Pedro Rapoula: “As presenças portuguesa e lusófona têm uma expressão significativa”

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Aos 39 anos Pedro Rapoula vai ser o novo diretor da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), evento que inaugurou em abril a sua 29ª edição, prolongando-se até 2 de maio.

O gestor cultural português, que para além de conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Bogotá, Colômbia, foi também responsável pelo Gabinete de Relações Internacionais do Instituto das Artes de Bogotá, assumiu funções no passado dia 11 de abril.

A Casa da América Latina (CAL) falou com o novo diretor sobre as suas prioridades e expectativas relativamente ao novo cargo, que o aproxima ainda mais da cultura colombiana, e que poderá ser relevante no que toca à presença portuguesa e lusófona no país e na América Latina.

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Tem vindo a trabalhar em prol da divulgação da literatura portuguesa na Colômbia, nomeadamente com a FILBo e a Câmara Colombiana do Livro. Foi também assessor para a Cultura do ex-Presidente da República. Assumir o cargo de diretor da FILBo é um desafio no seu percurso profissional? De que forma a sua experiência anterior pode ser uma mais-valia?

É, sem dúvida, um grande desafio no meu percurso profissional. É um trabalho de grande responsabilidade que envolve um conhecimento profundo do sector editorial colombiano. Nesse sentido exige uma aprendizagem diária e uma capacidade de chegar a muitos intervenientes. Das minhas experiências anteriores trago, julgo, essa polivalência na interlocução. Saber adaptar discursos e processos parece-me uma importante mais valia nesta função. Repare que o cargo não se ocupa apenas da FILBo, mas também de feiras regionais na Colômbia, e todas as representações do país em feiras internacionais. Nesse sentido, haverá muito e diferentes processos aos quais tenho que me adaptar.

Iniciou funções esta segunda-feira, tem já definidas algumas linhas orientadoras do que vai ser o seu contributo na FILBo? Quais são as suas preocupações no momento?

Mais do que pensar em linhas orientadoras do meu contributo – e sim, já existem alguma ideias -, tenho dedicado estes dias a conhecer a Câmara Colombiana do Livro, as principais características do setor editorial e livreiro e a história da Feira do Livro de Bogotá ao longo destes 29 anos de existência. É também muito importante conhecer a equipa e dar-me a conhecer. Parecer-me-ia desajustado chegar cheio de ideias sem ter o cuidado de conhecer a instituição. Respeito muito a história e o Passado. Sem esse conhecimento seria/serei incapaz de projetar o futuro.

Acredita que a sua posição como diretor da FILBo poderá favorecer as presenças portuguesa e lusófona na mesma (que tem já uma expressão significativa)?

Refere, e bem, que as presenças portuguesa e lusófona têm uma expressão significativa, e acrescento eu, crescente. E repare que isso tem acontecido independentemente do diretor da feira, que até hoje foi sempre de nacionalidade colombiana. Ou seja, as Embaixadas de Portugal e Brasil (as únicas lusófonas presentes na Colômbia) têm percebido a importância da língua e da cultura lusófona para os colombianos, e seu desejo de conhecer mais os autores lusófonos e a sua obra. As traduções têm aumentado, os escritores têm vindo frequentemente a feiras e eventos literários um pouco por todo o país. Por isso, entendo que essa presença não precisa da minha posição como diretor da FILBo para se favorecer. Basta que as embaixadas continuem o excelente trabalho que tem sido feito e que a América Latina continue a ser estratégica para a divulgação da língua e da(s) cultura(s) lusófona(s). A Feira recebe e acolhe todas as propostas, sem exceção. E a lusofonia estará sempre no nosso radar considerando a sua dimensão e importância no mundo.

Do mesmo modo, e consequentemente, de que forma esta participação poderá favorecer as relações de Portugal com a Colômbia?

Qualquer iniciativa que dê a conhecer a cultura de um país favorece as relações entre os países. Neste caso não é diferente. Há uma muito maior curiosidade da Colômbia em relação a Portugal desde que, em 2013, o nosso país foi o convidado da feira do Livro. Na sequência dessa edição da Feira tem havido uma presença muito maior de Portugal na Colômbia, como se comprova pelo Festival de Fado, ou a presença de artistas como a Cristina Branco, a Mísia, a Katia Guerreiro ou a Susana Travassos em palcos colombianos, para lhe dar um exemplo musical. Ou as exposições de Fernanda Fragateiro, Gabriela Albergaria, Carlos Bunga e Vasco Araújo em instituições de arte. Tudo isto tem aproximado Portugal da Colômbia e vice-versa. Esperemos que esta dinâmica cultural possa continuar.

A presença lusófona na feira é uma porta para a participação em outros festivais do país, como é o caso do Festival Internacional de Poesia de Medellin ou o Hay Festival?

Sendo a FILBo um dos maiores eventos literários da América Latina, é possível que haja uma atenção especial à nossa programação. Mas cada festival é independente e cada um terá os seus critérios, os seus temas, os seus interesses. O que me parece importante destacar é que anualmente se tem vindo a traduzir e editar mais autores lusófonos na Colômbia e isso sim pode ser um critério para que os programadores olhem para a lusofonia como uma franja importante no momento de construir os seus programas.

Em 2017 celebram-se os 30 anos da feira. Qual a importância desta data?

Os 30 anos são, obviamente, uma data importante. É um momento de celebração mas é também um momento de balanço. Por isso me parece tão importante conhecer a história da feira, conhecer profundamente o que se fez nestas 29 edições que estão para trás, e entender como é que a FILBo se transformou num dos mais importantes eventos literários da América Latina. E a partir daí, pensar o que se quer fazer no futuro.

O que espera da Capital Iberoamericana da Cultura 2017 (Lisboa), nomeadamente no que respeita ao papel que terá na aproximação da América Latina a Portugal e vice-versa?

É um momento privilegiado para pensar as relações culturais entre Portugal e a América Latina, em todas as suas frentes. Até as mais incómodas que dizem respeito ao passado. A organização conta com um programador que é um dos gestores culturais que mais admiro e que é um profundo conhecedor das realidades latino-americanas. Estou seguro de que fará um trabalho extraordinário. Tratando-se de um bloco com tanta diversidade cultural é um bom momento para mostrar aos portugueses as diferenças e a riqueza cultural de cada um dos países que compõe este grupo. E há muito por conhecer. Espero, evidentemente, que a Colômbia e a sua imensa riqueza literária e editorial possam estar contempladas e bem representadas. E que os portugueses fiquem com mais vontade ainda de conhecer este país extraordinário. Só lamento não poder estar em Lisboa para aproveitar toda a programação que será certamente muito boa.

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