Prémio Mário Quartin Graça: Fábio Fernandes concebeu um capacete seguro e “amigo do ambiente”

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O vencedor do Prémio Mário Quartin Graça na vertente de Tecnologias e Ciências Naturais, Fábio Fernandes, defendeu a tese na Universidade de Aveiro, sobre “Análise Biomecânica de impactos com capacetes: novos materiais e geometrias”, estudando o comportamento da cortiça e avaliando a sua aplicabilidade em equipamentos de segurança pessoal, especialmente capacetes.

Como surgiu a ideia para esta tese?

Já trabalhava na área de capacetes, e já tinha feito a minha tese de mestrado no âmbito da mesma, tendo-se concentrado mais no ponto de vista da segurança (avaliar as opções, e até que ponto estas eram seguras). A partir daí, submeti uma candidatura a uma bolsa de doutoramento. Tinha esta ideia de, havendo uma margem para tornar os capacetes mais seguros, e face à procura imensa que se verifica, hoje em dia, por materiais naturais e sustentáveis, substituir os materiais sintéticos nos capacetes, por um material como a cortiça. Sendo Portugal o país que produz a maior quantidade de produtos de cortiça no mundo, esta decisão pareceu-me óbvia.

E que tipo de resultados foram alcançados?

Em termos de absorção e impacto, e mesmo de compressão, os resultados foram fantásticos. A cortiça não só é capaz de absorver mais energia do que as soluções atuais, como, após o impacto, consegue voltar à sua forma inicial. Ou seja, se houver um impacto na mesma zona, ainda consegue proteger o utilizador. Coisa que, com o capacete feito com poliéster expandido (que nós conhecemos por “esferovite”, por causa da marca) não acontece. O material deforma-se e acabou. Se houver um segundo impacto na mesma zona é a cabeça que irá absorver essa energia, e daí ocorrerem as lesões.

Imagino que tenham sido feitos muitos testes no âmbito da sua pesquisa. Que tipo de dificuldades surgiram durante este processo?

A primeira dificuldade foi decidir se a cortiça utilizada seria a natural. Quando sai da árvore, a cortiça é tratada e pode ser utilizada no seu estado natural, sendo a outra hipótese usá-la em aglomerado, triturando a matéria-prima e usando resina para a anexação dos grãos. Tornou-se óbvio que teríamos de usar o aglomerado devido à geometria do capacete. Em seguida a questão centrou-se nos tipos de aglomerados que seriam apropriados para este tipo de aplicação. Foram feitos muitos testes de aglomerados de diferentes empresas. Todos os resultados foram comparados em termos de absorção, engenharia de impacto, deformação, compressão… e os melhores foram selecionados.

Sendo Portugal o maior produtor de cortiça, a tese acaba por ter um impacto económico considerável…

Sim, a cortiça, de facto, tem um grande impacto na economia portuguesa, portanto, alargar os horizontes a mais uma aplicação seria ótimo. Para além disso, temos também produtores nacionais de capacetes, que provavelmente veriam esta ideia com bons olhos. Seria apelativo para o setor corticeiro na medida em que a aplicação pode ser feita, não só em capacetes, mas qualquer tipo de produto de uso pessoal ao qual esteja associada a necessidade de absorver um impacto.

E existem boas perspetivas para a inserção no mercado deste tipo de produtos?

Acho que sim. Hoje em dia as pessoas estão cada vez mais recetivas aos produtos com selo ecológico, “amigo do ambiente”. Outra das nossas bandeiras é o capacete seguro – ainda mais seguro do que existe até ao momento. E estes dois fatores são apelativos ao mercado.

Vai continuar a estudar neste sentido, ou quer partir em direção a novos desafios?

Em termos pessoais, quero alargar os meus horizontes a outras áreas, mas nunca esquecendo esta. Ou seja, sempre com um pé assente na cortiça, enveredar por áreas como as smart cities, o desenvolvimento de compósitos naturais… mas sempre ligado aos materiais, no sentido de procurar novas soluções ecológicas para implementar nas cidades, e do ponto de vista do utilizador.

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