Brasil – o calor da mestiçagem
Etiquetas: Brasil, Mochilão, São Paulo, Testemunho
___________________________________________________________________________________[Testemunho de Fábio Galamba, estudante da Licenciatura em Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior (UBI), em Intercâmbio na Universidade de São Paulo (USP) promovido pelas Bolsas Santander Luso-Brasileiras]
Porventura aqueles que escrevem artigos de viagem carregam em si todo um entusiasmo vivido numa experiência que é única, e por isso muito dificilmente se consegue transmitir na íntegra o que por lá se passou. Porque como alguém dizia há uns anos atrás num reality show “só quem está lá dentro é que sabe”. Esta experiência a todos recomendo que a façam pelo menos uma vez na vida. Saiam da vossa zona de conforto.
Os meus objetivos eram claros quando escolhi a América do Sul, nomeadamente São Paulo, como destino de uma aventura que mudaria o rumo da minha vida. Procurar um ensino de qualidade que me fizesse crescer enquanto futuro profissional, e porque a oportunidade permitia-me conhecer outro continente, o que de outra forma seria difícil. Crescer enquanto pessoa obviamente, e a busca de introspeção e reflexão que sabia que me fazia falta e que assim seria possível.
“Porquê São Paulo, Fábio?! Aquilo é super perigoso!”, “É só stress, confusão! Trânsito, assaltos, favelas!”, “Porque não Londres, ou mesmo Espanha?” – Muitas foram as questões que me fizeram antes mesmo de ir, mas a minha decisão estava tomada, era o Brasil que queria conhecer. E até porque a Europa podia esperar.
Sim. É tudo isso mesmo, não há volta a dar nem a esconder. É isso e muito mais. É movimento, é selvajaria, mas também é interação entre ricos e pobres, é disparidade social, são desencontros e encontros numa realidade bem distinta da Europeia onde o que conta é viver o momento.
São Paulo é o parque Ibirapuera, patins em linha e passeios de bicicleta no jardim com piqueniques, concertos de Gilberto Gil e comemorações de Chico Buarque ao ar livre, é “soltar pipa” no Villa-Lobos, é o concerto de Marcelo D2. É o MASP (Museu de Arte de São Paulo) com espetáculos de orquestras pela modesta quantia de 10 reais (3 euros).
São Paulo é o Mercado Municipal para provar todo o tipo de fruta exótica que se faz chegar aquele conglomerado de betão, é a natureza no meio daquele centro financeiro. Não esquecer o maravilhoso sandwich de mortadela e queijo derretido com uma cerveja bem gelada, que consiste em 250g de mortadela e queijo derretido numa sandes que te vai servir de almoço por dois dias. É o famoso pastel frito de bacalhau.
Não poderei esquecer a melhor vista sobre São Paulo do maravilhoso Terraço Itália, que às quintas-feiras à tarde é gratuito, acompanhado pelo piano que toca bossa-nova.
É poder começar o fim de tarde em Vila Madalena num “boteco” bem tranquilo, ter uma excelente conversa e descortinar o que é viver em São Paulo, como pensa o paulistano, o que o faz querer continuar a viver ali, ou porque tanto deseja fugir daquele lugar. E poder terminar a noite num bar com roda de samba, com a pureza, calor e versatilidade de um excelente pagode ao vivo.
É a Rua Augusta! Talvez a rua mais insana que alguma vez vi na minha vida, desde o rockeiro, o consultor financeiro paulista, o punk, o sem-abrigo, a prostituta, o travesti, o estudante de intercâmbio, o turista, o homossexual, o rico, o pobre, tudo se passava naquela rua. Foi talvez a maior diversidade multicultural que tive alguma vez sobre o meu olhar. Era possível encontrar de tudo naquela rua, teatros, restaurantes de sushi, os famosos “botecos” onde não de podia passar a bela da “coxinha” de frango e o “chopp” gelado. Casas de diversão noturna, a bela da “balada” brasileira para todos os gostos, rock, punk, sertanejo, forró, casas de samba uma loucura ridiculamente divertida, descontraída e descomplexada de qualquer preconceito onde tudo é possível. E no final da noite, já bem de madrugada, por muito estranho que possa parecer, a noite fecha de uma forma inacreditável: – com um hotdog com todos os ingredientes que estamos habituados, “trancado” com puré de batata no final e prensando numa torradeira. Por estranho que pareça, sabia bem.
É isto e muito mais…
E cinco meses de pois em São Paulo chegava o fim do semestre, onde tudo a que me tinha proposto, tinha cumprido, em termos académicos e profissionais. Podia voltar para casa e passar mais um Natal em família, mas essa não era a minha vontade. Tinha feito muitos amigos espalhados por aí, tinha de aproveitar e fazer muitos mais. E o melhor estava para chegar. Dia 9 de Dezembro de 2014 embarquei numa viagem de dois meses e meio com uma mochila às costas. Mais de vinte lugares diferentes, Paraguai, Argentina, Uruguai, e grande parte da costa brasileira, desde São Luis do Maranhão, nordeste brasileiro, passando Alagoas, Pernambuco, Salvador da Bahia, Florianópolis…
Dias únicos, dias maravilhosos, uma experiência que recomendo a qualquer um.
Procurem o estímulo da viagem, e encontrem-se a vocês mesmos, encontrem-se por Terras de Vera Cruz.