Revista Blimunda lembra Gabriel García Márquez

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A edição de Maio da revista Blimunda, editada e publicada em PDF pela Fundação José Saramago, inclui uma reportagem sobre Gabriel García Márquez e Cem Anos de Solidão, escrita por Raquel Ribeiro a partir de uma viagem a Aracataca. Um excerto: «O jornalista colombiano Alberto Salcedo Ramos viajou a Aracataca à procura de Macondo e publicou a aventura na Revista Soho, em 2012. Também ele tem o “seu” Macondo: sabia que se fechasse os olhos e alguém lhe lesse passagens de Cem anos de solidão (1967), “sentiria que me nomeiam os meus parentes próximos, sentiria que me conduzem através de caminhos familiares”, escreve. “Veria a Úrsula Iguarán como a personificação da minha bisavó: cegueta, indestrutível.” É assim para todos os colombianos: é impossível imaginar um mundo sem Gabo e sem Macondo, tal como é impossível imaginar esse mesmo mundo criado por ele. Em Aracataca, o povo diz a Alberto Salcedo Ramos: “Vocês querem saber quem era a tal Rebeca que comia terra? Uma senhora chamada Francisca que vivia na rua Monseñor Espejo.”»

Sobre García Márquez, que é tema de capa da Blimunda, escreveu José Saramago: «Os escritores dividem-se (imaginando que aceitem ser assim divididos…) em dois grupos: o mais reduzido, daqueles que foram capazes de rasgar à literatura novos caminhos, o mais numeroso, o dos que vão atrás e se servem desses caminhos para a sua própria viagem. É assim desde oprincípio do planeta e a (legítima?) vaidade dos autores nada pode contra as claridades da evidência. Gabriel García Márquez usou o seu engenho para abrir e consolidar a estrada do depois mal chamado realismo mágico por onde logo avançaram multidões de seguidores e, como sempre acontece, os detractores de turno. O primeiro livro seu que me veio às mãos foi Ninguém escreve ao Coronel, logo a seguir Cem Anos de Solidão e o choque que me causou foi tal que tive de parar de ler ao fim de cinquenta páginas. Necessitava pôr alguma ordem na cabeça, alguma disciplina no coração, e, sobretudo, aprender a manejar a bússola com que tinha a esperançade orientar-me nas veredas do mundo novo que se apresentava aos meus olhos. Na minha vida de leitor foram pouquíssimas as ocasiões em que uma experiência como esta se produziu. Se a palavra traumatismo pudesse ter um significado positivo, de bom grado a aplicaria ao caso. Mas, já que foi escrita, aí a deixo ficar. Espero que se entenda.»

A revista inclui também um excerto de um texto, escrito por García Márquez, sobre Portugal no tempo do PREC: «A maioria das pessoas trabalha sem horários e sem pausas, apesar de os portugueses terem os salários mais baixos da Europa. Marcam-se reuniões para altas horas da noite, os escritórios ficam de luzes acesas até de madrugada. Se algumacoisa vai dar cabo desta revolução é a conta da luz.»

O Embaixador da Colômbia em Portugal, Germán Santamaría Barragán, também escreveu para a revista sobre Gabo, relatando as suas duas experiências com o Nobel da Literatura: «Passaram os anos e muita água por debaixo da ponte. E em certas tarde luminosas de Lisboa, uma cidade tão bela que García Márquez jamais conheceu, por vezes ocorre-nos pensar que fomos uns machistas imbecis naquela ocasião na sala do cinema em Nova Iorque, porque não fomos capazes de pegar na mão de García Márquez para dizer-lhe que o amávamos, mas pelo menos, pelo que sucedeu em Paris, devemos a nossa vida ao único colombiano que será imortal, porque a sua maravilhosa obra literária continuará viva e crescerá enquanto passam mais séculos e séculos de solidão.»

A revista inclui ainda um texto sobre a exposição A Hora da Estrela, patente na Fundação Calouste Gulbenkian e que tem como tema a vida e a obra de Clarice Lispector.

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