Jacobo Sanz Hermida: “O testemunho que fica para a eternidade é a antologia”
Etiquetas: Jacobo Sanz Hermida, Prémio Rainha Sofía de Poesia Iberoamericana
___________________________________________________________________________________Jacobo Sanz Hermida, diretor de edições da Universidade de Salamanca, estamos aqui pela ocasião do lançamento da antologia “El Exceso Más Perfecto” de Ana Luísa Amaral, que foi a vencedora da última edição do Prémio Rainha Sofia. Já são 30 antologias, 30 anos, e o Jacobo está por trás desta organização de antologias, e sei que organizou a antologia de uma outra poeta portuguesa que também ganhou este prémio, certo?
Exatamente! Foi Sophia de Mello Breyner, no ano 2003. Curiosamente, foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Rainha Sofia e também foi a primeira portuguesa, a primeira poeta portuguesa. Foi uma época muito importante. Naquela altura a Sophia já estava um pouco doente e infelizmente, passados poucos anos, faleceu. Mas eu acho que o Prémio Rainha Sofia não só é importante no âmbito da língua espanhola, mas como é um prémio de característica ibero-americana, a importância dos poetas portugueses é notável.
Sabemos que, até agora, são 3 os poetas portugueses que ganharam este prémio: a Sophia de Mello Breyner, o Nuno Júdice e a Ana Luísa Amaral. Portugal está bem representado.
Eu acho que sim. Também está João Cabral de Melo, brasileiro, mas também é língua portuguesa, e fazendo a comparação com o resto dos países, só Espanha tem 13 poetas. Mas depois Portugal tem um empate técnico com o Uruguai e com Chile. Uruguai, Chile e Portugal têm 3 poetas premiados.
Queria precisamente perguntar-lhe sobre os poetas do universo latino-americano que também ganharam este prémio. Quer falar-nos sobre eles?
Sim, realmente é uma coisa importante. A maior parte dos poetas são poetas consagrados, já da sua própria produção poética. Grande parte deles, dos 30 premiados, 10 tiveram nos anos seguintes o Prémio Cervantes de Literatura, que é o melhor prémio que existe nas letras hispânicas para um escritor, seja poesia ou prosa. E entre eles, não foram só poetas de língua castelhana ou língua espanhola, mas também alguns bilingues, é o caso de Pere Gimferrer, que é um poeta que escreve em catalão e espanhol, e também Joan Margarit, que também é um poeta bilingue, catalão, mas que também tem produção espanhola. Depois temos desde Antonio Colinas, poetas tão importantes como Raúl Zurita, chileno, que foi premiado o ano passado. Poetas como Ida Vitale, também uma grande mulher, a lista é imensa. Trinta anos já é muito tempo.
Então qual é que acha que é o rasto na importância da poesia iberoamericana que este prémio deixa? E também o rasto do lançamento destas antologias. Porque o prémio é um acontecimento que depois se traduz na entrega física – os vencedores vão a Espanha e recebem o prémio das mãos da rainha -, mas depois fica um objeto como recordação. O que lhe pergunto é, olhando para trás, e se pensarmos nestes 30 anos, o que é que fica, qual é o rasto, a importância desta produção literária que nasce do Prémio Rainha Sofia?
Eu acho que é importante falar um bocadinho da história. O prémio nasceu no ano 1992, e a partir desse momento existem 3 coisas que ficam associadas ao prémio: a entrega do prémio, uma leitura poética com o poeta e com outros poetas, e uma jornada de estudo em que participa o poeta vencedor e também participam investigadores, pessoas que falam da sua obra. O testemunho que fica para a eternidade é a antologia, e a antologia é feita por um especialista no âmbito da literatura, um filólogo. Essa antologia é uma importante seleção da produção do poeta no momento em que foi galardoado, e converte-se num modelo de antologia. É importante também referir que este é o maior prémio a nível económico que existe na história da poesia, não só em Espanha mas também fora de Espanha. Acho que está bem dotado economicamente e, portanto, converte-se num prémio importante, não só a nível económico mas também dum ponto de vista de fama, o nome que dará ao poeta.
Uma vez que a obra dos poetas premiados fica depois guardada num objeto que é uma antologia, em que medida é que a poesia deles tem depois mais acesso à academia espanhola?
Sim, exatamente. Porque, primeiro, acho que se revaloriza a própria produção do poeta. Há pessoas que estão à espera de quem vai ser o próximo poeta vencedor para obter essa antologia e, portanto, deste ponto de vista académico é uma obra importante. Mas também do ponto de vista literário, do ponto de vista de divulgação, do ponto de vista de pessoas que gostam de poesia, que gostam de ler poesia, e que têm este instrumento, esta antologia, e que às vezes encontram poetas desconhecidos. Porque estamos a falar de poetas muito importantes mas que por vezes não são conhecidos. Por exemplo, no caso de Portugal com Espanha, há poetas portugueses que não são conhecidos em Espanha. A partir destas antologias, que são antologias bilingues, há pessoas que começam a conhecer a produção poética de um poeta que não é conhecido em Espanha, ou que não é conhecido para eles, portanto é importante também nesse sentido.
Nesse sentido parece-lhe que a poesia de Ana Luísa Amaral vai passar a ser mais conhecida, não só na academia espanhola mas também nos leitores de poesia?
Exatamente! Tem essa dupla projeção, das pessoas que lêem poesia mas também o âmbito académico. E evidentemente, o caso da Ana Luísa Amaral é uma poeta já consagrada nas letras portuguesas e também conhecida em Espanha, mas eu acho que a partir desta antologia vai ser mais conhecida em Espanha.
Entrevista realizada por Raquel Marinho