Hilda María Hernández: “É necessário consciencializar a população sobre a Leishmaniose”

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A investigadora cubana Hilda María Hernández, do Instituto de Medicina Pedro Kouri, em Havana, encontra-se a desenvolver um projeto no âmbito da bolsa de pós-doutoramento no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT). A bolsa atribuída pela Casa da América Latina e pela Fundação Millenium BCP permitiu à doutorada em Ciências da Saúde desenvolver um estudo intitulado “Deteção molecular de Leishmania sp. em flebotomíneos (Diptera, Psychodiae) capturados em áreas endémicas de Portugal”.

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Como surgiu a oportunidade de vir para o IHMT?

O Instituto de Medicina Tropical Pedro Kouri recebeu, através do Ministério de Saúde Pública de Cuba, a informação de que havia em Portugal uma bolsa de pós-doutoramento, no IHMT, UNL, sobre a deteção de agentes patogénicos transmitidos por artrópodes vetores. Eu candidatei-me e, em outubro de 2015, informaram-me que tinha sido selecionada. Assim, iniciei o meu estágio no IHMT, no dia 1 de fevereiro de 2016, sob a orientação da professora Maria Odete Afonso e coorientação da Professora Carla Maia, da Unidade de Ensino e Investigação em Parasitologia Médica.

Quais os pontos-chave deste trabalho de investigação?

A bolsa tem a duração de seis meses e está organizada em quatro fases: Na primeira fase do estágio, procedeu-se à aprendizagem de técnicas de manutenção de uma colónia de Phlebotomus perniciosus (Diptera, Psychodidae), criada e mantida em condições laboratoriais, no IHMT, há cerca de 20 anos. Esta espécie é uma das espécies flebotomínicas comprovadamente vetoras de Leishmania infantum em Portugal. Na segunda fase, efetuou-se a identificação morfológica de fêmeas de flebótomos (até ao nível da espécie) que foram capturadas em duas áreas endémicas de Portugal, em 2015, e durante a época de transmissão vetorial, e procedeu-se à preparação das mesmas para extração de DNA. Estou, presentemente, na terceira fase, ou seja, a efetuar técnicas de biologia molecular, nomeadamente PCR, para determinação de Leishmania nos referidos insetos, assim como a identificar as refeições sanguíneas das fêmeas alimentadas em hospedeiros vertebrados. Por último (quarta fase), irei elaborar um relatório sobre todas as atividades desenvolvidas e competências adquiridas.

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E porquê investigar a Leishmania em flebótomos vetores?

Em Cuba, até à presente data, não temos o protozoário Leishmania, mas temos a espécie flebotomínica Lutzomyia orestes, sobre a qual não se conhece a sua competência vetorial. Contudo, na América do Sul, o género Lutzomyia apresenta várias espécies vetoras de Leishmania spp. que causam diferentes tipos de leishmanioses. Assim, atendendo aos vários aspetos da atual globalização, torna-se importante, em nosso entender, que países que contenham flebótomos possam estar preparados cientificamente para detetar Leishmania nos mesmos.

Carla Maia (coorientadora), Hilda Hernández, Odete Afonso (orientadora)

Carla Maia (coorientadora), Hilda Hernández, Odete Afonso (orientadora)

O que se pode fazer para prevenir a propagação da Leishmaniose?

Em áreas endémicas, e em termos gerais, é muito importante efetuar-se os registos dos casos humanos mas também dos cães, que, em Portugal, são o principal reservatório de Leishmania infantum. Deve também identificar-se as espécies flebotomínicas das diferentes regiões e determinar as suas taxas de infeção por Leishmania, ou seja, conhecer-se os vários fatores de risco para a presença da doença, do parasita e do vetor. Áreas, ou países, potencialmente endémicos, têm que estar devidamente preparados para que possam, o mais rapidamente possível, dar uma resposta imediata e efetiva. Nas duas áreas, endémicas e potencialmente endémicas, os serviços de saúde pública e animal, assim como a população em geral, devem ter os meios e os conhecimentos sobre esta parasitose, tão dispersa e importante, mas ainda negligenciada.

Que outros trabalhos realizou na mesma área?

Eu trabalhei fundamentalmente na área das proteínas. Contudo, tenho-me interessado pela biologia molecular e estou, presentemente, a escrever um artigo científico sobre Trichomonas vaginalis, que também é um estudo efetuado com técnicas moleculares. Regresso no início de agosto e tenciono continuar a trabalhar na área das proteínas, mas também nesta área do estágio, que constitui um novo desafio.

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