Juan Luis Kuyeng: “Perder o medo de ir” para o Peru

Etiquetas: , , ,
___________________________________________________________________________________

Juan Luis Kuyeng, conselheiro económico e comercial do Peru em Portugal, despede-se do nosso país após quase quatro anos de intenso trabalho. Há mesmo quem diga que os portugueses desconheciam o Peru antes de ter chegado. De Norte a Sul, incansável a divulgar um Peru novo, um Peru moderno, Kuyeng deixa-nos agora para abraçar novos desafios.

Licenciado em Economia pela Universidade de Lima, administrador de negócios internacionais pela Associação de Exportadores e mestre em Administração e Gestão de empresas pela Universidade de Tarapacá do Chile, Kuyeng possui ainda uma especialização em finanças internacionais e logística de Comercio Internacional.

Portugal foi o país que se seguiu na sua longa carreira internacional que conta com diversas distinções no Peru e em outros países, por projectos como a Rota Exportadora e Exporta Fácil, implementando este último não só no seu país, mas também no Uruguai, Colômbia, Equador, Chile, Argentina, República Dominicana, Panamá entre outros países, em conjunto com Brasil. Antes de abrir o Escritório Comercial do Peru em Portugal, exercia o cargo de Diretor da área de Projetos da PROMPERU, instituição responsável pela promoção das exportações e turismo do Peru.

De que forma tem vindo a evoluir a relação económica entre Portugal e o Peru nos últimos anos?

Em termos de turismo, os portugueses visitaram mais o Peru, chegando a ter uma media de taxa de crescimento de 10% por ano, chegando em 2016 a 9 mil turistas portugueses. Em termos de comércio, infelizmente os esforços não foram suficientes – em 2016 o Peru exportou 22 milhões de dólares para Portugal, sendo que os principais produtos foram zinco, cobre, pota, polvo, e uvas. A balança comercial é positiva para Portugal, em 18 milhões, e espera-se que nos próximos anos, o fluxo comercial entre os dois países aumente exponencialmente.

Que tipo de oportunidades vêm as empresas portuguesas neste país da América Latina, sabendo que foi graças ao trabalho por si desenvolvido que muitas empresas foram pela primeira vez ao Peru?

As principais oportunidades comerciais que vejo para as empresas portuguesas no Peru, situam-se na área alimentar, onde ainda há muito por fazer. Para além da área alimentar, um setor muito atraente para Portugal são as energias renováveis e a construção, onde se pode crescer mais, pois é um sector em crescimento no Peru. Por último, seria bom potenciar parcerias no setor pesca, onde Portugal tem um consumo muito elevado e as empresas peruanas estão à procura de sócios estratégicos para manter o fornecimento contínuo de matérias-primas. Não posso deixar de mencionar os Superfoods onde o consumo em Portugal e em toda a União Europeia está a crescer, sendo o Peru um dos grandes fornecedores a nível mundial destes produtos.

E que oportunidades existem em Portugal para as empresas peruanas? Com o trabalho desenvolvido pelo Escritório Comercial, que dirigiu, muitos negócios se concretizaram. Quer destacar alguns?

Sendo que Portugal está na moda no setor do turismo, os grupos peruanos têm pensado investir no setor da restauração. Lembro-me que quando cheguei a Portugal só existia um restaurante, agora temos 20 e mais por abrir, com investimento 100% peruano e com parcerias com empresas portuguesas. Outros setores interessantes para fazer parcerias são o setor do vestuário e os setores franchising e publicidade, que são os principais interesses das empresas peruanas. A introdução de novos produtos que estão na moda, como a banana biológica, maca, lúcuma, pisco, romã, mais uvas, mirtilo, pota, lulas, polvo e muito mais.

Os atrativos do Peru não passam só pela estabilidade económica, mas também por aspetos como a gastronomia, a qualidade de vida, o lazer ou a natureza. Quais sãos os fatores mais relevantes na hora de escolher este país?

A estabilidade político-económica e os vários acordos internacionais que o Peru tem assinado com muitos mercados, principalmente na Ásia, são atrativos muito fortes. Com uma das maiores taxas de crescimento do PIB, uma das taxas da inflação mais baixas da região e grandes projetos avaliados pelo governo, para atrair investimento estrangeiro, faz sentido apostar pelo Peru. O Peru não está na moda há pouco tempo, muitos outros países já estão a fazer grandes negócios no meu país. É uma questão de perder o medo de ir para um pais como o Peru, que tem todas as condições para trabalhar, para além de se comer muito bem lá, algo que é também importante para os portugueses.

Durante os anos em que teve ao seu cargo a consultadoria económica e comercial do Peru em Portugal viveu com a sua família em Lisboa. Que experiências foram mais enriquecedoras pessoal ou profissionalmente? O que o faria voltar?

Conhecer um novo povo, muito afável, que tem muitas condições para ser muito mais na Europa, a qualidade de vida, a comida, as pessoas, fazem-nos ter muita vontade de voltar. Nós temos certeza que os resultados do trabalho feito em Portugal nos últimos anos, se vai notar muito rapidamente. Conhecemos muitas pessoas boas nesta experiência, e sabemos que todas essas pessoas, com as quais tivemos alguma relação, vão mudar a mentalidade de que Portugal é pequeninho, porque na verdade não é, é muito maior do que acham. Falta, por vezes, os portugueses acreditarem verdadeiramente nisso.

Foi talvez o conselheiro económico que mais de perto trabalhou com a Casa da América Latina. Há alguma experiência que recorde que queira partilhar?

Na primeira visita que fiz, quando cheguei a Portugal, foi com a CAL e fora de Lisboa – ao Porto, onde tive a hipótese de ver as grandes oportunidades de negócios que se podem fazer neste país. Não posso esquecer a estadia no hotel lindo com vista para a Ribeira e o turismo a crescer. Eu tenho uma frase que gosto de partilhar com meus amigos portugueses: “nós gostamos de fazer as coisas diferentes”, e acho que conseguimos.

Para finalizar, pode-nos contar um pouco sobre os desafios que o aguardam daqui para a frente?

O novo desafio chama-se Taiwan, faremos o mesmo e muito mais do que fizemos aqui. É uma cultura diferente, mas estou com muita ansiedade e vontade de dar a conhecer, também lá, o melhor do Peru. Só resta agradecer à doutora Manuela Júdice, Cristina Valério e toda a equipa da Casa da América Latina, por todo o apoio que demonstraram. Nós vamos embora de um grande país, mas o trabalho será continuado pela Embaixada do Peru em Portugal, onde encontrarão uma embaixadora de luxo, que mostrará mais do Peru aos portugueses.

Partilhe: