Gaddafi Núñez: “A forma de escrever de Galeano foi o impulso que me levou a fazer-lhe uma homenagem”

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Galeano Encendido, uma homenagem a Eduardo Galeano, é o seu quarto disco editado e o projecto musical que traz a Portugal. Como é que o escritor uruguaio entrou na sua vida?

Conheci a obra de Eduardo Galeano há, aproximadamente, dez anos. Foi pura casualidade porque recebi, de oferta, uns livros dele e, assim que comecei a lê-los, apaixonei-me pelos seus textos. A sua poesia, a sua forma de escrever, e isto foi o impulso que me levou a fazer-lhe um disco de homenagem, que depois se converteu num espectáculo musical.

O Gaddafi vive em Espanha desde 2002, país que recebeu Galeano quando este fugiu da Argentina. Coincidência?

Foi uma coincidência mas para mim é importante saber que Eduardo Galeano, quando se exilou, primeiro na Argentina e, depois, em Espanha – por causa da ditadura militar que se instalou no Uruguai – foi perto de Barcelona [cidade na qual Gaddafi vive desde 2002]. É bom saber que, de certa maneira, ambos elegemos o mesmo lugar para viver, só que, no caso de Galeano, o seu exílio foi forçado e o meu foi voluntário.

Este projeto tem uma forte componente estética, na medida em que a cenografia é bastante cuidada, desde as projecções até à iluminação. O facto de ter estudado comunicação audiovisual foi-lhe útil na conceção do espetáculo?

Sem dúvida! O facto de ter estudado comunicação audiovisual ajudou-me muito na minha carreira musical porque tento utilizar o que aprendi na hora da criação: toda a criação necessita de uma aposta em cena, uma aposta formal. Como diz Xavier Erra [director do espectáculo], “a música também entra pelos olhos” e é verdade. Então, o curso ensinou-me, num primeiro momento, a trabalhar com as câmaras, com os enquadramentos, com o que queres transmitir e isto ajuda-me muito, sobretudo na hora de apresentar a difusão do trabalho que venho fazendo porque, actualmente, com tantas ferramentas de difusão que temos através das redes sociais – os vídeos, os áudios, mas, sobretudo, o formato audiovisual, que é completamente necessário – toda a gente as utiliza.  

Como se dá o processo de transformação dos textos em canções?

O processo começou pelo carinho que tenho pelos textos de Galeano mas não foi um trabalho fácil. Musicalizar Eduardo Galeano é um trabalho complicado porque ele não escreve de uma determinada forma literária, mescla muitos géneros – prosas, versos, poesias -, então não é tão fácil musicalizá-lo como seria, por exemplo, Federico García Lorca, que escreve muito em canção, com rimas e formas, que permitem que seja mais fácil essa transformação.

A cenografia evoca o lugar de encontro entre Gaddafi e Galeano. Este lugar é mais físico ou espiritual?

Creio que ambos. Ambos porque Galeano tocou-me de perto e quando contei o meu desejo de fazer um espectáculo com estas músicas ao Xavier, ele imediatamente imaginou um lugar íntimo, um lugar que poderia ser uma varanda de uma casa, um lugar onde se pode ter uma conversação íntima e imediatamente jogou com a ideia dos tecidos brancos, que permitem que a cenografia e o espectáculos seja muito leve para poder levá-lo a muitos lugares: toda a cenografia cabe numa mala.

Acha que atuar no auditório da Casa da América Latina favorece o registo intimista do seu espectáculo?

Favorece bastante! Este é um espectáculo para teatros pequenos, que se vierem 80 a 100 pessoas é perfeito. Não é para um auditório com muitas pessoas porque há como uma aproximação que se torna mais latente quando se trabalha em espaços pequenos como este.

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