Amilcar de Castro representado em Portugal

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Por ocasião da inauguração da exposição “Rodrigo de Castro, Vibrações da Cor e as Suas Subtilezas”, integrada no Ciclo “Diálogos com Amilcar de Castro”, a Casa da América Latina foi ao encontro da Galeria Primner no dia em que esta celebrava o seu quinto mês de existência. Esta galeria, que iniciou a sua actividade com a representação de artistas brasileiros em Portugal, com particular destaque para o concretismo e neoconcretismo, tem como objetivo construir um diálogo com artistas portugueses contemporâneos, de forma a contribuir para o diálogo transatlântico entre Portugal e Brasil, no vasto quadro ibero-americano da cultura.

Situada num dos muitos recantos lisboetas, a Galeria Primner alberga um misticismo digno do movimento neoconcreto patente nas peças reluzentes do seu interior. Chegada à Galeria, foi Isabel Costa, coordenadora do espaço, quem recebeu a Casa da América Latina. O espaço, de aproximadamente 95m², é composto por duas partes distintas, como explica a anfitriã “Neste momento, a galeria está dividida em duas exposições, que na verdade representam um diálogo entre o Amilcar e Rodrigo de Castro, pai e filho. Contudo, não é por esta ligação de sangue que o Rodrigo está aqui mas porque deu continuidade aos movimentos que o pai iniciou, com ênfase no concretismo”.

O concretismo surgiu em São Paulo – cidade onde Rodrigo de Castro vive e trabalha – na década de 50 e teve origem no manifesto concretista elaborado pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Para além de Amilcar de Castro, nomes como Lygia Clark, Helio Oticica e o poeta Ferreira Gullar tiveram um papel fundamental nos primórdios do movimento. Na europa, o concretismo era visto como uma herança do construtivismo europeu. No pós-guerra, as formas visuais que os artistas usavam mudaram totalmente, influenciadas pelas indústrias tecnológicas: começaram a usar linhas retas e formas geométricas numa procura por um certo “mundo novo”. Aliás, esta é a essência deste movimento: abandonar a subjectividade da arte e encontrar a razão, a ciência dentro da mensagem da arte. Como é fácil de perceber, o concretismo é um movimento muito ligado à arquitectura, como demonstra o caso de Brasília, construída nos anos 50 para ser a “capital do futuro”. E porque estamos a falar do movimento concretista, não poderíamos deixar de referir a importância de Max Bill, artista suíço que serviu de ponto de contacto entre o que se passava na Europa e no Brasil.

Por sua vez, o neoconcretismo nasce no Rio de Janeiro, eterna rival de São Paulo – idealizado por um grupo de artistas, com Amilcar de Castro à cabeça, que estava farto da razão, da lógica e do cientificismo, e que queriam devolver misticismo à obra de arte mas sem perder a questão das linhas retas e das formas geométricas. Assim, “o neoconcretismo reclama este encontro entre o corpo humano e a obra.”

“As esculturas presentes na galeria que têm 21 cm estão reproduzidas nas grandes praças do Brasil com dimensões imensas, que permitem que ganhem movimento, convocando a interacção das pessoas: seja passando por baixo delas, seja tê-las como ponto de encontro”, explica Isabel Costa. Este movimento também está fortemente associado aos inícios da performance arte e aos inícios da arte pública.

No que respeita à importância e ao mediatismo dado pelos portugueses a este movimento, a coordenadora da Galeria é clara “Só agora, em 2018, é que há interesse de instituições portuguesas em trazer colecções ou artistas deste período [Museu Berardo e Museu da Cidade]. Alguém interessado em arte em Portugal e que vá aos museus regularmente não tem este contacto. É importante que haja o brasil representado em Portugal num espaço de qualidade, com grandes artistas e com a garantia de uma assinatura de uma curadoria de excelência [António Pedro Mendes]. Então, montar este espaço com base na representação destes dois movimentos é algo único e inovador”.

Esta Galeria, mesmo sendo comercial, não se cinge à venda de peças, fazendo de um dos seus cavalos de batalha a divulgação da arte que contém aos curiosos que vão aparecendo “Não temos nada essa filosofia de um sítio hostil, onde a pessoa vai e não se sente bem”.

Quando confrontada com a possibilidade de trazer outros movimentos e artistas latino-americanos para a Galeria Primner, Isabel Costa deixou em aberto essa questão “Quando dizemos que partimos destes dois movimentos, queremos dizer que partimos dos artistas que os fundaram, dos que trabalham influenciados por eles. Acreditamos que hoje em dia, na arte contemporânea, há muita gente que, mesmo sem consciência, está a trabalhar sob influências de temáticas que estes movimentos começaram.”

Em relação ao feedback que têm obtido do público, a coordenadora assume que está a correr muito bem “Ultimamente, em toda a Europa e nos Estados Unidos tem havido um enorme interesse nestas décadas da arte latino americana. Estes artistas tendem a valorizar bastante.  O feedback tem sido muito positivo.”

A galeria fica no Pátio Afonso de Albuquerque, na rua atrás da Casa dos Bicos, algo que Isabel Costa não vê como uma desvantagem porque “as galerias não têm de estar obrigatoriamente no Príncipe Real, Bairro Alto ou Cais do Sodré” e este é um lugar privilegiado, mesmo no começo de Alfama” e a entrada é gratuita.

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