CAL apoia peça de teatro inspirada na obra de Eduardo Galeano

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O Teatro Art’Imagem estreia o seu novo espectáculo em Lisboa
Teatro Art’Imagem/Casa da America Latina apresentam:

AS VEIAS ABERTAS DA HUMANIDADE – MEMÓRIA DE AMOR E GUERRA

Estreia e temporada no CineArte – Teatro A Barraca, Lisboa
de 31 de Maio a 3 de Junho de 2012, quinta a sábado 21h30 e domingo às 16h00

Um espectáculo teatral inspirado na obra de Eduardo Galeano, com direcção, encenação e dramaturgia de José Leitão.

Interpretação de Daniela Pêgo, Flávio Hamilton e Pedro Carvalho
Vídeo de Eduardo Morais
Sonoplastia de Carlos Adolfo
Desenho de luz de Leunam Ordep
Apoio às danças latinas de Manuela Moreira e Miguel Menezes
Apoio ao movimento de Rita Soeiro
Espaço cénico de José Lopes e José Leitão
Figurinos do Teatro Art´Imagem
Direcção de produção e fotografias de ensaios de Carina Moutinho
Fotografias do ciclorama/vídeo de Fátima Maio e José Leitão
101ª Criação do Teatro Art’Imagem (30 anos em Palco)
Co-produção: Casa da América Latina
Apoio de Teatro A Barraca
Outros apoios: Vila Galé – Hotéis; Câmara Municipal de Lisboa; Chão de Oliva/ Sintra

Dias 31 de Maio, 1 e 2 de Junho às 21h30 e dia 3 de Junho às 16h00
Local: Teatro CineArte (A Barraca) Largo de Santos, 2 – 1200-808 Lisboa
Bilheteira – reservas Teatro Art’Imagem 91 901 51 58
– Preço de Bilhetes: 10€ / 7,5€ (com desconto)

 

“AS VEIAS ABERTAS DA HUMANIDADE – MEMÓRIA DE AMOR E GUERRA” é um espectáculo baseado na obra do multifacetado escritor, jornalista e pensador uruguaio Eduardo Galeano, autor de “As Veias Abertas da América Latina”. Galeano é uma voz singular da actual literatura e do pensamento latino-americano, ainda praticamente desconhecido em Portugal onde só alguns (muito poucos) dos seus livros foram publicados, o último em Outubro de 2011: “Os Nascimentos”, o primeiro volume da sua importante trilogia “Memória do Fogo”, numa edição Livros de Areia.

Os textos escolhidos para esta peça têm por base as obras “ O Livro dos Abraços”, “ Memória do Fogo – Os Nascimentos”, “Vagamundo”, “De Pernas Para o Ar – A Escola do Mundo ao Contrário”, “O Teatro do Bem e do Mal”, “Os Espelhos – Uma História Quase Universal” e “Os Filhos dos Dias”, embora se alarguem à sua obra em geral.

Pretende esta encenação dar “consistência teatral” aos variados géneros literários utilizados por Galeano, optando por uma narrativa cénica “aparentemente” sequencial para desenvencilhar-se do “fio de Ariane discursivo” que envolve os mais de vinte textos escolhidos para chegar ao palco.

Privilegiou-se no trabalho dos actores o compromisso entre jogo dramático e oralidade, confrontando-os/dialogando com outras narrativas em cena (imagem, sons, música), num palco “em branco” e praticamente despojado de adereços e cenários, “inserindo-os” nos muitos universos em que se movem as personagens, reais e ficcionais, destes contos contados e cantados. Aqui se cruzam as pequenas histórias dos homens e mulheres comuns com a grande história dos povos e das nações, as mais desconhecidas lendas e mitos da criação da humanidade, a narrativa poética e a crua prosa da realidade, os populares chistes ou mesmo palavras de ordem, e os grandes pensamentos, do drama à comédia e à farsa, do silêncio, dos sentimentos, o espanto e o medo, as alegrias do amor e as dores das guerras, a amizade e a infâmia, a palavra dos vencidos contra a ordem e o poder dos vencedores, do mal e do bem… de nós!

Trata-se, pois, de uma espécie de ensaio cénico, uma criação teatral onde mil e uma histórias são interpretadas por uma actriz e dois actores transformados em Sherazade(s) que contam e nos falam de outros mundos, de pessoas e gentes que não têm tido voz e cujas memórias se encontram sequestradas pelos livros da historiografia oficial.

Um teatro em registo dramático-jocoso, de rir e chorar, de reflexão e interrogação, manifesto poético e de intervenção, de ver-e-olhar-o-mundo, numa homenagem à escrita, pensamento e acção de um importante autor universal e que, pela primeira vez, sobe ao palco em Portugal.

(Texto de José Leitão)

Os escritores das Américas fazem parte do espólio teatral do Art´Imagem desde que em l984 a companhia levou pela primeira vez à cena um autor argentino Osvaldo Dragún. De fala castelhano apresentamos ainda os chilenos Pablo Neruda e Luís Sepúlveda e agora o uruguaio Eduardo Galeano. Dos americanos dos Estados Unidos e de língua inglesa subiram ao palco David Mamet, Paul Auster e John Steinbeck. João das Neves, Arthur de Azevedo e Clarice Lispector são os outros autores americanos do Brasil que constam também do historial das nossas criações.

Do espectáculo:

Pensou Marcela:
– “Se a uva é feita de vinho, talvez a gente seja feita de palavras que contam o que a gente é”.

O Medo

Uma certa manhã, deram-me de presente um ratinho de laboratório branco.
Vinha dentro de uma gaiola.
Ao meio dia, abri a porta da gaiola.
Voltei para casa ao anoitecer e encontrei-o tal e qual o havia deixado.
Continuava dentro da gaiola, encostado às grades, tremendo por causa do medo da liberdade.

Venham espreitar o Mundo de Pernas para o ar
– Atenção, senhoras e senhores!
– Aproximem-se e façam favor de passar! É entrar! É entrar!
– É entrar na Escola do Mundo às avessas!
– Que comece a lanterna mágica!
– É entrar, é entrar, damas e cavalheiros!
– É entrar, é entrar!
– Venham espreitar o Mundo
– De pernas para o ar!

A Utopia

– A Utopia está lá longe, no horizonte!
Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que caminhe nunca o alcançarei
– Para que serve então a utopia?
– Para isso mesmo, para que tu e eu não deixemos de caminhar!

O Mar ou A Função da Arte

– Diana não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-a para que o descobrisse.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando a menina e o pai, depois de muito caminharem, alcançaram enfim aquelas alturas de areia, o mar estavam em frente dos seus olhos.
Era tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que Diana ficou muda de beleza.
Quando finalmente conseguiu falar, tremendo, pediu-lhe:
– Pai, ajuda-me a olhar!

SOBRE O AUTOR

Eduardo Galeano nasceu em Montevideu em 1940. Aí se iniciou no oficio de jornalista publicando desenhos e crónicas no semanário El Sol. Entre 1959 e 1963 foi chefe de redacção do semanário Marcha e director do diário Época entre 1964 e 1966. Desde 1973, e durante os anos da ditadura militar uruguaia, esteve exilado na Argentina – onde fundou e dirigiu a revista Crísis – e na costa catalã de Espanha. Em 1985 regressou a Montevideu, onde actualmente vive, caminha e escreve.

Por duas vezes foi premiado pela Casa das Américas e pelo Ministério da Cultura do Uruguai. Recebeu em 1989 o American Book Award pela trilogia Memória do Fogo. Foi o primeiro escritor galadoardo com o prémio Aloa, criado pelos editores da Dinamarca, e o Cultural Freedom Prize, outorgado pela Fundação Lannan. Em 2011 recebeu o prémio Manuel Vázquez Montalbán em Barcelona, pela sua carreira de cronista desportivo.

Publicou vários livros, entre eles, Las venas abiertas de America Latina (1971), Canción de nosotros (1975), Patas Arriba: la escuela del mundo al revés,1998, (editado no nosso país, pela Caminho, com o título “De Pernas Para o Ar – A Escola do Mundo às Avessas, em 2002), El fútbol a sol y sombra, 1995( traduzido e publicado pela Livros de Areia em 2006 com o título Futebol: Sol e Sombra), “Los Nacimientos – Memoria del Fuego”, 1982, ( publicado em Portugal em 2011 pela mesma editora com o título de “Os Nascimentos – Memória do Fogo”), Bocas del Tiempo (2004) e Espejos: Una história casi Universal (2008).

Pela Kalandraka Portugal, em 2008, foi publicado o seu conto “História da Ressurreição do Papagaio”

Já este ano, 2012, foi publicada a sua mais recente obra “Los hijos de los dias”.

«“As Veias Abertas da América Latina” do uruguaio Eduardo Galeano, passou de um modesto lugar na lista da Amazon para o primeiro, depois de Hugo Chávez ter oferecido um exemplar a Obama, e a edição hard cover, com prefácio de Isabel Allende, já se esgotou.»

Público, 20/04/2009

« (…) De um artigo de Eduardo Galeano: «Nunca foi menos democrática a economia mundial, nunca o mundo foi mais escandalosamente injusto. A desigualdade duplicou em trinta anos. Em 1960, 20% da humanidade, a parte que mais bens possuia, era trinta vezes mais rica que os 20% mais ncessitados. Em 1990, a diferença entre a prosperidade e o desamparo tinha subido para o dobro, e era de sessenta vezes. E nos extremos dos extremos, entre os ricos riquissimos e os pobres pobríssimos, o abismo torna-se mais fundo. Somando as fortunas provadas que, ano após ano, são exibidas com obscena fruição pelas páginas pornofinanceiras das revistas Forbes e Fortune, chega-se à conclusão de que 100 multimilionários dispõem atualmente da mesma riqueza que 1500 milhões de pessoas.» Creio que ao lado disto ficará bem a citação de Almeida Garrett que usei como Epígrafe de Levantado do Chão: «E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à degraça invencivel, à penuria absoluta, para produzir um rico?»

José Saramago
Cadernos de Lanzarote – IV.

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