Diplomacia comercial: qual tem sido a sua eficácia?

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Artigo de opinião de Luís Pacheco

No início do mês de janeiro, o Instituto Nacional de Estatística divulgou que as empresas exportadoras de bens perspetivavam um crescimento nominal de cerca de 5% das suas exportações em 2021, face ao ano passado. Apesar destes valores representarem uma recuperação do cenário vivido em 2020, caso aquelas perspetivas se confirmem, no final deste ano o valor das exportações ficará praticamente 13% abaixo do valor registado em 2019. Portanto, os efeitos negativos da pandemia irão continuar a repercutir-se nos próximos anos, embora tenhamos já todos aprendido que o prazo de validade de quaisquer previsões é muito curto.

Durante as primeiras três décadas após a integração europeia, o comércio e a política externa portuguesa orientaram-se para o reforço do papel do país na União Europeia e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Há cerca de dez anos, a crise portuguesa foi agravada por essa forte dependência do mercado europeu e pela ideia de que o comércio noutros mercados era secundário. O crescimento económico via incremento e diversificação das exportações foi então fundamental para a superação da crise, com a procura de novos destinos, principalmente na África, Ásia e América Latina.

Num ambiente cada vez mais complexo e global, as PMEs enfrentam muitos desafios no comércio internacional, encontrando dificuldades para entrar e explorar as oportunidades potenciais proporcionadas pelos diferentes mercados. Barreiras comerciais informais, diferenças culturais e institucionais atuam como barreiras intangíveis, gerando atritos. A ideia de que a atividade internacional de sucesso é apenas uma questão de estratégia de negócio clara e boa gestão é ingénua e desatualizada, uma vez que a diplomacia e os negócios andam de mãos dadas no ambiente político e económico atual altamente dinâmico. Ora, a diplomacia comercial é cada vez mais reconhecida como uma arma político-económica que pode ser usada para lidar com algumas barreiras intangíveis do comércio.

A diplomacia comercial está no centro da intersecção das relações internacionais e dos negócios internacionais, combinando as funções e os interesses do governo e das empresas. Em termos organizacionais, engloba as atividades desenvolvidas pelas missões diplomáticas, em articulação com outras entidades públicas, no sentido de interesses económicos e financeiros nacionais (principalmente privados). Neste contexto, uma forma de promoção das exportações passou pela transformação de embaixadas e consulados em “centros de negócios” para empresas, produtos e marcas portuguesas, promovendo a coordenação entre visitas oficiais e missões empresariais, e a colaboração entre ministérios e órgãos públicos. As atividades de diplomacia comercial constituíram assim um meio para os órgãos governamentais aumentarem o comércio internacional e apoiarem a economia nacional, num cenário de cortes orçamentais e crescimento interno pouco expressivo.

Mas qual será o grau de eficácia destes esforços da diplomacia comercial? Encontram-se algumas respostas num estudo realizado recentemente na Universidade Portucalense, e que será brevemente publicado no International Trade Journal. Recorrendo às estatísticas do comércio externo de 187 parceiros comerciais de Portugal, e cruzando esses dados com a presença diplomática portuguesa no exterior (e estrangeira em Portugal), os autores concluem que os esforços da diplomacia comercial parecem ter importância apenas para a promoção das exportações em países de rendimento baixo ou médio, que geralmente apresentam barreiras formais e informais às exportações mais elevadas. Estes resultados sugerem que é mais significativo estabelecer presença em países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos, pelo que a diplomacia comercial portuguesa se deve centrar em países com barreiras significativas à entrada no mercado. Parece ser difícil encontrar uma justificativa econômica para a crescente proliferação de escritórios de promoção de exportações entre os principais parceiros comerciais, sendo a resposta provavelmente exclusivamente política. Assim, os resultados do referido estudo sustentam a visão de que o padrão do comércio internacional (pelo menos Norte-Norte) é cada vez mais determinado por fatores macroeconómicos, com papel potencialmente relevante para a diplomacia comercial no comércio Norte-Sul.

Ler o artigo completo em:

Diplomacia comercial: qual tem sido a sua eficácia? – DN

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