Roberto Athayde fala da peça ‘Dona Margarida’

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No seu entender, o que faz de Dona Margarida a peça em língua portuguesa mais encenada no mundo?

A extremada flexibilidade da peça, o baixo custo e a universalidade do tema se unem para isso. O tema de abuso do poder, tratado em abstracto, que une o político ao psicológico, contagia os próprios artistas, empurrando-os para toda uma fertilidade de modificações. A peça exibe uma pegada improvisatória e tem sido feita com títulos muito diversos e com elencos que vão de um a trinta atores de ambos os sexos. Em Portugal, por exemplo, já teve vários títulos e elencos multiplicados.

A personagem da professora ditadora é atractiva porque quase todos tivemos professores assim. Baseou-se na sua experiência de aluno?

Sim, tive uma escolaridade muito penosa na adolescência e depois fiquei quatro anos fora do Brasil. A descoberta do regime militar, quando retornei, foi o estopim da peça: identifiquei a opressão no colégio com a ditadura dos nossos ‘anos de chumbo’.

Esta professora dirige-se ao público ao longo da peça. O que pode o público esperar dessas interpelações?

A ideia é dar ao público um papel na peça. Ele faz os alunos e, para isso, não precisa de fazer nada. E ao mesmo tempo fica em aberto a possibilidade de que respondam às provocações da Dona Margarida.

Esta é uma peça essencialmente cómica, ou tem mais de drama ou outro género?

O subtítulo é Monólogo Tragicômico Para Uma Mulher Impetuosa.

Porque devem os portugueses assistir a esta peça?

Porque tiveram uma história de abuso do poder muito semelhante à do Brasil. E também porque a Dona Margarida é uma sátira do ego desvairado e, neste aspecto, é universal e teve sucesso em países sem o trauma da ditadura.

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