“O Património e as Pessoas” em debate na CAL

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“Fazer do património um matrimónio”, foi a proposta de Luís Raposo, ex-presidente do Comité Nacional Português do Conselho Internacional de Museus (ICOM), na conferência “O Património e as Pessoas: Sustentabilidade, Desenvolvimento Social e Cultura”, organizada pela Casa da América Latina (CAL), no dia 23 de maio. Referindo-se à relação quotidiana a ter com os objetos que remetem para um passado histórico, Luís Raposo defendeu que “o museu pode ser uma interceção entre territórios e pessoas”.

O debate, sob a moderação de Gonçalo Amaro, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (UNL), teve como ponto de partida o livro da sua autoria – “Pessoas, Objetos e Sentimentos”, escrito após uma estadia de quatro anos no Chile. Foi abordada a problemática atual dos estudos do património, destacando a sua importância social nos países da América Latina e tentando vincular esses exemplos aos estudos feitos em Portugal.

Práticas sociais e património

Gonçalo Amaro realçou a importância de olhar para o património como um “organismo vivo, não estanque” e “elemento integrador da comunidade”. Lamentando que existam “poucos cidadãos a reivindicar o acesso à cultura”, Maria Vlachou, da associação Acesso Cultura, lembrou importância de promover as “atitudes de afinidade” por parte dos espaços, desde o preço da bilheteira até à forma como o património é comunicado ao público, e estudar quais “as barreiras de natureza social, ou mesmo intelectual” que os museus impõem aos seus visitantes.

“A quem serve o património?”, perguntou Catarina Valença Gonçalves, da Spira. A questão é recorrente na empresa que trata da conceção e produção de projetos de revitalização patrimonial. O impacto da vontade das crianças nos comportamentos das famílias em relação aos museus foi destacado pela mesma, que acredita haver “muito a aprender com os museus de Ciência”.

Políticas sociais do património

Clara Bertrand Cabral, da Comissão Nacional da UNESCO, salientou a importância do “desenvolvimento sustentável e preservação das coleções”, mas também a cooperação e o “diálogo das nações em torno do investimento na área cultural”.

Traçando as diferenças entre a América Latina e a Europa, Paulo Costa, diretor do Museu Nacional de Etnologia, atribuiu à primeira um sentimento de “comunidade” em relação à cultura que não se verifica nesta última, mais “individualista”, justificando assim certas práticas de valorização do património mais expressivas do outro lado do Atlântico.

O diretor defendeu ainda que o património tem de saber “dar resposta à globalização” e apenas “resistir à modernidade no sentido de um progresso que não comprometa a tradição”. O “medo da perda” que afirma estar na origem da conceção do próprio património deve, na sua opinião, orientar a ação dos agentes culturais.

“Inovação, experimentalismo e interação com a população” são características que Graça Filipe, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, identifica como pontos-chave para a identidade do museu atual, dando o exemplo do “Ecomuseu”. Apesar disso lamenta a falta de avanços, acreditando que “a utopia de trabalhar os objetos à medida das necessidades das pessoas está ainda no patamar da idealização”.

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