“Mateluna” e o papel do teatro político na Capital Ibero-Americana da Cultura

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O dramaturgo e encenador chileno Guillermo Calderón apresentou, no Teatro Maria Matos, a segunda peça teatral da Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017.

“Mateluna” é uma obra ao serviço de uma causa pública, mas também uma reflexão poderosa sobre o papel do teatro na intervenção política, ao expor os seus desafios e limitações.

A trama conta a história de um guerrilheiro que lutou contra o regime de Pinochet, condenado a uma pena de 17 anos por um assalto a um banco no qual nega ter participado, e simultaneamente questiona a ética na violência política e os conceitos de verdade e de inspiração artística.

Para a criação de Escuela (2013), Calderón entrevistou antigos membros da resistência à ditadura chilena. Um deles, Jorge Mateluna, contou como o seu grupo foi detido num assalto a um banco em 1990, tendo sido condenado a uma pena de prisão de 14 anos. Cinco meses depois, e já após a estreia de Escuela, foi detido por outro assalto armado.

Os personagens de “Mateluna” vagueiam entre dois mundos, aquele diretamente ligado à criação artística, no qual os atores se questionam sobre a melhor abordagem a um caso que os afeta emocionalmente, e aquele em que representam episódios da vivência dos guerrilheiros, na tentativa de compreender o que motiva quem propaga atos de violência política.

Existem realmente indícios de que Jorge Mateluna foi preso com base em provas falsas, e o que parece uma simples trama que procura espelhar a realidade, torna-se num verdadeiro confronto ao sistema judicial chileno, e uma homenagem a um preso político, que enfrenta o cárcere e o eterno reggaeton (Calderón não descura o humor numa abordagem desafiante, a começar pela banda sonora) no preciso momento em que o público assiste à peça.

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