saúde esteja “tão oculto da opinião pública”, Manuel Pizarro, salientou os resultados positivos alcançados, que ultrapassaram “em muito as expectativas”. André Vilarreal destacou a importância de ver reconhecida a competência do Uruguai na de emergência médica, e afirmou ainda a importância de se pensar em criar em Portugal uma especialidade dedicada à urgência: “Viemos deixar a nossa marca, mas também trilhamos o nosso próprio caminho”, assegurou.

Eduardo Barroso afirmou que Portugal constitui o centro europeu mais ativo no que toca à transplantação hepática, destacando características como a “inteligência emocional” e a “liderança” como essenciais para se ser “um líder cirúrgico”, para além das óbvias capacidades técnicas. Tendo sido o grande responsável pela reativação dos transplantes hepáticos em Montevideu, o médico salientou os fatores fulcrais na realização deste feito: o apoio da embaixadora Luísa Bastos de Almeida no Uruguai, a par da desburocratização de todo o processo.

Solange Gerona, expôs informações relevantes sobre a ligação entre Portugal e Uruguai como caso de sucesso na cooperação médica internacional, nomeadamente o elevado número de transplantes hepáticos realizados no Uruguai desde a assinatura deste convénio. A médica uruguaia destacou outras áreas de cooperação que podem ser estabelecidas entre os dois países, como é o caso da radiologia intervencionista ou da anatomia patológica.

Alternativas de cooperação internacional na saúde

Paulo Ferrinho (IHMT), Ana Correia (Ministério da Saúde), Victor Ramalho (Secretário Geral da UCCLA) e Luís Filipe Soromenho Gomes (Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António) abordaram, num segundo painel, as perspetivas de cooperação médica entre Portugal e a América Latina.

O Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Luís Filipe Soromenho Marques, falou da forma como conseguiu resolver o problema grave que se vivia no Algarve, ou seja, a enorme carência de meios para resolver um problema oftalmológico. Perante uma grande procura por parte da população a operações às cataratas, cujas listas de espera eram enormes e sem solução à vista, o autarca desenvolveu um projeto de cooperação com Cuba (país com uma “notável capacidade de resposta”, e onde estas operações são substancialmente mais baratas), lançando um concurso público em articulação com médicos cubanos e portugueses. O Presidente não deixou de relembrar a importância da abertura dos governos à colaboração com as autarquias para este tipo de resolução de problemas.

Paulo Ferrinho destacou a importância da criação do gabinete de comunicação do IHMT, no sentido de promover os avanços do instituto, para que um trabalho que geralmente não tem muita visibilidade seja reconhecido.

Ana Correia apresentou a cooperação com os países da América Latina como uma cooperação diferenciada da desenvolvida com os PALOP, onde se tenta encontrar e captar fontes alternativas de financiamento: “Temos celebrado memorandos de entendimento com o México (2014), Peru (2013 e 2016), Cuba (2009) e com o Uruguai (2007). Em carteira temos a possibilidade de assinatura de outros instrumentos jurídicos de cooperação com Venezuela, Colômbia, Chile, Paraguai, República Dominicana e Brasil – países que nos têm vindo a procurar”.

Invocando o peso da língua portuguesa no mundo global, Victor Ramalho, Secretário-geral da UCCLA, afirmou que “é nas cidades, onde se concentra cada vez mais população, que devemos atuar”, classificando o Uruguai como um país modelo a vários níveis, como a educação, o nível de vida e longevidade, que partilha muitas semelhanças com Portugal. “Os países não são eternos se não pensarem em grande”, disse, referindo-se à cooperação internacional entre os dois países.

A secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, no encerramento da jornada, apelou ao ativismo de grupos, instituições e autarquias como facilitadores da cooperação entre Portugal e os países da América Latina, potenciando o conhecimento mútuo e permitindo o desenvolvimento de novos procedimentos, podendo em muitas situações ser a resposta para problemas imediatos.

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