Ensaio de investigador sobre o México

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[Texto de Vítor Cruz, Mestre em Sociedade, Cultura e Desenvolvimento da América Latina]

“Na internacionalização o desafio da adaptação cultural e a sua superação é a equação simples para obtenção de êxito.”

Em 2013 México foi o 2° maior fornecedor dos Estados Unidos da América, o 4° maior exportador automóvel do mundo, o 2° maior exportador de ecrãs planos, também o 2° maior exportador de frigoríficos. E poderíamos continuar a destacar lugares cimeiros que este país ocupa nas exportações mundiais. Sectores económicos muito competitivos com grande nível de exigência no que respeita aos aspectos técnicos e à disponibilidade de quadros profissionais altamente qualificados.

Contudo, o imaginário sobre o México na sociedade portuguesa e europeia, nem sempre é positivo. As notícias e os filmes (principalmente norteamericanos) encarregaram-se de ensombrecer a imagem do país. Ultimamente com grande enfoque no triste e lamentável crime, o assassinato de 43 jovens estudantes no município a norte do Estado de Guerrero (onde se encontra também a famosa cidade de Acapulco), Iguala. Uma cidade com 567,1 Km², num país com uma superfície terrestre de 1.964.375 Km². Sem descurar a gravidade da situação, não podemos afirmar que o país está à deriva, que existe uma grave crise política pela corrupção e impunidade, que aquele que era considerado o “salvador”, Peña Nieto, seja hoje um Presidente em apuros. São estes alguns dos títulos dos meios de comunicação social, europeus e portugueses, descrevendo a situação do México, alimentando uma imprensa sensacionalista, pretendendo querem vender uma imagem de perigosidade do país, tomando o todo pela parte.

Quando falamos do México ou de qualquer outro país, devemos evitar generalizar uma ou outra percepção subjetiva, pois limitam o entendimento e conhecimento. E como prova observamos o dinamismo saudável da economia deste país. Um verdadeiro “motor” que no cenário do comércio mundial se destaca pela sua atuação pujante. As notícias revelam alguma demagogia e desfocam a realidade de um país, que, na minha opinião, é na generalidade próspero, empreendedor e tem enormes qualidades.

Os mexicanos gozam de uma genuina liberdade de expressão, traduzida pelas sucessivas manifestações que ocorrem um pouco por todo país, nas principais cidades, também a comunicação social local e as redes sociais, meios onde podem exprimir o seu eventual descontentamento. As instituições governamentais funcionam. O país vive, é certo, um processo de reflexão sobre os seus problemas internos, sobre os seus conflitos, sobre os seus desafios futuros, mas não é um país inseguro para pessoas e empresas.

O México é um país grande, com uma situação geográfica que nem sempre joga a seu favor, com focos de conflito, nomeadamente na fronteira norte, rotas utilizadas pelo crime organizado para transporte de drogas desde a América do Sul, para os EUA, o maior consumidor de estupefacientes do mundo. O país tem uma das maiores metrópoles do mundo, a zona metropolitana da Cidade do México, e tal como Nova Iorque e outras cidades de grande dimensão, propiciam-se as desigualdades, conflitos e criminalidade. Existem zonas problemáticas especificas, que, como em qualquer cidade de maior dimensão, é preferivel evitar.

É redutora a ideia de que o México é mau e os EUA são bons. Há muitas realidades no México, umas são conhecidas, outras não. Exemplificando, as centenas de turistas portugueses que visitam Cancún e a Riviera Maya todos os anos ou a crescente comunidade portuguesa aí residente, que se beneficia do excelente clima de negócios que actualmente se vive no país, trazem uma visão de um México diferente, experiências positivas, únicas.

Porém, estou convicto que ainda falta percorrer um longo caminho. Em termos económicos, se olharmos para o ano de 2013, verificamos que nas importações mexicanas, Portugal significa pouco mais de 0,1% do seu total. Que não temos beneficiado, convenientemente, da “liquidez” mexicana, ao contrário de Espanha, que têm conseguido atrair investimento directo deste país, não só no sector petroleiro, mas também no investimento em estaleiros navais, banca, empresas alimentares, transportes, materiais de construção entre outros sectores. Daí a necessidade de debater estes imaginários, que muitas vezes limitam a capacidade de identificar oportunidades empresariais e de negócios e reduzem o campo de ação das empresas portuguesas. Perdemos por ignorância, pela falta de estratégia, por alarmismos sem fundamentos. Por isso ainda não podemos falar de êxito nas relações comerciais, culturais e de cooperação cientifica, académica entre os dois países.

Portugal tem potencial porque tem características culturais, idiomáticas, geográficas e económicas muito complementares ao México. Portugal pode ser a porta de entrada do México para a Europa e para África, o México pode ser para Portugal, plataforma giratória para a América Central e Sul e um posicionamento estratégico para abordagem à maior economia mundial, os EUA.

Nas relações entre os nossos dois países existem, aspectos estruturais que ainda não foram devidamente desenvolvidos. Faz todo o sentido explorar as relações bilaterais, fomentando, por exemplo, uma ligação aérea directa entre o Porto e a Cidade do México (ou Toluca). Isto porque a maioria das empresas exportadoras portuguesas para o México localizam-se no Norte de Portugal (carga aérea). Mais, a proximidade de um promissor mercado emissor de passageiros, a Galiza, os galegos são uma das maiores comunidades estrangeiras a residir no México. Para fomentar as relações culturais entre os países seria a interessante considerar a distribuição em Portugal, através de televisão por cabo, de um canal mexicano, como a Once TV ou o Canal 22, com níveis de produções com muita qualidade ou mesmo as mais comerciais como a TV Azteca ou Televisa (maior companhia de televisão de idioma espanhol do mundo), promovendo o mesmo no México com um canal português (o desmitificar de imaginários preconceituosos só se consegue através do conhecimento mútuo). Abordar, com profundidade, o papel dos expatriados e acordos na área fiscal e segurança social, é outra questão crucial e latente nesta relação entre os dois países. Os descontos salariais deduzidos no México por trabalhadores portugueses, não são transferíveis posteriormente para Portugal e vice-versa.

Ainda a justificar a viabilidade económica de uma oferta aérea entre os dois países destacamos o sector Turismo. Considerando que cerca de 10% da população mexicana tem um poder de compra alto ou muito alto, existe um potencial na emissão de turistas mexicanos para Portugal que não é explorado. Dever-se-ía desenvolver esforços na promoção de Portugal como um destino europeu diferente de férias para os mexicanos. E no México explorar o fascínio das cidades, como a Cidade do México, uma metrópole com alguns dos mais interessantes museus do mundo, o de Antropologia, também o Templo Mayor – que oferece uma visão única de três épocas diferentes da história; ruínas pré-hispânicas; a Catedral hispânica do século XVI e como símbolo da contemporaneidade e desenvolvimento, a Torre Latinoamericana, construído em 1956 e que foi o edifício mais alto da América Latina até 1972.

Estender uma ponte entre os dois países só é possível se nos concentrarmos em aspectos positivos, Portugal tem no México um aliado, um campo de oportunidades, uma pista de descolagem com capacidade de dar dimensão às empresas portuguesas. Se nos concentrarmos no México de Octávio Paz (Prémio Nobel da Literatura 1990) ou em Frida Kahlo – recordando em 2006 a sua exposição no Centro Cultural de Belém e as enormes filas para entrar, evidenciando uma visão esclarecida de determinados sectores da sociedade portuguesa. Protagonistas mundialmente conhecidos, mexicanos brilhantes, como Mário Molina (Prémio Nobel de Química 1995), nesse México onde quis viver e morrer o colombiano Gabriel Garcia Marquez!

Andar pelas ruas da Cidade do México pode parecer assustador, trânsito, intensa movimentação de pessoas, é nesse vibrar que encontramos o modelo de empreendedorismo mexicano, basicamente gente com vontade de trabalhar. A cada esquina lições de vida, pessoas que vendem tortas, quesadillas, tacos de canasta, fruta, o que é necessário encontra-se a qualquer hora! Muitas destas pessoas encontraram um equilíbrio económico nas suas vidas fazendo frente a vicissitudes, esta “riqueza” não é contabilizada na macroeconomia. A denominada economia informal, justifica-se, pois mantêm ocupado um sector populacional que tradicionalmente desfavorecido. Por isso falar de pobreza no México, é sempre relativo, desprovidos de pretensiosismo, afrontam de uma maneira criativa e talvez sustentável problemáticas que a Europa vive com intensidade, como é caso do desemprego, a exclusão social e a miserabilidade camuflada. Podemos falar de brechas entre classes sociais, desigualdades, uma realidade que os e as mexicanas vão colmatando, com o visível desenvolvimento da sua economia, com iniciativas como a dos vendedores ambulantes, com a solidariedade do seu povo. Que sempre encontram uma forma de salir adelante! E quem conhece o país sabe que há uma enorme riqueza, principalmente a vivacidade própria da sua gente que transbordam alegria, sendo uma enorme experiência assistir a algum dos seus festejos, a Independência, a Revolução, um batizado, uma festa de aniversário…

Algumas das vantagens culturais e comerciais do México para Portugal:
– Facilidade de comunicação;
– Perceptibilidade positiva de Portugal pelo facto de ser um pais europeu;
– Tratado de Livre Comércio com a União Europeia;
– Abertura económica e segurança macroeconómica;
– Oportunidades de negócio praticamente em todos os sectores num país de 122 milhões de habitantes.

Alguns imaginários equivocados sobre o México:
– Que toda a comida é picante! – o picante é opcional normalmente é agregado à comida posteriormente à sua confecção.
– Burritos e nachos con queso e chili não são gastronomia mexicana, mas sim chamada tex-mex recreações dos EUA baseados na comida mexicana.
– Que é um país pobre e inseguro – visitem o México e terão a resposta!

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