Entrevista a André Sucena Afonso

Etiquetas: , ,
___________________________________________________________________________________

André Sucena Afonso está entre os vencedores do Prémio Científico Casa da América Latina/Banco Santander Totta 2013. Com a tese Bioecologia e padrões de movimentação de tubarões no litoral do Recife, Brasil, cujo abstract pode ser consultado aqui, André Afonso venceu o prémio na categoria de Ciências Exactas e Naturais. Segue-se uma curta entrevista concedida pelo autor à CAL:

O que o levou a escolher o comportamento dos tubarões na região de Recife, no Brasil, como tema da sua tese de doutoramento?

A problemática do surto de ataques de tubarão em Recife corresponde a um caso de estudo bastante raro no mundo inteiro devido à elevada especificidade da área de risco de ataque. Este tipo de situação gera impactos socio-económicos locais muito graves, pelo que geralmente despoleta acções governamentais de mitigação da taxa de ataque. Porém, as estratégias tradicionalmente utilizadas, por exemplo na Austrália e África do Sul, produzem impactos ambientais e ecológicos também eles graves. O que primeiro me motivou a participar no Programa de Monitorização de Tubarões de Recife foi a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de estratégias eficazes de mitigação da taxa de ataque mais inóquas para os ecossistemas marinhos. Dado que a nossa estratégia não tem como objectivo diminuir as abundâncias de tubarões, podemos assim acoplar iniciativas de marcação com equipamento tecnologicamente sofisticado que nos permite estudar a ecologia e o comportamento dessas espécies, gerando informação extremamente relevante para a optimização da estratégia de mitigação de ataque. É, portanto, uma oportunidade única para se estudar esses animais e estou bastante satisfeito por ter sido possível concluir os meus estudos de doutoramento nesta temática.

O que destaca das conclusões do seu estudo e do processo da sua elaboração?

Em termos gerais, a principal conclusão que se pode retirar do caso de estudo de Recife é que as reacções do ecossistema às pressões antrópicas podem ser totalmente imprevisíveis. O surto de ataques de Recife começou em 1992 e acreditamos estar relacionado com características ambientais específicas daquela região largamente urbanizada. As espécies de tubarão presentes naquele litoral e o seu comportamento também contribuem para um maior risco de ataque. Aprendemos que uma das espécies mais agressivas e também de maior porte, o tubarão tigre, tende a deslocar-se para Norte ao longo do nordeste brasileiro, seguindo a direcção das correntes marítimas. Este padrão poderá ser relevante pois vem corroborar uma hipótese levantada numa publicação de 2008, de que a instalação de um complexo portuário a sul de Recife poderia ter contribuído para o surto de ataques caso os tubarões em questão migrassem para norte, dado que o aumento do trânsito marítimo poderia atraír os mesmos para aquele litoral. Após oito anos de dados aprendemos já bastantes coisas, porém este tipo de projecto necessita de muito tempo, na ordem das décadas, para chegar a conclusões verdadeiramente robustas. Quanto à elaboração, posso dizer que foi muito gratificante poder trabalhar e contribuir para a resolução de uma temática tão sensível e ter interagido directamente com todos os protagonistas da problemática dos ataques de Recife: os tubarões, a população, as instituições científicas e socio-educativas, e os decisores políticos.

Que importância tem o Prémio Científico CAL/Banco Santander para a prossecução do seu percurso profissional?

Sem dúvida que o Prémio Científico CAL/Banco Santander me ajudará a atingir os meus próximos objectivos profissionais. Recentemente consegui uma colocação de pós-doutoramento ao abrigo do programa brasileiro Ciências sem Fronteiras e tenciono prosseguir os meus estudos com tubarão tigre no Arquipélago de Fernando de Noronha durante os próximos anos. Este prémio poderá atribuir uma maior visibilidade ao meu trabalho e contribuir para que o mesmo tenha um maior impacto. Apesar de ser um percurso profissional um quanto arriscado, gostaria de continuar a fazer investigação com animais marinhos no médio prazo e creio que este prémio será muito útil para esse fim.

Partilhe: