Aldeia: O espaço que ajuda a Crescer em Família no centro da cidade

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Paula Simplício (brasileira) e Sonia Aránguiz (chilena) conheceram-se em Lisboa, cidade onde escolheram viver há cerca de três anos. A vontade e o interesse em criar um espaço que satisfizesse as suas necessidades enquanto “mães urbanas” surgiu quando, com os seus filhos, se instalaram no nosso país. Como mães imigrantes, afastadas do núcleo familiar e de amigos, era fundamental encontrar um apoio – que parecia não existir, apesar da sua procura incessante pelos espaços da cidade. Decidiram criá-lo elas próprias.

“Estávamos em casa com os nossos filhos e decidimos fazer algo que compatibilizasse essa tarefa com um outro trabalho”, explica Sonia, assistente social, que não tinha pensado enveredar pela área comercial. A possibilidade de fazerem um curso de empreendedorismo no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) abriu novas perspetivas a estas amigas. Foi durante este que o projeto Aldeia – Crescer em Família foi ganhando forma.

“É bastante evidente que, ao responder às nossas necessidades, estamos a responder também a necessidades de muitas famílias na mesma situação”, explica Paula, socióloga de formação, revelando que os primeiros três meses de trabalho, desde a abertura do espaço, têm sido uma “grande aventura” para as duas mães que se lançaram ao mundo do empreendedorismo. “Existem poucos espaços que possamos frequentar com bebés e crianças pequenas, mais ainda que contem com uma oferta cultural e educativa”, afirmou, garantindo que a Aldeia dá, finalmente, resposta a essa procura.

Atividades para todos

As atividades disponíveis para inscrição no Aldeia – Crescer em Família, são orientadas para as várias idades das crianças, desde as atividades para bebés como a dança, a pintura, o teatro e a música (de 1 a 3 anos); para as crianças entre os 4 e os 7 anos de idade temos o teatro e a capoeira. A hora do conto é uma das atividades não sujeitas a inscrição. As grávidas podem experimentar a dança do ventre, yoga e roda de canto (estas duas últimas aplicam-se também a mulheres em geral, bem como dança afro). A estas atividades fixas, acrescentam-se os inúmeros workshops. Todos os meses organizam um bazar de troca (para o qual são bem-vindos brinquedos e roupas de grávida) que promove a economia solidária, característica deste espaço.

“Existe uma série de pais que, como nós, costumam trabalhar em cafés, porque são autónomos, freelancers, ou porque conseguem trabalhar remotamente – trata-se de conciliar o tempo de trabalho com o convívio com as crianças”, afirma Sonia, salientando que o espaço está equipado com uma boa cobertura de Internet, mesas e tomadas, para que os pais possam trabalhar à vontade, enquanto as suas crianças brincam.

Mas o espaço não se limita só a famílias. Este é, afinal, um café onde todos podem entrar e participar em atividades, sendo que, para os idosos, estas incluem, por exemplo, dança e yoga. “Esperamos atrair pessoas aqui do bairro, sendo que a população idosa é considerável”, explica Sonia. É de salientar ainda a oferta da cafetaria, que vende produtos diferenciados, biológicos e naturais. “Tentamos ser o mais acessíveis possível, os nossos preços são os mais baixos do mercado”, assegura.

Este é um projeto colaborativo, que surge de várias ideias e mentes, e, por isso, “não está finalizado”, explica Paula, que arrisca ainda a dizer: “acho que, no fundo, nunca vai estar”. Estão ainda a ser postas à prova novas ideias que vão surgindo, também a partir da interação com os próprios clientes.

Uma questão cultural

“Metade dos nossos clientes são estrangeiros. Não só latino-americanos, mas também europeus. É uma coisa nova em Portugal, mas que noutros países da Europa é comum. Temos muitas clientes alemãs, por exemplo, que nos dizem que ficaram surpresas quando aqui chegaram com as crianças pequenas e procuraram espaços deste tipo e não encontraram”, garante Paula. Acredita que este facto se deve, não só ao facto de as mães estrangeiras se sentirem deslocadas num país que não é o seu, e necessitarem efetivamente deste serviço, mas também por uma questão cultural. “Alcançamos muito mais facilmente a família estrangeira que já tem este conceito de espaço formado. Por parte das pessoas do bairro, por exemplo, sentimos algum estranhamento, existe uma atitude de um certo conservadorismo”, conclui.

Apesar disso, e consoante a atividade que é organizada, estão a conseguir “atrair os vizinhos”. “Todos são bem-vindos, apesar de ser um espaço concebido para receber os bebés e crianças”, garantem as “mães” deste novo espaço lisboeta, que é, ele próprio, ainda um “bebé recém-nascido”.

O Aldeia – Crescer em Família situa-se na Calçada dos Barbadinhos, 136, em Lisboa, e está aberto de segunda a sábado, entre as 9h00 e as 13h00 e as 15h00 e as 19h00. Pode encontrar as várias atividades na página de Facebook da Aldeia.

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