A visita de Passos Coelho à Colômbia descrita pela imprensa

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Mercado, geografia e incentivos. Assim se fez da Colômbia o novo eldorado
Raquel Almeida Correia, em Bogotá, Público

Há já mais de uma dezena de empresas portuguesas no país e estima-se que, nos próximos anos, o investimento cresça para 800 milhões de euros. Passos Coelho está hoje na Colômbia.

Haverá pastéis de nata à venda num hotel de Bogotá, capital da Colômbia, a partir de fins de Julho. No final do Verão, arrancará um parque industrial a 40 quilómetros da cidade, que produzirá materiais de construção desenvolvidos em Portugal. E, lá para o final do ano, abrirá a primeira loja do grupo nacional Jerónimo Martins, num mercado que deverá chegar a 50 milhões de consumidores em 2015. São apenas alguns exemplos da investida de empresas portuguesas neste eldorado dos negócios, que está ávido por investimento estrangeiro. O primeiro-ministro, de visita ao país na companhia de 60 empresários lusos, dará hoje o contributo oficial a um estreitamento destas relações comerciais.

O programa de hoje, que arranca com um seminário sobre a cooperação entre Portugal e Colômbia presidido por Passos Coelho, inclui ainda a inauguração do primeiro hotel português em Bogotá, gerido pelo grupo Pestana. Luís Araújo, responsável pelo projecto, abriu ao PÚBLICO as portas desta nova unidade, que fica no ventre da zona financeira da capital, onde vivem cerca de oito milhões de pessoas. Entre arranha-céus espelhados e uma hora de ponta constante, nasceu o 13.º empreendimento do grupo na América Latina, com seis mil metros quadrados de área e 82 quartos e desenhado por arquitectos colombianos.

 

O hotel só abrirá ao público no final de Julho, incorporando, em parte, as raízes da empresa que o gere. Haverá pastéis de nata, festivais gastronómicos com comida portuguesa e muito vinho do Porto. Hoje, a inauguração contará não só com o primeiro-ministro mas também com o Presidente da República da Colômbia, Juan Manuel Santos, empossado em Agosto de 2010. É um sinal claro da importância que o Governo tem dado ao investimento directo estrangeiro. Santos faz questão de aparecer nestas cerimónias e tem estado sempre disponível para encontros com investidores portugueses.

Outra prova desta política são os benefícios concedidos às empresas que decidem explorar este mercado. O grupo Pestana, por exemplo, terá direito a uma isenção de IRC pelo período de 30 anos, o que, de acordo com Luís Araújo, vai significar “um aumento do retorno em 35%”. O turismo é uma das áreas em que o país mais se tem esforçado por captar investidores internacionais, já que regista um forte crescimento, e a oferta hoteleira que existe ainda não chega para satisfazer essa subida da procura.

Construir oportunidades

De acordo com dados da Proexport, o organismo responsável pela promoção da Colômbia no exterior, pelas exportações e pela atracção de investimento estrangeiro, a entrada de turistas no país tem aumentado a uma média de 10,3% ao ano, quando, a nível mundial, a taxa é de 3,4%. Só no ano passado, foram criados mais de três mil novos quartos de hotel nas quatro principais cidades do país, prevendo-se que atinjam um acumulado de 19 mil alojamentos até 2013. O grupo Pestana não exclui a possibilidade de repetir a experiência noutras geografias deste vasto mercado.

Há outros sectores em que a Colômbia tem oferecido regalias às empresas estrangeiras, como o das tecnologias ou das culturas agrícolas. Além disso, é um país que dá estabilidade jurídica aos investidores, que não correm o risco de ver os seus projectos cair por terra por causa de alterações legislativas, e tem taxas atractivas para as transacções financeiras. Outro factor que tem pesado na escolha deste mercado são as mais de 60 zonas francas de que dispõe. É numa delas que o grupo português Prébuild vai instalar um novo parque industrial, com um investimento de 250 milhões de dólares (o equivalente a 200 milhões de euros).

Pedro Vargas David é o rosto deste projecto. Com apenas 28 anos, chegou à Colômbia inicialmente ao serviço da Jerónimo Martins e, no começo deste ano, mudou-se para a Prébuild, que opera no sector da construção e dos serviços e tem já presença em Angola. Em Portugal, o grupo optou pelo crescimento via aquisição, tendo comprado dezenas de empresas, muitas em graves dificuldades financeiras. A estratégia no mercado colombiano será diferente. Neste parque industrial, com uma área de 29 hectares, vai erguer 11 fábricas, dedicadas à produção de materiais de madeira, cerâmica e alumínios, entre outros. A ideia é que, em território nacional, passe a ser feito o desenvolvimento destes produtos, materializados depois no exterior.

“A oportunidade é única”, disse ao PÚBLICO Pedro Vargas David, num escritório que fica apenas um piso abaixo da sede da Jerónimo Martins no país. Além dos benefícios concedidos aos projectos instalados nas zonas francas, como a isenção de impostos na importação de bens, o mercado da construção está ao rubro. “A Colômbia tem um défice de 2,5 milhões de casas e o Governo anunciou recentemente que vai abrir um concurso público para construir as cem mil casas que vai oferecer às famílias de estratos mais baixos”, explicou.

No país, onde vivem actualmente mais de 48 milhões de pessoas, as classes sociais são divididas em números, sendo o estrato um o mais baixo e o seis o mais alto. Esta classificação é utilizada de forma rotineira pelos colombianos, chegando a aparecer nas suas folhas de vencimento. É definida em função das condições das casas que a população habita, como o saneamento básico ou os materiais de construção. E foi criada, de certa forma, para promover a mobilidade social, incitando a população a subir os degraus da qualidade de vida.

Ao redor de Bogotá, há muitos bairros de estrato que percorrem as colinas. São os típicos bairros de lata, onde há ainda muito narcotráfico e pobreza. O Governo pretende convertê-los, oferecendo subsídios na compra de casas em habitação social. E a Prébuild acredita que também poderá ter um papel importante nestes projectos. O grupo está prestes a estabelecer uma parceria com um dos maiores conglomerados colombianos, cujo nome prefere não divulgar por agora.

Mais investimento

À saída de um destes bairros mais problemáticos, está uma das lojas da cadeias de supermercados que será um dos concorrentes da Jerónimo Martins na investida na Colômbia, o Surtimax, do grupo Exito (detido maioritariamente pelos franceses da Casino). O sector da distribuição tem estado sob o olhar atento de muitos gigantes internacionais, como a Carrefour e a Makro. O grupo de Alexandre Soares dos Santos preferiu não dar ao PÚBLICO mais pormenores sobre o investimento que está a fazer no país. Sabe-se, para já, que abrirá as primeiras lojas no final deste ano, com um formato adaptado, como aconteceu com a cadeia Biedronka, na Polónia, planeando investir 400 milhões de euros em três anos para se tornar um dos maiores operadores do país.

A concorrência é, em algumas áreas, um dos maiores obstáculos à entrada na Colômbia, até porque cerca de 700 grupos estrangeiros já investiram neste mercado. “É um país muito competitivo, que tem um mercado livre há mais de um século. As empresas portuguesas que decidirem explorá-lo têm de se preparar para concorrer com norte-americanos, espanhóis, franceses”, sublinhou o embaixador da Colômbia em Portugal, Germán Santamaría Barragán. E, apesar de algumas raízes comuns e da facilidade de comunicação, “não se podem esquecer que há grandes diferenças culturais entre os dois países”, acrescentou.

De acordo com dados da AICEP, há actualmente mais de uma dezena de empresas portuguesas com operação na Colômbia, grupo no qual se inclui também a Sonae Sierra e a Mota-Engil. Estima-se que o investimento estrangeiro de Portugal tenha alcançado 16,7 milhões de dólares (cerca de 13,3 milhões de euros) entre 2000 e 2011. Um número que sofrerá agora uma forte escalada, seja com os projectos da Jerónimo Martins ou da Prébuild. A Proexport acredita que, nos próximos anos, este valor possa crescer para mil milhões de dólares (o equivalente a 800 milhões de euros), o que conferirá ao território nacional a 40.ª posição no ranking mundial de investidores.

Uma das primeiras investidas neste país partiu da tecnológica TIMWE, que entrou no mercado em 2005 para depois se estender a outros países da América Latina, região que representou 72% das receitas de 281 milhões de euros geradas no ano passado. Diogo Salvi, presidente executivo do grupo, acredita que “as empresas deste ramo que não são globais ou morrem ou são adquiridas” e, por isso, sempre apostou forte na internacionalização.

Na Colômbia, a TIMWE, que trabalha no desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para telemóveis, tem estado envolvida em diversos projectos com os três maiores operadores locais: Comcel, Movistar e Tigo. Também foi contratada pelo Governo para acções de prevenção contra a pobreza, droga e violência. Em 2011, a Colômbia gerou à empresa uma facturação de 35,6 milhões de euros.

Novas pontes aéreas

A agência Proexport tem tido um papel crucial no estreitamento das relações comerciais entre os dois países. Os potenciais investidores portugueses são, de acordo com os testemunhos de algumas empresas, acompanhados desde o primeiro minuto, com direito a apoio em estudos de mercado e na criação de pontes com eventuais parceiros. María Claudia Lacouture, presidente do organismo, acredita que a missão empresarial que está na Colômbia, na companhia de Passos Coelho, vai resultar em novas oportunidades de negócio. E, face ao interesse crescente de Portugal no país, decidiu enviar uma pessoa a tempo inteiro para Lisboa, que começará a trabalhar já em Julho (ver entrevista na página seguinte).

Apesar da atenção que as empresas portuguesas estão a dar a este mercado, o reverso da medalha é muito diferente. Não há ainda empresas colombianas em território nacional. Investimento zero até aqui. Germán Santamaría Barragán, embaixador da Colômbia em Portugal, acredita que esta realidade poderá agora alterar-se, também fruto da presença do primeiro-ministro português no país. Há já negociações nesse sentido, sobretudo nas áreas do agro-alimentar, turismo e aviação, disse ao PÚBLICO.

É, aliás, neste último sector que uma eventual entrada de capitais colombianos em Portugal tem vindo a ganhar maiores contornos mediáticos. A Avianca, controlada pelo milionário colombo-brasileiro Germán Efromovich, é uma das companhias de aviação interessadas na privatização da TAP, calendarizada para este ano. A empresa, que já atingiu a fase madura na fusão com a Taca e que acaba de oficializar a entrada na aliança global de transportadoras aéreas Star Alliance, precisa de um braço forte na Europa para consolidar a posição transatlântica e já terá inclusivamente contratado os assessores financeiros para estudar o dossier da venda da companhia de aviação portuguesa.

Um dos gestores que estão na Colômbia com Passos Coelho é precisamente Fernando Pinto, o presidente da TAP. No total, são mais de 60 representantes de empresas portuguesas dos mais variados sectores (banca, farmacêutica, agro-alimentar), que, nos últimos dois dias, têm assistido a seminários sobre o país e estado em reuniões com potenciais parceiros colombianos. Passos Coelho e Juan Manuel Santos, que ontem já estiveram juntos numa cerimónia no Palácio da República Colombiana, darão hoje o aperto de mãos oficial em Bogotá.

A jornalista viajou a convite da Star Alliance

Portuguesa Prébuild investe 200 milhões de euros na Colômbia
Dírcia Lopes, Diário Económico

O grupo está a desenvolver um pólo industrial que irá receber unidades fabris ligadas à construção.

O grupo de construção e engenharia, Prébuild, vai investir 250 milhões de dólares (cerca de 198 milhões de euros) num pólo industrial nos arredores de Bogotá, capital da Colômbia, que será constituído por várias unidades fabris de produtos para a construção.

A administradora do grupo, Margarida Calvinho, revela ao Diário Económico que já foi constituída a Prébuild Colômbia, com sede na capital colombiana, onde “uma equipa está a tratar de todas as diligências inerentes ao arranque do pólo industrial, previsto para o último trimestre de 2012″.

A administradora do grupo explica que o potencial de crescimento do negócio de construção na Colômbia faz com que “este país assuma um elevado interesse estratégico para o grupo Prébuild, dada a sua especialização no fabrico de produtos para a construção”. Margarida Calvinho realça que, além do “crescimento económico, o mercado colombiano tem uma dimensão demográfica muito atractiva”.

“As indústrias do grupo exportam em média 50% da produção”, sendo que o processo de internacionalização não vai ficar por aqui. “Estamos a equacionar outros mercados como Moçambique e Norte de África”, admite Margarida Calvinho. O grupo fechou 2011 com uma facturação de cerca de 435 milhões de euros, impulsionado com o contributo da área da construção, produção cerâmica e distribuição.

Para concretizar este projecto, o grupo português contou com o apoio da Proexport, entidade colombiana encarregue da promoção do investimento estrangeiro neste país sul-americano. O pólo terá uma dimensão de 29 hectares e irá acolher 11 indústrias de produtos ligados à construção.

A Colômbia foi um dos três países que o primeiro-ministro, Passos Coelho, visitou na semana passada com o objectivo de reforçar as relações económicas com a América do Sul.

Perante o crescimento económico que está a registar, a Colômbia é um dos países que disponibiliza meios para a instalação de empresas estrangeiras. A presidente da Proexport Colômbia, Maria Claudia Lacouture, salientou recentemente ao Diário Económico que a “nossa legislação prevê vários incentivos para o sector de investimento estrangeiro que consiste na isenção do imposto de renda, que geralmente é de 33%, por um determinado período”.

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