Ciclo Grandes Escritores – 5ªfeira, 2 de fevereiro, Livraria Bulhosa (Campo Grande)

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2 de Fevereiro, Alejo Carpentier (1977), comentado por Isabel Araújo Branco (FCSH-UNL) e leitura de excertos por Carolina Belo Matias.

Sessão de abertura com Antonio Sarabia, um dos grandes escritores da moderna literatura ibero-americana, com obras publicadas em português (Tróia ao entardecer; O regresso do Paladino e A taberna da Indía) e a Professora Paula Morão, Prof. Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Directora da Área de Literaturas, Artes e Culturas, e investigadora do Centro de Estudos Comparatistas.

«Pisava eu uma terra onde milhares de homens ansiosos de liberdade acreditaram nos poderes licantrópicos de Mackandal, a ponto de essa fé colectiva produzir um milagre no dia da sua execução. […] A cada passo encontrava o real maravilhoso. Mas pensava, além disso, que essa presença e vigência do real maravilhoso não era privilégio único do Haiti, mas antes património de toda a América […]. O real americano encontra-se a cada passo na vida de homens que inscreveram datas na história do Continente e deixaram apelidos ainda hoje utilizados. […] pela virgindade da paisagem, pela formação, pela ontologia, pela presença fáustica do índio e do negro, pela Revolução que constituiu a sua recente descoberta pelas fecundas mestiçagens que propiciou, a América está muito longe de ter esgotado o seu caudal de mitologias.»
Prólogo a O reino deste mundo, de Alejo Carpentier

«Ti Noel recebeu uma bordoada na cabeça. Sem voltar a protestar, começou a subir a empinada montanha, metendo-se numa longa fila de crianças, de raparigas grávidas, de mulheres e de anciãos, que também levavam um tijolo na mão. […] Um pouco mais longe, o capelão da rainha – único de semblante claro no quadro – lia as Vidas Paralelas de Plutarco ao príncipe herdeiro, sob o olhar agradado de Henri Christophe, que passeava, seguido dos seus ministros, pelos jardins da rainha. De passagem, Sua Majestade agarrava distraidamente uma rosa branca, recém-aberta sobre os buxos que perfilavam uma coroa e uma ave fénix ao pé das alegorias de mármore.»
O reino deste mundo, de Alejo Carpentier

«Todos sabiam que a iguana verde, a borboleta noturna, o cão desconhecido, o albatroz inverosímil, eram apenas disfarces. Dotado do poder de se transformar em animal de casco, em ave, peixe ou insecto, Mackandal visitava continuamente as fazendas da Llanura […]. De metamorfose em metamorfose, o maneta estava em todo o lado, tendo recuperado a sua integridade física ao vestir trajes de animais. Com asas um dia, com guelra noutro, galopando ou rastejando, tinha-se assenhorado do curso dos rios subterrâneos, das cavernas da costa, das copas das árvores, e reinava já sobre a ilha inteira. Agora, os seus poderes eram ilimitados.»
O reino deste mundo, de Alejo Carpentier

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