A evolução das relações entre o México e Portugal

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Texto de Alejandro Zárate, Mestre em Relações Económicas Internacionais e Cooperação e Bacharel em Administração de Negócios Internacionais.

As relações comerciais entre a América Latina e a União Europeia começaram com mais força em 1985, quando Espanha e Portugal foram admitidos como membros da União. No entanto, o aumento do comércio do México com a União Europeia veio depois do ano 2000, quando ambos assinaram um Tratado de Livre Comércio que promoveu o intercâmbio de bens e serviços.

O México é um país que em Portugal ainda é considerado exótico. Ainda assim, as relações políticas entre o México e a Europa já têm uma longa história, celebrando-se em 2014 os 150 anos de actividade diplomática: foi no dia 20 de Outubro de 1864 que se estabeleceram essas relações, só interrompidas durante 11 anos devido à Revolução Mexicana, tendo sido restabelecidas no dia 5 de Dezembro de 1929.

O México é, por isso, um velho parceiro de Portugal. No entanto, o vulgo dos portugueses ainda atribui pouca relevância ao país asteca. O tequila, os marichis, Cancun, os Maias e o piripiri continuam a ser as principais referências que os portugueses têm do México.

Por outro lado, Portugal no México também não é muito bem conhecido. As Personagens do futebol como Cristiano Ronaldo, Figo e Mourinho, o vinho do Porto, os romances de José Saramago e a história dos grandes descobridores portugueses são as primeiras ideias que vêm à memória. Não obstante, ambos os países querem concretizar o potencial das suas relações em todos os âmbitos.
O México tem uma longa história, desde a época pré-hispânica, com as culturas Olmecas, Astecas e Maias (principalmente), povos que tinham um vasto poder na Mesoamérica.

Com a chegada dos espanhóis decorreram cerca de 300 anos de colonialismo, com roubo do ouro, a destruição de templos cerimoniais e a imposição da religião católica, num sistema que escravizava os nativos. O México tem hoje algumas das cidades onde a arquitectura espanhola mais se mistura com a vanguarda mexicana, bem como com as tradições das culturas pré-hispânicas. Foi no dia 15 de Setembro de 1810 que começou a luta pela independência mexicana, que durou 21 anos e terminou com a derrota espanhola.

O país também tem sido testemunha do nascimento de grandes personalidades que têm dado grandes obras para o mundo: na cultura pode-se nomear Frida Kahlo, Diego Rivera, Octavio Paz e Carlos Fuentes.

Algo muito importante para os mexicanos são as tradições e a gastronomia. O Dia dos Mortos (primeiro e segundo dias de Novembro) é uma das datas mais relevantes e significativas para os mexicanos, com a lembrança dos seus entes queridos falecidos. Normalmente as pessoas vão aos cemitérios oferecer flores e outros presentes, inclusive as comidas que eles mais gostavam.

No dia 15 de Setembro celebra-se o Grito da Independência, em que muitos mexicanos vão para os centros das cidades e comemoram os feitos que tornaram o México um país livre.

A gastronomia mexicana é considerada uma das mais vastas do mundo, sendo Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Tem uma grande variedade, sendo o milho e o piripiri os principais ingredientes. O prato mais típico é El Mole, uma mistura de vários tipos de piripiri, bananas, chocolate, amendoins e passas, assim como os tacos, tortilhas feitas de milho ou farinha e qualquer tipo de carne.

Uma das maiores fontes de divisas estrangeiras no país é o turismo, havendo destinos paradisíacos como Cancun, Riviera Maya, Acapulco, Puerto Vallarta e Los Cabos, bem como cidades coloniais como Guanajuato, Oaxaca, San Miguel de Allende, San Cristóbal de las Casas e Queretaro. A prática do ecoturismo tem sido muito importante nos últimos anos, em estados como San Luis Potosí e Veracruz. Há também áreas metropolitanas de vanguarda, onde estão situadas sedes de algumas das maiores companhias na América Latina: a Cidade do México, com aproximadamente 20 milhões de habitantes, Guadalajara e Monterrey.

Actualmente, outro dos motores económicos no México é o sector automóvel. Um exemplo concreto dessa importância é o de que no mercado dos EUA os veículos mexicanos vendidos no primeiro trimestre de 2014 representaram 11,5% de todos os veículos ligeiros vendidos nesse país, o equivalente a um total de 428.376 unidades. Quanto aos países fornecedores dos Estados Unidos, o México teve o maior aumento na taxa de veículos vendidos, um aumento de 14,4% em relação aos veículos mexicanos que foram vendidos em 2013.

No mercado global, em 2013 o México foi o oitavo produtor de veículos do mundo. Mas no ano 2014 poderá ser diferente devido à abertura de novas fábricas no início deste ano no país asteca (informação da Associação Mexicana da Indústria Automóvel).
No âmbito econômico, o país ocupa a 14ª posição no mundo, com um PIB de 1,7% do total mundial ($1.178 bilhões de dólares). O comércio exterior representa 60% do PIB, sendo as principais exportações de derivados de petróleo, produtos manufaturados, metalurgia, mineração, automóveis, produtos agrícolas e equipamento fotográfico. É uma das economias emergentes mais importantes e está a renovar os seus esforços para se tornar um líder na região (dados do Banco Mundial e da Aliança do Pacífico).
Ainda no âmbito comercial, o país é um dos que mais Tratados de Livre Comércio têm, sendo os principais o North American Free Trade Area (NAFTA), o Tratado de Libre Comercio com a União Europeia (TLCUEM) e, mais recentemente, a Aliança do Pacífico.
O TLCUEM, como referi anteriormente, marcou a pauta inicial das relações entre o México e a União Europeia, no ano 2000. Marcou um grande avanço nas relações entre ambos os continentes e foi uma iniciativa da Europa para manter uma posição relevante na América Latina depois de os Estados Unidos reforçarem o seu poder económico na região.

Por outro lado, e continuando com as relações entre México e Portuga, foi no ano 2004, por iniciativa de diversos agentes económicos mexicanos e portugueses, que foi criada a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Mexicana (CCILM). Graças ao apoio da Embaixada do México em Portugal, as empresas portuguesas dos sectores público e privado da indústria, banca, seguros, comércio e serviços, alguns dos quais sócios fundadores da CCILM, a instituição vem-se consolidando como uma instituição firme e empreendedora.

A CCILM é uma associação sem fins lucrativos, que tem como missão principal aumentar as relações socioeconómicas, comerciais e culturais entre os empresários no México e em Portugal.

A CCILM tem por objectivos fortalecer as oportunidades que os dois países podem obter através da TLCUEM, que, apesar de ter mais de 10 anos em vigor, não vem sendo explorado como deveria.

A CCILM oferece muitas opções de serviços aos seus membros, entre os quais consultoria de negócios, divulgação de oportunidades de negócios (procurar parceiros locais, realizar reuniões de negócios, contactos de negócios, etc.), apresentação de informações sobre diferentes sectores de apoio à exportação de negócios no México, e-mails promocionais, organização de missões realizadas e promoção de seminários em ambos os mercados.

De acordo com o secretário-geral da CCILM, Carlos Farinha Ramos, as empresas portuguesas que já estão instaladas no México têm uma boa imagem e a sua tecnologia é bastante apreciada. Com isso, considera-se que as novas empresas devem tomar uma atitude empreendedora e investir no México para alcançar novos mercados.

Assim, a Câmara através do seu conselho de administração e com a ajuda de parceiros-chave, trabalha para melhorar a relação bilateral, mas mais do que isso, aperfeiçoar a situação económica dos dois países, o aumento do emprego e melhorar a qualidade de vida.
No intercâmbio comercial, depois de assinado o tratado o intercâmbio de bens e serviços registrou um aumento substancial. No ano 2000 o comércio total atingiu perto de $245,748 mil dólares e para o ano 2013 foram $482,571 mil dólares. O comércio aumentou até quase duplicar o valor.

As exportações portuguesas para o México aumentaram substancialmente. O país luso tem incrementado a sua produção de bens dos quais o México é comprador, tecnologias da informação, moldes para a indústria automóvel e infra-estrutura para a construção.
Como tudo isto, as relações económicas e comerciais entre México e Portugal ocorrem, principalmente, baseadas no quadro institucional da comunidade. Além disso, há um conjunto de instrumentos bilaterais em vigor entre eles: a Convenção para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento e o Acordo para a Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos.

No âmbito político, os anos 2013 e 2014 têm representado um grande esforço de ambos os governos: no fim do ano 2013 o Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho, visitou o México para melhorar as relações políticas e diplomáticas e procurar o aumento da cooperação no domínio da tecnologia da informação e da eficiência energética, entre outros. Em Junho deste ano, o Presidente dos Estados Unidos Mexicanos, Enrique Peña Nieto, visitou Portugal para assinalar os 150 anos das relações políticas e promover o México como país receptor de investimento estrangeiro.

Finalmente, mas não menos relevante, o âmbito cultural representa uma das maiores conexões possíveis, pois os dois Estados provêm da cultura latina. Sem dúvida, Portugal representa um país com grandes semelhanças em relação ao México, com cultura e tradições não muito distintas.

Quanto à vida empresarial, Portugal é um hub de tecnologias da informação e de energias renováveis.

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