A Revolução tecnológica e a economia

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“Como a revolução tecnológica está a transformar a economia e a sociedade do século XX”, foi tema da primeira sessão do seminário “União Europeia – América Latina: Desafios da Transformação Digital e do Conhecimento no Espaço Ibero-americano” realizado a 20 de março, na Casa da América Latina. O ex-secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos; o diretor geral da CMV Secure eSolutions e presidente da área de Inovação, Empreendimento e Internacionalização da AMETIC, Luis Fernando Álvarez-Gascón; a CEO da Heartgenetics-Genetics e Biothecnology, Ana Teresa Freitas; o diretor de Políticas Públicas da ASIET, Juan Jung; a diretora de Políticas e Assuntos Públicos da Google Brasil, Helena Martins; e o especialista em comportamento social e professor da Universidade de San Pablo CEU de Madrid e presidente do Barlovento Comonicación, Ricardo Vaca Berdayes foram os oradores, moderados pelo diretor geral da Llorente&Cuenca Portugal, Tiago Vidal.

Tiago Vidal abriu a sessão lançando a primeira questão polémica, de que forma a tecnologia poderá substituir postos de trabalho, num momento de “crescimento do empreendedorismo” e onde as “ambições mudam”, em função do paradigma económico que se estabelece.

A tecnologia, o emprego e a democracia

O Fundador da Startup Lisboa, João Vasconcelos, afirmou que estamos numa “quarta revolução industrial”, referindo as quatro fases revolucionárias que a antecederam: A primeira revolução “criou classes sociais até então inexistentes, e as cidades como elas são”; a segunda trouxe consigo a “energia elétrica, e influenciou a própria democracia, os Estados, através das telecomunicações”; a terceira, com o computador, revolucionou o próprio quotidiano humano e “deu poder a setores que antes não o tinham, como o setor financeiro”. Acrescentando que, em cada uma delas, foram destruídos, mas também criados, inúmeros postos de trabalho, João Vasconcelos vê a “quarta revolução” como uma confluência de várias tecnologias que tornam o consumidor mais atento, estimulando a “preocupação ambiental” e o investimento na “qualidade de vida” como prioridades, num tempo em que “a matéria-prima é a massa cinzenta”.

Luis Álvarez-Gascón afirmou que “as tecnologias são uma parte da cultura material. Não podemos viver sem estes dispositivos, que permitem um acesso à informação em massa”. Referiu o impacto “democratizador” da tecnologia, nomeadamente com a integração dos cidadãos através das redes sociais, salientando a importância de aproveitar “novas formas de gerar conhecimento” no espaço ibero-americano.

Aplicações da Tecnologia na Saúde

“Quantos de vós gostariam de ter uma dieta na qual pudessem comer o que mais gostam, sem engordar?”, perguntou Ana Teresa Freitas à audiência. “E quantos de vós já fez um teste de genética?” – a CEO da Heartgenetics explicou que esta ferramenta permite o “acesso aos dados mais íntimos do ser humano”, criando conhecimento a partir das informações retiradas do ADN individual, e que podem ser transformadas em aplicações personalizadas. “Esta tecnologia transforma o que se faz em laboratório, num dispositivo médico para utilização em diagnóstico e com a mesma autoridade de uma consulta normal”, continuou Ana Teresa Freitas, que pretende investir na América Latina, e que vê na partilha de uma mesma língua (português e espanhol) uma oportunidade de desenvolvimento nesta área.

A evolução dos Estados a par da evolução tecnológica

Juan Jung acredita que a “globalização digital determina o alcance dos Estados, afetando inteiramente a governança”, sendo que a “Europa e a América Latina enfrentam desafios semelhantes, apesar de em diferentes dimensões”. Explicou que a fração de conteúdos locais presentes na web na Europa corresponde a 30%, na América Latina esta taxa corresponde a 27%, face a uma monopolização norte-americana, sendo 60% dos seus conteúdos de origem local, fator que, acredita, é revelador “do muito que há a fazer em direção à superação digital dos Estados Unidos”.

A representante da Google Brasil, Helena Martins, garantiu que o objetivo principal da empresa é a “diminuição de barreiras de acesso a certos serviços”, referindo que “o sucesso da Google depende essencialmente do sucesso dos seus parceiros”. Comparando as novas tecnologias às antigas formas de transmissão de informação, Helena Martins afirmou que “os jornais já agregavam informação, publicidade, jornalistas, leitores – mas agora o acesso e a dimensão são muito maiores. Para cada real investido em publicidade, existe um retorno de 3 a 8 reais, pelo que não é necessário um investimento muito grande. Isto acontece devido à forma como o algoritmo do Google AdWords é direcionado conforme as necessidades do utilizador”. Este serviço, destaca, “não é apenas relevante para grandes empresas, mas também para negócios locais”, dando o exemplo do canal de YouTube “Porta dos Fundos”, caso de sucesso na utilização desta ferramenta.

A televisão e o poder das grandes empresas

“O que provocou a globalização foi a televisão”, afirmou Ricardo Vaca Berdayes. Em Espanha, acrescentou o especialista em comportamento social, “vemos televisão durante dois meses a cada ano. Números que, nos Estados Unidos, se transformam numa média diária de 11 horas em frente a um computador ou aparelho tecnológico”. Elencou dois exemplos fundamentais da história para comprovar o poder da tecnologia. O primeiro: a morte de Bin Laden, em maio de 2011, que foi comunicada através de um tweet. “O Twitter tem 12 anos, e a Google 20. Claramente têm feito algo melhor do que outras empresas, bem mais antigas”, comentou. O segundo: morreu recentemente a primeira pessoa vítima de atropelamento por um carro automático da Uber. “Somos alunos da tecnologia e da incerteza”, afirmou, explicando que tem confiança no ser humano para melhorar, mas mostrando dúvidas relativamente ao impacto de grandes empresas, que adquirem uma hegemonia considerável no seio das economias. “Estamos a transformar-nos em cinco companhias mundiais? Como defender as empresas locais dos gigantes mundiais?”, questionou.

Concluindo a sessão, Tiago Vidal sublinhou que “o valor está no que é humano, a tecnologia só acentua esse valor”, e que “a máquina liberta o Homem para fazer as coisas que só ele pode”. Lançou ainda uma última provocação, dizendo que “80% dos fundadores de Sillicon Valey não são americanos”.

Veja aqui os vídeos de cada uma das sessões do seminário.

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