Constança Urbano de Sousa: “O humanismo e a solidariedade devem sempre falar mais alto”
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___________________________________________________________________________________A Casa da América Latina entrevistou a Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, a propósito da cerimónia de homenagem, realizada no passado dia 14 de março, à força especial de bombeiros portugueses que viajou para o Chile, entre 27 de janeiro e 13 de fevereiro, para combater os fogos que assolaram o país.
O envio dos bombeiros portugueses para o Chile realizou-se no quadro da cooperação entre os dois países que se vem desenvolvendo há já alguns anos. Pode falar um pouco dos seus antecedentes?
O relacionamento entre Portugal e o Chile, no que respeita à colaboração mútua em matéria de combate a incêndios florestais, surge na sequência da integração dos designados brigadistas chilenos nas equipas próprias da Associação Complementar de Empresas do Grupo Navigator e Altri (AFOCELCA), entidade privada que há vários anos integra o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, em Portugal. Alguns destes brigadistas chilenos chegaram a estar integrados em Corpos de Bombeiros portugueses, acompanhando de perto as operações de combate a incêndios florestais.
Em 2005, ano em que foi constituída a Força Especial de Bombeiros (FEB), cujos elementos integraram a Força Nacional Portuguesa recentemente destacada para o Chile, Portugal optou por se associar ao conhecimento e à experiência dos chilenos nesta matéria, estabelecendo-se assim a primeira ponte para esta colaboração. A cooperação entre Portugal e o Chile culminou com a assinatura do Protocolo de Colaboração em Matéria de Extinção de Incêndios Florestais entre o antigo Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil e a Corporação Nacional Florestal (CONAF).
Durante o ano de 2005 foram várias as ações de formação realizadas no sentido de dotar a FEB das técnicas dominadas pelos Chilenos e que tanto têm contribuído para o sucesso desta Força.
Infelizmente, o ano de 2006 ficou marcado pelo acidente que vitimou um bombeiro português e cinco brigadistas chilenos que se encontravam em Portugal a apoiar o combate aos incêndios daquele verão.
Recordo ainda os fatídicos sismos de 2010 no Chile, altura em que Portugal, ao abrigo do Mecanismo Comunitário de Proteção Civil, integrou a equipa de coordenação e avaliação enviada para Santiago do Chile.
Portugal respondeu, e responderá sempre, com prontidão aos pedidos de apoio internacional por entender que a solidariedade não conhece fronteiras.
Qual o significado deste apoio internacional no contexto político e social em que vivemos?
Este apoio internacional materializa o espírito de entreajuda entre Estados e contribui para a perceção de que a solidariedade e a vida humana são valores que devem sempre prevalecer. Esta é uma mensagem poderosa e extremamente importante no contexto atual, porque o humanismo e a solidariedade devem falar sempre mais alto.
Este é um exemplo de cooperação que afeta diretamente a vida de muitos bombeiros, aqui homenageados pela sua bravura. A ligação humana entre os povos é o que deve mover a ação política nestes casos?
Os bombeiros que com bravura e abnegação estiveram no Chile a combater as chamas ao lado dos seus colegas chilenos também deram um contributo para uma ligação cada vez mais estreita entre os povos de ambas as nações, o que é igualmente relevante.
Que outro tipo de aproximação se pode fomentar entre o Chile (ou a América Latina no geral) e Portugal, no âmbito da Administração Interna?
Para além do domínio da proteção civil, é importante fomentar a cooperação nos domínios da prevenção e combate à criminalidade transnacional, que constitui uma ameaça cada vez mais global.