Bolívia – um destino feliz

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[Testemunho de Nélia Pereira, participante na partilha de experiências “Eu fiz o Mochilão na América Latina”, promovida pela CAL na Bolsa de Turismo de Lisboa]

Bolívia – um destino feliz

Há viagens que surgem naturalmente e outras que são feitas quando há uma janela de oportunidade. Na verdade, a minha experiência de seis meses pelos caminhos do Sul foi um misto dos dois. Um ano passou desde que atravessei o oceano e cheguei ao admirável mundo novo – a América Latina.

As hipóteses eram muitas. O dedo apontou o mapa da Bolívia. Haverá forma de explicar o que me moveu? A ideia turva daquilo que me esperava e que, não será, nunca, aquilo que julgava ir lá encontrar.

Na Bolívia fui confrontada com os mais diversos cenários. Desde a pobreza extrema até à excentricidade, desde a confusão até à serenidade, desde a felicidade até ao desespero. A missão de selecionar uma imagem que representasse a cultura boliviana, os bolivianos e a experiência que tive é, provavelmente, demasiado ambiciosa. Família. Não só porque é para mim representativa da hospitalidade e genuinidade bolivianas, mas também porque me faz recordar de alguns dos melhores momentos que pude viver na Bolívia.
A Bolívia é uma nação de fortes tradições indígenas. Aos poucos, as estradas em péssimo estado de conservação, as escassas condições de manutenção dos meios de transporte, as cidades com trânsito caótico e as não exigentes condições de higiene vão dando lugar ao encantamento e os olhos começam a testemunhar a beleza de cidades coloniais ou a experiência única de cruzar durante vários dias áreas desérticas do sul do país – entre o Salar do Uyuni até ao deserto do Atacama, no vizinho Chile. O cenário formado por imensas placas de sal, vulcões, géiseres e lagoas tem a capacidade de apagar todos os efeitos colaterais que uma viagem à Bolívia possa causar.

A chegada a Potosí foi talvez dos momentos que mais me marcou em toda a viagem pela América do Sul. As ruas, casas, pessoas e principalmente a sua montanha mais famosa – o Cerro Rico, retratam a exploração e ganância da sua colonização. Embora a colonização tenha deixado marcas por toda a América Latina, a impressão que tive, durante os meus dias em Potosí, é que por lá as feridas nunca cicatrizaram…. Hoje, Potosí é uma pobre cidade da pobre Bolívia.

Em Potosí, tal como em toda a minha viagem, fui recebida de braços abertos por habitantes locais, em suas casas. A Amaia e o Vladdy são responsáveis por uma associação que apoia os meninos de famílias mais carenciadas para que tenham melhores notas e assim, por mérito, consigam atingir colégios de nível superior (leia-se, condições melhoradas). Fazia apenas 4 dias que havia deixado São Paulo (Brasil) para começar a viagem com mochila às costas pela Bolívia e… adiante. Potosí foi o lugar onde senti que deveria permanecer mais tempo e, mais do que tudo, ajudar. E assim foi. Durante alguns dias acompanhei meninos bolivianos que estão na caminhada para atingir um nível melhorado de educação e eles… Eles devolveram-me muito mais do que isso. Sorrisos, gargalhadas e (em dias especiais) – um postal com notícias de que os meus meninos estão num ótimo caminho para o sucesso, o início do ano representa para eles também o início de uma nova etapa com determinação e força de vontade, na escolinha nova!

Foi entre subidas e descidas que conheci La Paz, a capital administrativa da Bolívia. Uma cidade que pulsa, grita, protesta e mantém vivo os antigos costumes frente aos novos tempos. Sucre, a capital constitucional da Bolívia, surpreendeu-me pela positiva. Berço da história e da cultura boliviana, representa uma Bolívia melhor e mais desenvolvida.

Na Isla del Sol o tempo parece ter parado há décadas. Praticamente não tem árvores. Também não tem carros nem motas. A eletricidade ainda não chegou ali, mas alguns painéis solares providenciavam algumas horas de luz nas principais divisões da casa. Os socalcos que ocupam toda a ilha são do tempo dos incas. Impressionante, até por este lugar os incas passaram. Hoje vivem lá diversas famílias Quechuas. Fiquei hospedada na casa de uma delas. As refeições humildes eram feitas à base de quinoa e milho. Uma delícia! Dançámos, bebemos, divertimo-nos.

Lá fora, o céu era do mais estrelado que já vi. Estava num dos locais do mundo com menor poluição luminosa. Como que a reviver as noites no deserto de sal – Salar de Uyuni. Espero lembrar-me mais vezes de as procurar em Portugal. Foram mais que muitos os conselhos para – tentar – impedir que uma rapariga sozinha de mochila às costas caminhasse em direção à Bolívia. Ora porque seria perigoso demais ora porque os bolivianos não seriam muito amistosos perante viajantes. No entanto, é incrível como a minha experiência e as pessoas fantásticas que conheci me encantaram e naturalmente me comprovaram o contrário.
As mais autênticas experiências estão nas pessoas. E, estavam lá todas. As pessoas certas na hora certa no local certo. Há dias felizes. Descubram a Bolívia. Não deixem de ir. Vão!

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