Pedro Serra: “Este prémio tem um efeito catalisador no interesse não só de leitores, mas também de muitas editoras”

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Pedro Serra, professor catedrático da Universidade de Salamanca, responsável pelos estudos portugueses e brasileiros e também antologiador desta antologia “El Exceso Más Perfecto” da Ana Luísa Amaral, vencedora do último Prémio Rainha Sofia. Como é que foi este trabalho de preparação da antologia?

Foi um trabalho intenso, e é sempre um trabalho intenso porque faz parte, digamos assim, do prémio que, mais ou menos, é anunciado no final de maio e depois algum professor da Universidade de Salamanca tem de enfrentar o trabalho de antologia, o estudo introdutório, eventualmente a tradução, que é o caso do “El Exceso Más Perfecto”, a partir de, mais ou menos, o início do mês de julho e depois no mês de setembro já tem de estar feito.

Qual é que foi o critério? Trabalhou com a Ana Luísa Amaral nesta escolha dos poemas, foi uma escolha sua? Como é que selecionou? Porque a Ana Luísa tem uma grande produção, uma grande obra publicada.

Exatamente. Tem uma grande produção e tenho de dizer que ela foi muito generosa e deixou-me escolher os poemas, e isso para mim era importante. Já no caso do passado, quando foi o prémio do Nuno Júdice, foi a mesma coisa, porque realmente isso facilita, na medida em que pude fazer uma releitura de toda a obra completa e, em função dessa leitura, ter algumas intuições novas sobre a poesia. Isso, obviamente, é uma ajuda depois, quando é preciso escrever o estudo introdutório.

Para quem não conhece ou possa querer pegar nesta antologia, se pegarmos no início e formos até ao fim, encontramos uma viagem pela produção poética da Ana Luísa Amaral também temporal, ou não foi assim que organizou?

A organização não é realmente temporal, e também não é necessariamente temática. Está organizada em sete secções, e essas sete secções funcionam, digamos, como habitações, a sugestão foi das moradas da Santa Teresa, mas não há uma relação de causa-efeito. De qualquer forma, sim, cada núcleo de poema tem vasos comunicantes, e essa também era a ideia, baralhar um pouco as cartas e dá-las outra vez.

Tem uma posição privilegiada em relação a este prémio, digamos assim, porque é um  português a viver em Espanha, que é onde este prémio é atribuído, e está numa Universidade espanhola, portanto, perto da academia. E é por isso que agora queria perguntar-lhe em que medida é que acha que este prémio, e sobretudo a organização destas antologias, contribuem para divulgar, aproximar a poesia portuguesa dos leitores e da academia espanhola?

Realmente é um prémio que, nesse sentido, tem um papel fundamental, na medida em que é um prémio que tem muita importância no âmbito da língua espanhola, é Espanha e toda a América Latina. Mas é um prémio que, por definição, inclui também Portugal, Brasil, enfim, a língua portuguesa. Mas devo dizer que, realmente, uma das questões importantes é a atenção e o foco de atenção que é colocado sobre este prémio em Espanha e, também, muitos países hispano-americanos. E, por isso, quando um premiado é de língua portuguesa, obviamente, isso também significa captar a atenção para a poesia portuguesa de uma forma que, realmente, é muito expressiva.

E sente isso na prática? Nuno Júdice foi um outro poeta galardoado com este prémio, a Sophia de Mello Breyner, e agora a Ana Luísa Amaral. São no total três portugueses. O que quero perguntar é se sente na prática, uma vez que vive lá e que até dá aulas, se há um interesse superior ao que havia antes da atribuição do prémio, pelo menos por estes autores. Sente que isso aconteça?

Bom, devo dizer que, se falamos daquilo que é o meio poético, realmente o que gostaria de dizer a este respeito é que há muitos leitores de poesia portuguesa, tanto no âmbito da criação como também da crítica. O que realmente não se pode negar é que o prémio, pelas suas características, tem, digamos assim, um efeito catalisador no interesse não só de leitores, mas também de muitas editoras que, eventualmente, se disponham a editar poesia portuguesa. E esse devo dizer que sim, que é um efeito muito positivo nesse sentido.

E como português a viver em Espanha, imagino que fique contente quando ganha um português.

Claro, com certeza! Devo dizer que fico muito contente quando ganha um português, mas também, se eventualmente fosse o caso também, se ganhasse o prémio um poeta brasileiro.

Que já ganhou, o João Cabral de Melo Neto.

Foi de resto o primeiro Prémio Rainha Sofia de língua portuguesa, foi o João Cabral de Melo Neto, em 1994.


Entrevista realizada por Raquel Marinho

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