Foram necessárias duas décadas para concluir as negociações entre o Mercosul
e a União Europeia. O Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai eram (e ainda
são) uma excepção no continente latino-americano. Esta excepção não é obra do
acaso, mas, à primeira vista, não deixava de ser estranho que a maior economia
da América Latina – o Brasil – e que um dos países com ligações históricas e
culturais mais profundas com a Europa – a Argentina – fossem dos últimos
resistentes, num espaço que vai de El Paso à Patagónia, à abertura ao comércio
com a Europa.
Não nos enganemos: o Brasil e a Argentina são donos e senhores do Mercosul.
No caso da Europa, mesmo nos tempos da velha Comunidade Económica Europeia
(CEE) a seis, existia uma lógica de equilíbrio em duas dimensões. Por um lado,
a contraposição entre grandes Estados – França, República Federal da Alemanha
(RFA) e Itália – e pequenos Estados – Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Por outro
lado, as complementaridades entre os dois gigantes: França como potência
política e com um sector agrícola muito forte; e a RFA como anão político, mas
com uma economia altamente industrializada. A Guerra Fria também dividia a
Europa geográfica e fomentava um alto nível de investimento norte-americano
para manter a coesão do Ocidente.
No Mercosul, nunca se deram as circunstâncias que proporcionaram a
construção europeia. Foram dois os (débeis) estímulos à criação de uma
tentativa de mercado comum no Cone Sul: o regresso da democracia liberal à
região, no final dos anos 80, e o bom marketing do exemplo europeu no contexto
de fim da Guerra Fria. As economias argentina e brasileira, fruto de
caractarísticas e circunstâncias, são proteccionistas e, mais do que
complementares, concorrentes entre si. A posição mais periférica da América do
Sul e a ausência de uma rede de países com elevada densidade populacional e um
potencial de integração económica forte (como na Europa) levantaram as
restantes barreiras ao projecto regional.
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