Programadores debateram futuro das artes

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Decorreu na manhã de ontem, com organização da Casa da América Latina, um debate sobre a Internacionalização das Artes para a América LatinaNo São Luiz Teatro Municipal, onde teve lugar o encontro, juntaram-se programadores culturais, corpo diplomático, profissionais e empreendedores da área das artes, todos com o propósito de perspectivar o futuro das artes portuguesas na região latino-americana.

Na abertura do evento, a programadora cultural da CAL, Maria Xavier, salientou a oportunidade do encontro para que os vários intervenientes e assistentes travassem contacto, assim alargando a sua rede de conhecimentos. Dada a pertença de Portugal ao espaço ibero-americano, bem como os motivos históricos para que os países da América Latina sejam “potenciais consumidores de cultura portuguesa”, Maria Xavier sublinhou que Portugal “deve afirmar-se” como um membro de pleno direito daquele espaço.

O Director Geral das Artes, Samuel Rego, relativizou o papel da entidade que dirige enfatizando que “felizmente não há uma ou duas entidades que detêm o monopólio da internacionalização” das artes portuguesas. Aliás, acrescentou, “os períodos de maior criatividade das artes têm coincidido com uma maior internacionalização”.

No painel que se seguiu, Augusto Mateus, ex-ministro e sócio da Augusto Mateus & Associados, deu conta da sua perspectiva sobre o papel do Estado na área das artes, dizendo agradar-lhe “que os Estados ajudem a fazer mas façam muito menos do que noutros tempos”. Não só em contexto de crise, relevou, o Estado deve acima de tudo “criar condições para que as pessoas criem riqueza”. Uma riqueza que nas décadas vindouras passará muito, no seu entender, pela cultura e pela criatividade das indústrias culturais.

O Embaixador do Uruguai em Portugal, José Ignacio Korzeniak, lembrou que Montevideu é Capital Iberoamericana da Cultura em 2013 e que a cidade, tal como o país globalmente, tem um papel histórico de grande relevância para Portugal, pois se situava numa zona limítrofe entre os impérios espanhol e português. Foi, lembrou, de Montevideu que os últimos colonos portugueses abandonaram a América do Sul após a proclamação da independência pelo Brasil.

O director artístico do São Luiz, José Luís Ferreira, falou da sua longa experiência como responsável das relações internacionais do Teatro de São João, no Porto, para salientar que a exportação das artes é o culminar de “um processo relacional, uma relação de confiança” que deve ser estabelecida entre instituições e os seus responsáveis. Referindo-se ao Ano do Brasil em Portugal e ao Ano de Portugal no Brasil, lamentou que não tenham sido, no seu entender, criadas ligações de confiança entre entidades para além das que já existiam anteriormente. Na sua opinião, a “programação errática” e a “demonstração de força” dos responsáveis brasileiros, que tiveram uma capacidade de investimento muito superior à portuguesa, fazem com que a iniciativa tenha ficado aquém do seu potencial.

Por sua vez, o responsável do Festival Materiais Diversos, Tiago Guedes, declarou que boa parte dos artistas portugueses que conseguem internacionalizar-se, com o apoio do Estado, conseguem-no por convite directo. No seu entender, pelo contrário, “o Estado poderia ter um papel actuante, apoiando plataformas de reconhecimento” de artistas nacionais, uma estratégia inclusiva e acessível a todo o tecido artístico, onde constassem consagrados e novos.

O último interveniente do painel, Victor Costa, apresentou a plataforma Performing Arts Portugal, um repositório virtual das artes performativas em Portugal ao alcance de qualquer programador no mundo. A base de dados do site, explicou, contém os contactos de inúmeras entidades culturais portuguesas e informação detalhada sobre os projectos artísticos. O site, com que Victor Costa pretende potenciar uma rede de contactos de programadores, poderá mesmo vir a ter suporte multimédia para ajudar a que os decisores conheçam mais obras. Ainda em fase de acabamento, a plataforma é finalista do Prémio Nacional de Indústrias Criativas Super Bock/Serralves 2013 (cujo resultado será anunciado em breve).

O encontro terminou com poemas de Tiago Torres da Silva e Vinicius de Moraes na voz do jovem fadista Rodrigo Costa Félix, acompanhado por Marta Pereira da Costa (guitarra portuguesa) e Tiago Silva (viola de fado), em vésperas de digressão internacional. O disco de Rodrigo Fados de Amor, lançado em 2012, foi considerado o melhor álbum do ano pelo júri do Prémio Amália.

 

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